domingo, 25 de maio de 2014

O touro, os humanos e a história

Pela primeira vez em 35 anos, a Tourada de Madri foi suspensa. Isso porque três toureiros foram bastante machucados pelo animal, um deles teve sua perna perfurada e o outro a coxa e a axila. O acontecimento fez suscitar novamente os questionamentos no que se refere a prática da tourada nos dias de hoje.

Nos jornais, em seguida a narrativa da notícia, uma observação se repetiu: " As touradas fazem parte da cultura espanhola há séculos, e lotam arenas até hoje". O post de hoje não é para questionar a legitimidade dessa prática. Eu gostaria de pensar um pouco sobre esse confronto, sobre o ring formado para a luta entre o humano e o touro e quanto de história e natureza podemos retirar dessa disputa.
O toureiro é gerado - de Pablo Picasso

Tauromaquia, por Goya (1815-16)
Temos registros históricos que nos levam a saber de práticas utilizando touros ainda na Idade do Bronze  e ao longo da história por diversas regiões como Portugal, Espanha, China, Peru, México e até na Índia. O que nos mostra como a relação com esse animal que simboliza força e coragem parece ter despertado nos humanos sentimentos que os levaram a desafiar o touro em uma arena. Na Espanha há notícias dessa prática no século XII ganhando grande vulto até os dias de hoje.


Os documentos que relatam sobre as tourada no Império Romano nos permitem saber da extinção de uma raça bovina chamada Uros, participando também das lutas de gladiadores. O touro era simboliza aqui o reagente da valentia, coragem, qualidades necessárias ao nobre, cavaleiro, ao mesmo tempo em que diverte aos espectadores.

O deus Mitra matando o touro
O deus Mitra, um dos mais mais importantes da antiguidades provava sua força e poder, expressas nas esculturas, matando a um touro. Goya e Picasso representaram as touradas por diversas vezes em seus quadros. Estive a pensar sobre como essa prática se tornou interessante a políticos, como entretenimento; como fez parte da dimensão sobrenatural, no caso mitraísmo e também inspirou os artista de diferentes períodos.

O touro é retirado de seu habitat, domesticado e passa a fazer parte desses espetáculos. Antes de encerrar, gostaria de compartilhar convosco a Taurocapsia e o registro revelado no afresco de Creta, na Grécia. Tratava-se de demonstrações de agilidade humana, ao pular e dar piruetas a frente do touro. Note como o animal é representado bem maior que o saltador, parece estar em movimento de combate e se impõe de maneira indomável, valorizando a participação do homem.


Assim, percebe-se como os animais participam de dimensões artísticas, políticas, esportivas, religiosas e tantas outras esferas que formam nossa sociedade. Poderíamos contar a história de diversas civilizações a partir da relação do touro com as sociedades. Isso é uma forma de narrar o passado valorizando o que chamamos de natureza, neste caso o touro e sua interação com os humanos.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A natureza no Museu Nacional da Índia

Elefante de bronze (2000 a.C)
Na viagem que fiz a Índia, o primeiro lugar que visitei foi o Museu Nacional, em Nova Delhi. Posso relatar que foi um dos pontos altos das minhas andanças por lá. O post de hoje é para compartilhar um pouco sobre a natureza nas coleções desse importante museu, que está sob direção do que eles chamam de Serviço Arqueológico.

Antes de escrever sobre as plantas e os animais que compõem os acervos, gostaria de registrar como foi bom apreciar um estilo artístico diferente do ocidental. Ao mesmo tempo em que não parava de pensar nas conexões com o que vi na Grécia, meses atrás, especialmente a arte decorativa e os bustos, mas isso eu pretendo escrever em outro post.

O Museu Nacional da Índia apresenta 2000 anos de história em suas coleções. Há peças de osso, pedra, terracota, marfim, estuque, e você precisaria de um dia inteiro para perceber tudo com calma, mas lá fora tem tanta coisa te esperando que você fica ali por volta de 3 horas apenas.

batente de uma porta (X d.C)
As figuras de animais representam lendas, narrativas históricas, passagens religiosas ou representando divindades, marca essa das mais eloquentes na História da Índia, que nos deixa fascinados. Os elefantes compõem a adornam objetos religiosos, ao mesmo tempo em que fazem parte da própria divindade. Outras vezes, eles são representados como força de trabalho, transporte, tornando-os sagrados.
animais de bronze da cultura Harappan (2500 a.C)

Cães, vacas e bois também são representados contando o cotidiano da civilização que habitou o sub continente indiano. Leões protegem palácios, cavalos transportam os guerreiros. Os cavalos estão por toda parte, desempenhando um papel extremamente importante nesse vasto território que os grupos dominantes buscavam dominar.

figuras de bronze (2000 a.C)
As divindades representadas na coleção do Museu sempre estão acompanhadas de flores e sendo transportadas por peixes, leões, cavalos, e outros animais. Apesar de os catálogos do Serviço de Arqueologia da Índia não destacarem essa presença marcante de plantas e animais no acervo, gostaríamos de registrar que os humanos são minoria principalmente nas peças que formam as primeiras três salas, isto é, até o período medieval.

No website do Museu Nacional, as peças destacadas são todas de figuras humanas. Quis destacar isso para pensarmos como apesar da predominância de figuras animais, as ciências humanas ainda tem certa dificuldade em evidencias essa relação com as plantas e animais.

cão de bronze (2500 a.C)
A coleção do Museu, nos permite perceber como desde os primeiros registros arqueológicos as plantas e os animais são considerados importantes forças da vida no sub-continente indiano. Como transporte, alimentos, para acessar o mundo espiritual e de tantas outras formas. Essa estreita ligação entre humanos, animais e plantas presente nas peças exibidas ali nos aponta para uma sociedade que tinha consciência da importância dessa relação.

As figuras de bronze, em sua maioria, foram encontradas no Vale do Indo, ao Norte do sub continente indiano, relacionadas com a civilização harpeana, uma das mais antigas de que se tem notícia a partir dos trabalhos arqueológicos. Isso nos mostra como desde os primeiros assentamentos as plantas inspiravam os artefatos produzidos por essas civilizações, tornando-se ao longo do tempo prática recorrente nessa região.