sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Simpósio Nacional de Ciência e Meio Ambiente

Durante o Simpósio Nacional de Ciência e Meio Ambiente, que acontecerá em Anápolis entre os dias 27 a 30 de outubro, será realizada uma reunião do Grupo de Trabalho em História Ambiental da ANPUH-GO. A reunião será coordenada pela Drª Samira Perutti Moreto, da Universidade Estadual de Goiás, e representante do GT Nacional de História Ambiental da ANPUH.


Dia: 29 de Outubro

Horário: 10:00 às 12:00hs
Local: Centro Universitário de Anápolis UniEVANGELICA
Sala 316 - Bloco E
Contato: samirapm@gmail.com; sandrodutr@hotmail.com

Aproveitamos para divulgar a Mesa Redonda "Colonização, Agricultura e Meio Ambiente" 
com José Augusto Drummond (UnB), Stephen Bell (UCLA-USA), Sterling Evans (Oklahoma University - USA), Gerd Kohlhepp (Tübingen University - Alemanha) e João Klug (UFSC). 

Dia: 29 de Outubro
Horário: 19:00 às 22:00hs
Local: Centro Universitário de Anápolis UniEVANGELICA
Auditório Richard Senn

Maiores Informações:
http://mestrado.unievangelica.edu.br/sncma/2015

domingo, 11 de outubro de 2015

Elefantes e reis: uma história ambiental


O post de hoje é sobre um trabalho extraordinário de Thomas Trautmann, professor emérito da Universidade de Michigan - conhecido na Índia e mais conhecido ainda em Tamil Nadu por sua pesquisa sobre a vida e obra de Francis W. Ellis. Trata-se da análise da relação entre elefantes e reis na Índia. O texto encaminha o leitor para perceber como essa relação ajudou a preservar tanto a espécie como o ambiente. O autor diz: "O antigo reino indiano foi amarrado à floresta pela instituição do elefante de guerra", uma observação muito importante, especialmente na perspectiva sofisticada da História Ambiental.

Os reis usaram o elefante como um símbolo de poder e, por causa de seu tamanho, tornou-se um objeto de admiração e glória. Ao mesmo tempo que não era economicamente viável criá-los desde o nascimento. Apenas na idade adulta se tornariam úteis. Para domesticá-los, os reis indianos os capturavam já adultos selvagens e os treinou. Isso ajudou a preservação das florestas como foi nas florestas que os elefantes. Assim, o estudo assume uma perspectiva da história ambiental. Capturar esses animais não era uma tarefa fácil, exigindo grande mão de obra só podendo ser custeada pelos monarcas. Trautmann traça a história da relação entre elefantes e reis indianos e de outros países orientais.

Assim, o estudo conecta o papel dos elefantes na dimensão militar, política e cultural desse período, não esquecendo da relação com as florestas e seus moradores. É nesse contexto que esses humanos e as florestas foram protegidos. Em uma observação interessante, Trautmann explica como a Índia tem chegou ao número de 31 reservas florestais. Ele começa a partir de Arthasastra e passa pelo A'in Akbari (1598), onde há uma grande quantidade de informação disponível sobre esses animais, investigando citações dos relatos de viajantes europeus.

Ele cita bastante a literatura sânscrita - especialmente os épicos Ramayana e Mahabharata - que falam sobre elefantes de guerra. A história que impressiona é quando Rama pergunta de seu irmão Bharata sobre o bem-estar dos elefantes e da floresta. O elefante de guerra ideal deveria ser um macho com grandes presas, no auge de sua força e com sessenta anos de idade. Aqui entendemos que os elefantes tinham um grande valor para os reis, como consta nos versículos em sânscrito, que um elefante de 60 anos de idade estava entre os presentes mais ricos.

Os textos védicos levam a conclusão de que os elefantes se colocavam como elementos de importância religiosa. O autor ainda compara com os usos dos carros e cavalos nesse contexto de conquistas do mundo indiano antigo. 

Ele termina de maneira otimista, dizendo que "a julgar pelo aumento do número de elefantes selvagens na Índia, parece que o Estado-nação pode garantir o futuro dos elefantes". Outro poto auto as imagens que comparam elefantes de diferentes áreas. Esse livro uni a história dos reis e dos animais. Um trunfo para a biblioteca dos amantes de animais e do meio ambiente.

Fonte: www.thehindu.com

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Um olhar estrangeiro sobre minhas memórias

por Rafael Zagratzki*

Começo esse texto com o desafio de me tornar outro. O desafio de ter o olhar de um estrangeiro diante de um lugar que faz tão parte de mim. Sou um homem cujas memórias são divididas ao meio. Metade lá, metade cá. O desafio nasceu a partir do texto “Belém de Parreiras” da historiadora Moema Bacelar, colunista do Portal ORM, que falava sobre o olhar estrangeiro da cidade de Belém pelo pintor fluminense Antônio Parreiras, no início do século XX.
O texto termina com o seguinte trecho: E ao ver essas telas não posso deixar de fazer digressões e me perguntar: que lugares Parreiras pintaria hoje? Qual Belém e de que forma a deixaria registrada para ser, daqui a algum tempo, a cara de Belém das primeiras décadas do século XXI?
Pronto...foi lançado um exercício criativo. Se eu fosse um estrangeiro, ou mesmo se eu fosse Antônio Parreiras, o que eu pintaria hoje? Penso que mudamos os séculos, as tecnologias, as formas de expressão, a velocidade das informações, a liberdade e possibilidade de criar, e então imagino que eu poderia ser Parreiras e pintar a minha visão de uma nova Belém.
A principio pensei em algumas paisagens atualmente típicas, como o complexo Feliz Lusitânia, ou um túnel de mangueiras mostrando a natureza sempre exuberante, ou ainda os traços urbanos  e o caos de uma cidade cosmopolita. Talvez essa visão mais urbana seja a que mais me chame atenção, pois lembro quando cheguei a Belém, quando criança, a cidade sem tantos arranha-céus, a área da Doca de Souza Franco cujo único destaque era um grande supermercado, hoje possui uma paisagem emoldurada por grandes edifícios, que para mim, hoje representam o que é a cidade de Belém.

        
Aí comecei a pensar melhor, e constatei que, apesar de ser uma grande característica atual, essa paisagem urbana não me causa surpresa já que estamos supondo um olhar estrangeiro. Arranha-céus e caos têm em toda grande cidade (ou cidade grande – não vou me focar nas definições desses termos).
                Então pensei na natureza, e aqui não tive como separar o olhar estrangeiro do prazer de uma memória afetiva: o banho de chuva. Em minhas memórias de infância me vejo na praça Batista Campos, rodeado de verde e tomando um super banho de chuva, certas vezes intencional, certas vezes não, porém inevitável. Ainda que a chuva faça parte de uma memória afetiva mesmo assim me surpreende. Belém é o único lugar (de meu conhecimento e de minha vivência) que tem a chuva como fator cultural e determinante. A chuva decide o seu “ir e vir”. Os encontros são marcados (e desmarcados!) em função da chuva!
                Outra coisa que comecei a perceber, e para isso precisei de um afastamento, é que Belém é uma cidade colorida, seja pelas pessoas, pelo vestuário, pela arquitetura ou por elementos imateriais (paisagem, pôr-do-sol, fauna, flora, culinária, etc). Belém é colorida! Talvez quem conviva no dia-a-dia não perceba isso, mas de fato é!
                Então, após esses pensamentos, cheguei a conclusão de que, como estrangeiro, pintaria a chuva e as cores de Belém. A arquitetura e a paisagem já foram documentadas e exploradas em fotografias e outras pinturas, mesmo que o tempo dê novas características a esses elementos, esses não serão novidade e não despertarão uma nova percepção. Portando-me como tal pintor imaginário, gostaria de retratar o imaterial, o cultural, o que tem valor para o povo e o que é tão característico e que nem sempre é percebido.
                Quando digo que não é percebido, falo de uma experiência pessoal. Se pararmos para avaliar a paleta de cores do vestuário carioca, teremos brancos, pretos, cinzas, azuis claríssimos ou escuros, amarelos fracos, verde musgo ou em resumo:  cores discretas. Quando vemos nas ruas cores berrantes, pensamos logo: ih, turistas. E de fato são.
                Voltando ao foco: após definir que, como pintor estrangeiro, eu pintaria as cores e a chuva de Belém, coincidentemente, navegando pelos afluentes virtuais, achei um perfil com imagens interessantíssimas sobre a minha visão estrangeira da cidade. O perfil de Pedro Cunha Neto possui imagens muito coloridas sobre a cidade. Algumas coloridas e chuvosas. Penso que Pedro Neto conseguiu captar exatamente a minha visão “parreireana” sobre Belém.
                Perceba que as imagens que mostram as gotas de chuva em primeiro plano, mostram um padrão colorido em segundo plano, seja pelo vestuário ou arquitetura.


Essa é parte da minha admiração estrangeira para o dia-a-dia paraense.  Em outros estados e em outras culturas, a chuva seria convidativa ao preto, ao cinza, a tons muito mais fechados.
Desviando um pouco da chuva e me direcionando mais para um objeto, devemos parar para pensar no Guarda-chuva como objeto coringa em uma cidade onde o sol e a chuva convivem de forma tão harmoniosa. No momento da chuva ele se chama guarda-chuva, no momento do sol extremo, ele se chama “sombrinha”, no entanto é sempre o mesmo objeto. E o que ele tem em comum nesses dois momentos? Eles são coloridos! Rosas, vermelhos, azuis, pequenos ou grandes, esse objetos dialogam com a paisagem, fazendo com que o vai e vem dos paraenses se torne multicolorido.


Saindo um pouco das roupas e dos objetos, podemos observar pela arquitetura da cidade alguns prédios e casas com combinações surpreendentes e incomuns:



Depois de ver essas imagens consegui expressar com mais facilidade o meu olhar sobre o que eu pintaria de Belém. As cores são a expressão de um povo mergulhado na natureza, influenciados pela bandeira vermelha (seja do estado ou do açaí das esquinas), pelo pôr-do-sol laranja, pelo sol do meio dia amarelo refletido nos carros vermelhos, nos guarda-chuvas amarelos, nos prédios azuis, nos postes laranjas, nos ônibus amarelos ou em toda a cor que dança pela cidade.
Belém é uma ode as cores, que nem a chuva cinza consegue apagar.

(*O autor é graduado em desenho industrial pela UEPA e especialista em patrimônio cultural pela UFPA)