Chamada para
comunicações
Workshop “Destruição e conservação em debate – história ambiental
do Brasil em uma perspectiva pluridisciplinar e transnacional” - 13
e 14 de outubro no Centre Alexandre Koyré (EHESS), Paris, França
Desde a invasão europeia
em 1500 o vasto território chamado Brasil é associado à imagens de uma natureza
tropical exuberante, gerando fascinação e ganância. Embora o Brasil abrigue a
maior biodiversidade do mundo, ele sofre de uma reputação de vilão ambiental, sobretudo
devido as taxas elevadas de desmatamento que chamam a atenção da mídia
internacional desde o final da década de 1970.
Apesar da existência
de muitos estudos sobre o meio-ambiente na América Latina feitos por
economistas, antropólogos e geógrafos, a história ambiental
do Brasil só emerge recentemente enquanto disciplina acadêmica. No entanto, a historiografia brasileira articulou desde muito cedo a
análise da construção da nação, da identidade e da raça com as representações e
transformações da natureza. Euclides da Cunha, no começo do século 20 por
exemplo, argumentava (de uma maneira um tanto determinista) da influência do
meio natural no caráter nacional. Desde então outros autores “clássicos” se
apropriaram dessa questão tentando criar uma narrativa nacional que não deixava
de lado o espaço tropical, o clima e a diversidade natural, como Capistrano de
Abreu, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Junior.
Até recentemente, os
efeitos de uma economia de pilhagem, perpetrada primeiramente pelos poderes coloniais
e depois pelo Estado e por empresas multinacionais, dominaram as histórias
ambientais do Brasil e da América Latina. Ainda que essas narrativas sejam
baseadas em um quadro interpretativo que possui fortes implicações políticas,
elas tendem a negligenciar as análises sobre como as populações locais usam e
representam o meio natural com o qual interagem. Além disso, ao atribuir a função
de agentes históricos apenas aos atores humanos, a história feita sobre o meio
ambiente do Brasil, acaba muitas vezes veiculando uma concepção pessimista onde
a fauna, flora, paisagem e o clima são perpétuas vítimas da expansão
capitalista. Nos trabalhos recentes essa narrativa declinista tem sido posta de
lado e emergem leituras mais complexas. Através de uma análise mais matizada da
experiência do país, estudos recentes têm apontado tendências de destruição
descontrolada, mas também uma forte tradição brasileira de crítica
conservacionista, alinhada à poderosas narrativas nacionais.
Um
terreno menos explorado nesses trabalhos é a dimensão internacional da história
ambiental brasileira. Em áreas transnacionais como a Amazônia ou os Pampas, as
identidades coletivas baseadas no meio ambiente regional são muito importantes
e por isso uma maior exploração das dinâmicas socioambientais que existem na
América do Sul é necessária. Igualmente, necessitamos colocar a história
ambiental brasileira em perspectiva com experiências de outras regiões e países
do mundo. Por exemplo, alguns autores sugeriram que a cultura brasileira, sob
alguns aspectos, mostra uma consciência ambiental excepcional comparada com
outros países tropicais, mas faltam estudos comparativos para apoiar ou
rejeitar essas ideias. A questão das responsabilidades compartilhadas de países
europeus na degradação de ambientes tropicais também foi pouco tratada. Da
mesma maneira, as ligações com o resto do mundo para a exploração, transformação,
gestão e negociação da natureza brasileira é uma área com poucos estudos,
apesar do grande foco que existe em alguns recursos, como a borracha. A
história ambiental ainda não explorou de maneira exaustiva a circulação de
animais, plantas e minerais além das fronteiras brasileiras. Ainda que as temáticas
sobre o meio ambiente e a natureza tenham sido tratadas em diversas pesquisas
europeias sobre o Brasil, seja na sociologia rural, na antropologia, na
história das ciências ou na economia, como atestam as teorias de
ecodesenvolvimento de Ignacy Sachs, os(as) historiadores(as) do Brasil da
Europa tem se mantido longe dessa discussão.
Esse workshop busca
discutir as perspectivas atuais e futuras da história ambiental brasileira no
sentido amplo do termo: incluindo estudos sobre as representações, políticas e
mudanças materiais produzidas pela interação entre humanos e não humanos.
Convencidos que apenas um esforço pluridisciplinar pode ajudar a pesquisa
acadêmica a responder aos desafios climáticos e ambientais que enfrentamos,
esse evento será também um espaço de diálogo entre pesquisadores(as) de
diversos horizontes científicos.
Propostas para comunicações orais de aproximadamente 300 caracteres devem
ser escritos em francês ou em inglês e enviados juntamente com uma breve
biografia do autor, de preferência em formato Word, para:
workshop.histenvdubresil@gmail.com . O prazo final é o dia 28 de maio de 2016.
Informações adicionais:
Esse evento resultará
em uma publicação coletiva. Para isso, após o workshop os participantes serão
convidados à submeter uma contribuição que será reavaliada por um comitê
científico.
Os organizadores
estão explorando diferentes possibilidades de financiamento para a participação
de pesquisadores de fora de Paris. Se os(as) candidatos(as) não tem
possibilidades de financiamento em suas instituições, por favor, informar em
suas propostas. Infelizmente não poderemos financiar voos intercontinentais.
Questões podem ser endereçadas à :
Antoine Acker –
International Research Group Environmental Humanities – University of Turin –
antoine.acker@unito.it
Nathalia Capellini –
Centre d’Histoire Culturelle des Sociétés Contemporaines – University of
Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines – nathalia.capellini@uvsq.fr
Com o apoio das seguintes instituições:
European Society for
Environmental History
Centre d’Histoire
Culturelle des Sociétés Contemporaines de l’Université de Versailles
Saint-Quentin-en-Yvelines
Centre de Recherches
sur le Brésil Contemporain de l’EHESS
Agence Nationale de
la Recherche à travers le Projet « CAT-NAT »
Association pour la
Recherche sur le Brésil en Europe
Centre
Alexandre Koyré de l’EHESS