terça-feira, 21 de dezembro de 2021
Este rio é mais que minha rua - história através do rio Paracauari
quinta-feira, 16 de dezembro de 2021
Recursos hídricos e o ensino de história: projeto premiado
O prêmio foi dividido em cinco
categorias:
Criatividade
–Educação para a inovação e produção
artística;
Cidadania
–Educação para a cultura de respeito
pela criação;
Tecnologia
–Educação para a ciência e inovação;
Planeta
–Educação para o aproveitamento
sustentável e inovador dos recursos naturais; e
Negócios –Educação
para o empreendedorismo.
A professora Ana Vieira de Oliveira, membro do Grupo de Pesquisa História e Natureza (GRHIN/UFPA) e mestranda no PROFHISTÓRIA-UFPA, venceu na categoria PLANETA com projeto executado na ilha do Marajó com seus
alunos do EJAI (Educação de Jovens Adultos e Idosos) buscando fomentar a
educação para o aproveitamento sustentável e inovador dos recursos naturais e
receberá:
Inscrição em curso do Programa de Ensino à
Distância (EaD) desenvolvido pela Academia de Propriedade Intelectual, Inovação
e Desenvolvimento do INPI e/ou por entidade parceira
· Recebimento, por meio de depósito bancário, do
valor líquido de R$4.000,00 (quatro mil reais)
· Certificado de Vencedora da categoria Planeta
Para Ana Vieira “o prêmio PI nas escolas busca fomentar a
propriedade intelectual e quando estimulamos os alunos a buscar a origem da
patente do filtro no Brasil, buscando saber como ele era feito estamos
valorizando os recursos disponíveis próximo da escola
como areia da praia o entendimento das patentes que apresenta toda descrição
detalhada de como reproduzir”
O projeto foi executado na Escola Oscarina Santos no município de Salvaterra-PA tendo como objetivos de aprendizagem ensinar aos alunos conteúdos de meio ambiente, sustentabilidade buscando relacionar com o cotidiano na Ilha do Marajó e de como os recursos hídricos são importantes tanto na antiguidade como na atualidade.
Caindo no esquecimento: o patrimônio natural de Ananindeua, memórias ambientais
A modernização de uma cidade, em alguns momentos, pode deixar de lado a natureza e suas grandiosidades. Isso é péssimo! A cultura, a sociedade, os seres vivos não vivem sem ela. Desde que o mundo é mundo, o meio ambiente está presente em todas as mudanças feitas no espaço e tempo. A cultura depende também da biodiversidade, principalmente na Amazônia.
O Parque Antônio Danúbio, primeiro parque ambiental do município de Ananindeua - PA acabou caindo no esquecimento, da população, e será que também das políticas públicas? Ou será que até mesmo ele fora apresentado para a sociedade ananindeuense?
Recentemente, ao buscar o
Parque na internet, especificamente no Google, você verá que o mesmo se
encontra fechado. Segundo Murakami Vidigal (2021), o Parque tem um grande
potencial patrimonial para a cidade de Ananindeua, mas infelizmente, sem a
preservação e o cuidado populacional e governamental, esse tipo de coisa acaba
ocorrendo, ou seja, ele fecha. É muito triste perceber que o primeiro parque
ambiental da cidade está esquecido e largado, não existem mais as estruturas e
atividades de antigamente. A fauna e a flora que ali existem, estão ali
sobrevivendo, dentro de um centro urbano, e mesmo assim, não tendo
reconhecimento de seus valores.
A biodiversidade,
principalmente na Amazônia, fala demais de nossos habitantes. Dentro do próprio
Parque podemos reconhecer a identidade, cultura e história de Ananindeua
através desses símbolos naturais. Contudo, sem esse cuidado e valorização do
espaço, acaba-se caindo no esquecimento, não sendo reconhecido o valor e a
potencialidade do espaço. É importante conhecer o nosso passado, o nosso presente,
para preservá-los também no hoje e no amanhã.
Falar do futuro requer
falar antes de qualquer coisa do tempo presente. Como pensar em uma sociedade
melhor se não estamos preservando o nosso próprio presente? O Parque como
patrimônio pode ser um recurso em tempo de crise, articulando o passado,
presente e futuro de uma região, além de memórias coletivas, identidade e
semióforos. (HARTOG, 2019).
Será possível resgatá-lo?
Se “salvo”, será que a comunidade também iria interagir cotidianamente no
espaço?
Referências
HARTOG, François. Regimes de
Historicidade: presentismo e experiências do tempo.
Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
MURAKAMI VIDIGAL, Victória Emi.
Patrimônio Ambiental e Espaços Socioambientais e
Educativos
no Parque Ambiental de Ananindeua Antônio Danúbio. Diálogos
Ambientais
[recurso eletrônico]: com(ciência) e tecnologia. Belém – Pa:
Cabana, 2020, p. 49 - 61.
Disponível
em: https://drive.google.com/file/d/12FastWk_Qh-C1mfRrlMHxWRy12ZDRFS/view
*Victória Emi Murakami Vidigal é graduada em história pela Universidade Federal do Pará - campus Ananindeua e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Patrimônio Cultural - UFPA.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2021
Nos tempos do Imperador
A estreia da novela “Nos tempos do Imperador” deixou as redes sociais alvoroçadas. Já recebi quatro pedidos de informação se realmente D. Pedro II esteve em Belém alguma vez, durante seu longo reinado. Engraçado que mandam junto vários posts, dos mais absurdos, daqueles historiadores de facebook bem empavonados cheios de verdades sinceras. Como a gente não sossega, lá vai, pois estou, não por acaso, escrevendo dois artigos sobre o assunto, junto com um ex-aluno e um aluno atual, nos quais a presença do imperador em Belém é parte da História.
Vamos lá. Sim. O Imperador esteve em Belém em 1876. Pedro II tinha planos de conhecer Belém por muitas razões – do viajante ao cientista, mas principalmente por razões de chefe de Estado. Lembre-se que desde a época de seu Pai, Pedro I, o título nobiliárquico de “Príncipe do Grão-Pará” era reservado ao segundo na linha de sucessão ao trono dos Bragança. O título fazia referência à então maior província do Império brasileiro, o Grão-Pará. Mais do que isso, contudo, o título simbolizava a integridade do Império, que compreendia em sua totalidade os antigos Estado do Brasil e Estado do Maranhão, posteriormente denominado Estado do Grão-Pará. Esse é um tema importante nas simbologias da nação e a viagem às terras da Amazônia fazia parte desse encontro com a “pátria” verde. No entanto, a viagem foi ficando pra trás.
Em 1866, com a abertura do Amazonas à navegação estrangeira, o assunto veio de novo à baila. Festa pomposa foi preparada. Para cá vieram inúmeros profissionais e artistas, numa cidade que crescia impulsionada pela exploração da borracha. Em 1864, a goma elástica já havia ultrapassado o cacau nas balanças de exportação. Vieram os cenógrafos Giuseppe Leone Righini e Henri Langlois, os fotógrafos imperiais Felipe Fidanza e José Thomaz Sabino e os tipógrafos e artistas Karl e Bernhard Wiegandt. Montou-se grande pórtico, no cais do Porto, na antiga Rua Nova do Imperador, ao modo de arco do Triunfo. Enfeitou-se a cidade. Sabino fotografou toda a cidade e mandou os registros para encorajar a viagem da reticente imperatriz, por seus problemas de saúde e também por receio de doenças palustres. Felizmente parte desses registros estão hoje na coleção imperial da Biblioteca Nacional.
A Amazônia era paraíso, mas era inferno também. Se hoje muitos brasileiros têm uma visão completamente exótica e deturpada das capitais amazônicas, imagine-se há 150 anos. Pois bem, por causa de problemas de saúde de D. Thereza Christina, o casal imperial não veio. Enorme frustração causou na cidade e tudo foi desmontado. Os opositores ao regime fizeram chacota da viagem que não aconteceu. Porém, 10 anos depois, a caminho dos Estados Unidos, à bordo do vapor Helvetius, no dia 4 de abril de 1876, às 18h, os imperadores entraram na baía do Guajará. Como que por vingança, um forte aguaceiro, chuva daquelas, impediu que o navio atracasse. A cidade, uma milha distante, apesar do temporal, era vista toda iluminada. No dia seguinte, bem cedo, às 5.30 (isso é hora de visita?), Pedro II e Thereza Christina pisam no porto.
Tudo que fora desmontado há 10 anos foi novamente posto em pé. Fidanza fotografou. Muitas dessas fotografias que ficaram em coleções particulares foram destruídas na sanha republicana de 1889. A gente sabe bem o que é isso! Porém ficaram muitos relatos, fragmentos dessa história, registros de toda ordem. Lojas se preparam para vender as modas próprias para o evento. O poder público mandou limpar a cidade (ah como é parecido) e recolher os animais que perambulavam pelas ruas. Os comerciantes presentearam o imperador com uma linda obra de Righini. Um passeio pela Estrada de São José toda ladeada de palmeiras imperiais, ali plantadas em 1841 em honra à aclamação dele próprio. Mostraram toda a "Cidade Imperial": a Estrada da Constituição (atual Gentil Bittencourt) nomeada em homenagem à Constituição de 1824, a Rua da Imperatriz (atual 15 de novembro) em homenagem à d. Thereza Christina, as ruas da Glória e do Príncipe em homenagem à sua irmã D. Maria da Glória e a ele mesmo quando criança; a 2 de dezembro (atual Generalíssimo Deodoro) em homenagem ao seu aniversário. Os republicanos mudaram todos os nomes imperiais para apagar esse passado da memória. As grandes associações culturais, ligas, irmandades fizeram comissões para a receber Suas Majestades. O Gabinete de Leitura Português ficou os dois dias aberto para visitas públicas. A Igreja de Santana, na Campina, onde se costumavam realizar as cerimônias alusivas à família imperial fez missa cantada com toda a pompa. O bispo D. Macedo, célebre opositor do imperador na “Questão Religiosa”, não se fez presente.
Um grupo em especial guardou lembrança do encontro. Os membros da Imperial Sociedade Beneficente Artística Paraense. O título imperial foi um presente de Pedro II. Em sinal de reconhecimento uma carta laudatória, artisticamente preparada por Wiegandt, foi entregue aos monarcas por uma comissão montada em fino de traje: Antônio Rodrigues do Couto, administrador do jornal Diário de Belém; o capitão Manoel Martiniano Cavalleiro de Macedo; o tenente Candido de Deus e Silva; o conhecido livreiro Levindo Antonio Ribeiro; o escriturário da Recebedoria de Rendas da Província José Manoel Borges Machado, que esteve como tesoureiro da Artística em 1874; e por fim o preto alfaiate Simeão Estelita dos Reis Guimarães. Este famoso preto, assunto para outros momentos porque é história e é longa.
E assim o Imperador passou somente um dia alegre na cidade que jamais esqueceria. Sua irmã D. Francisca de Bragança se apaixonou pelo quadro do Righini. D. Thereza Christina fez álbum das fotos e a princesa Isabel manteve o título de Principe do Grão-Pará ao seu primogênito Pedro de Alcântara, nascido em 1875, cujo retrato em pintura foi exibido na Igreja de Santana. Belém ficou com o belo retrato pintado pelo paraense Constantino Pedro Chaves da Motta, em 1875, que agradou ao Imperador, e que hoje está na coleção do Instituto Histórico e Geográfico do Pará.
Sabemos de tudo e muito mais, por causa da imprensa da época, do Diário de Pedro II, dos relatos do jornalista americano James O’Kelly, que acompanhava o imperador, os registros fotográficos da coleção imperial e inúmeros textos escritos por copiosa historiografia, de Ignacio Moura a Ernesto Cruz, de Mário Barata a Donato Mello Junior, de Augusto Meira Filho a Vicente Salles. Querem mais provas coevas, vão pesquisar. História não é bagunça. Boa noite e boa novela.
* Aldrin é professor do Programa de Pós-graduação em História Social da Amazônia na Universidade Federal do Pará. Dentre outros títulos, publicou o livro 'A cidade dos encantados: pajelanças, feitiçarias e religiões afro-brasileiras na Amazônia: 1870-1950'.