segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Guns and gatinhos: natureza em arte

Até o dia 03 de Dezembro, na galeria Hasted Kraeutler - em Nova Iorque, está em exibição Honey Bunny - do pintor Marc Dennis. O que nos chamou atenção, além de serem belas obras de arte, foi a utilização de elementos da natureza nas pinturas, destacando animais domésticos.

Marc Dennis parece querer suscitar emoções a partir da dicotomia e do contraste, tendo como base o cotidiano (almofadas, camas e toalhas). Reunindo ícones tão antagônicos em um mesmo quadro, tendo como principal elemento as ARMAS - e toda simbologia peculiar delas nos EUA (poder/fragilidade; beleza/morte).

O trabalho de Dennis nos permite pensar, entre outras coisas, como determinados animais ganharam significados que os transformaram em ícones da sociedade. Ao expressar quão familiar e doméstica as armas de fogo são para a sociedade estadunidense, o artista utiliza o gato - animal que habita os lares, passeia pelos cômodos e adormece na cama como um membro da casa. Excelente associação.

Isso fica bastante visível em biggy kitty (acima à direita). O animal, a cama, uma arma menor e outra enormer - na qual o bichano descansa. Juntos aquilo que é artificial e o natural - poesia visual da melhor qualidade. Sem contar a expressão da cara do pequeno gato (que dá nome ao quadro).

Outro quadro que destacamos é o Little Ways, no qual um gato 'vivo' posa sob um urso morto. A arma esta presente no pequena almofada - mas parece ecoar na figura do urso alvejado. Os animais e suas expressões servem de ícones para Marc Dennis pinturas suas cenas.

Em One Tiny, Dennis retrata um cãozinho branco deitada sobre vários pedaços de carne - a vida e a morte em contraste. Animais ícones mais uma vez (talvez seu único quadro desta exibição em que as armas não aparecem).

Por fim, um dos mais interessantes, intitulado American women, no qual muitas armas estão postas sobre um pano com estampas de pássaros, flores e folhas - uma espécie de toalha de mesa. Note que o contraponto às armas, para Dennis, é sempre os animais e sua carga si
mbólica de pureza e domesticidade.


Penso mil e uma coisas à respeito dessas pinturas, mas o que quero dizer é que suscitam em mim uma inquietação que explica a vontade de escrever o post de hoje - a natureza como contraponto à uma "beleza" da violência, natureza ícone posta à mesa - e paro aqui para não cansar quem leu até o fim.

Para ver mais obras dessa exposição (que não traz apenas animais e armas, mas armas e outros elementos) acesse: http://hastedkraeutler.com/exhibition.php

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

SOLCHA: História ambiental na América Latina e Caribe

Hoje trazemos alguns links relacionados a Sociedade Latino Americana e Caribenha de História Abiental (SOLCHA).


No próximo ano, acontecerá na Colômbia o VI Simpósio da SOLCHA - 06 a 08 de Junho. Estarão aceitando propostas de comunicação para esse encontro até o dia 01 de Dezembro de 2011. Mais informações no site http://visimposiosolcha.uniandes.edu.co/index.php?ac=inicio&idi=sp



A SOLCHA possui um site com informações sobre a essa Sociedade, um histórico de suas atividades, fotos, uma página propondo leituras e muitas outros materiais. confira em http://solcha.uniandes.edu.co/info.php/7/index.php



A SOLCHA possui uma publicação que está on line. Essa revista foi fundada recentemente e tem o propósito de ser publicada semestralmente e será, sem dúvida, um grande sucesso. O editorial do primeiro número é da Professora Doutora Regina Horta. Confira em em http://www.fafich.ufmg.br/halac/index.php/periodico/index

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

“Que natureza que vocês têm!”: Machado de Assis, as matas e os rios

Neste post, trago um trecho de uma crônica de Machado de Assis no qual podemos conhecer sua curiosa reflexão sobre a natureza brasileira. Não arriscarei dizer qual sua concepção de natureza, isso mereceria uma longa reflexão.

Destaco seu aparecente incômodo diante da beleza das paisagens brasileiras, da separação que faz entre o humano x natural e a valorização de um em detrimento do outro. Veja como ele confere valor à paisagem a partir da intervenção humana.

[...] Não é só chapa, é estilete. O meu sentimento nativista, ou como quer que lhe chamem – patriotismo é mais vasto, - sempre se doeu desta adoração da natureza. Raro falam de nós mesmos: alguns mal, poucos bem. No que todos estão de acordo, é no pays féerique.
Pareceu-me sempre um modo de pisar o homem e suas obras. Quando me louvam a casaca, louvam-me antes a mim que o alfaiate. Ao menos, é o sentimento com que fico; a casaca é minha; se não a fiz, mandei fazê-la. Mas eu não fiz, nem mandei fazer o céu e as montanhas, as matas e os rios. Já os achei prontos, e não nego que sejam admiráveis; mas há outras coisas que ver.

Há anos chegou aqui um viajante, que se relacionou comigo. Uma noite falamos da cidade e sua história; ele mostrou desejo de conhecer alguma velha construção. Citei-lhe várias; entre elas a igreja do Castelo e seus altares. Ajustamos que no dia seguinte iria buscá-lo para subir o morro do Castelo. Era uma bela manhã, não sei se de inverno ou primavera. Subimos; eu, para dispor-lhe o espírito, ia-lhe pintando o tempo em que por aquela mesma ladeira passavam os padres jesuítas, a cidade pequena, os costumes toscos, a devoção grande e sincera. Chegamos ao alto, a igreja estava aberta e entramos. Sei que não são ruínas de Atenas; mas cada um mostra o que possui. O viajante entrou, deu uma volta, saiu e foi postar-se junto à muralha, fitando o mar, o céu e as montanhas, e, ao cabo de cinco minutos: “Que natureza que vocês têm!”.

Certo, a nossa baía é esplêndida; e no dia em que a ponte que se vê em frente à Glória for acabada e tirar um grande lanço ao mar para aluguéis, ficará divina. Assim mesmo, interrompida, como está, a ponte dá-lhe graça. Mas, naquele tempo, nem esse vestígio do homem existia no mar: era tudo natureza. A admiração do nosso hóspede excluía qualquer ideia da ação humana. Não me perguntou pela fundação das fortalezas, nem pelos nomes dos navios que estavam ancorados. Foi só a natureza... (crônica de 20 de agosto de 1893 em A Semana)
Panorama da Glória, aproximadamente 1893/1894. Vista tomada do morro de Santa Teresa, das proximidades da rua Taylor. Em primeiro plano, trecho do morro, destacando-se a rua Visconde de Paranaguá; em segundo plano, casario da Glória, destacando-se a chaminé da companhia City Improvements; à direita, casarão construído para ser ocupado por um mercado. No alto, a igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. No fundo, o morro da Urca, o Pão de Açúcar e a baía de Guanabara.

domingo, 20 de novembro de 2011

Globais se unem para salvar o planeta

NA semana que passou, foi compartilhado nas redes sociais um vídeo com críticas à construção da hidrelétrica de Belo Monte. Um vídeo no mínimo inusitado, no qual vários artistas da Rede Globo mostram seus conhecimentos sobre o tema e expressão sua preocupação com o futuro do Brasil - coisa que eu sinceramente não sabia que tinham.

Antes de prosseguir, quero deixar claro que este post não pretende julgar se a construção de Belo Monte é correta ou um crime, mas apenas expressar minha opinião sobre esse vídeo. Minha surpresa se justifica pelo fato dos artistas globais de repente se engajarem nas questões ecológicas.

O vídeo que me refiro é o seguinte:

Quando recebi no twitter esse vídeo pensei que eles iriam cantar: "hj é um novo dia, um novo tempo, que começou, nesses novos dias as alegrias serão de todos, é só querer"...
Tirando as brincadeiras, tenho algumas dúvidas sobre esse despertar da trupe: por que o elenco da globo se une de uma hora pra outra pra salvar a Amazônia ? Eles sabem mesmo das dificuldades que o norte do Brasil passa?

O vídeo é muito bem produzido, não deve ter sido barato. Quem está interessado nessa produção? Alguém de bom coração? o site http://movimentogotadagua.com.br/ não é nada amador. Quem são seus patrocinadores? Inspiraram-se no campanha 5 friends (vídeo abaixo), com Leonardo DiCaprio e sua turma. O problema da energia realmente importante, mas, não são esses mesmos atores que de várias formas incentivam o consumismo descontrolado da sociedade - nos filmes, novelas e principalmente nas propagandas.


Repito, apoio a produção de energia limpa e não seria lógico neste blog apoiar a devastação da natureza. Mas, quis questionar esse súbito interesse dos globais com Belo Monte. Sabemos que há muitos interesses envolvidos nesse projeto - além daqueles do Sérgio Marone e da Maitê Proença.

sábado, 19 de novembro de 2011

Filmes do Festival Internac. do Audiovisual Ambiental


Jardim Botânico recebe o Festival Filmambiente

A mostra de filmes acontece entre os dia 21 e 23 de novembro, no cineclube do Centro de Visitantes. Confira a programação da próxima segunda-feira, 21/11:

15h: Mostra Filmes de Floresta


Esperança num clima em Mudança (Hope in a Changing Climate), 2010
Direção: Jeremy Bristol, Duração: 30 min;



Amazônia Viva (Amazon Alive), 2010

Direção: Christian Baumeister; Duração: 44 min


Mais informações no site: http://www.filmambiente.com/index.php/mostra-filmes-da-floresta.html

O Centro de Visitantes do Jardim Botânico do Rio fica na Rua Jardim Botânico, 1008.


Agradeço a indicação desta notícia à querida amiga Miriam Junghans.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Site do IV Encontro de História Colonial


Já está on line o site do IV Encontro Internacional de História Colonial que acontecerá em Belém (2012). Nele encontramosinformações quanto aos prazos e como fazer propostas de Simpósio Temático, Mesa-redonda e Mini-curso. O período de inscrição inicia dia 5 de dezembro e a partir desse dia haverá um formulário on-line para a inscrição das propostas. Se puder, divulgue o site e o evento e envie sua propostas.



O IV Encontro Internacional de História Colonial tem por objetivo o aprofundamento das reflexões historiográficas a respeito da história da América Portuguesa e das Américas. Em sua quarta versão, o encontro tem como tema "Trabalho, economia e populações no mundo ibero-americano (séculos XV a XIX)", em torno do qual girarão as conferências de abertura e encerramento e duas mesas-redondas plenárias. O evento tem representado um espaço privilegiado para o debate acadêmico por meio de sua organização em Simpósios Temáticos e Mesas-redondas, sendo seu objetivo o aprimoramento das discussões sobre a experiência colonial americana.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A república e os cavalos

Hoje, comemora-se a proclamação da república brasileira - ocorrida em 1889, liderada por Deodoro da Fonseca. Mas não queremos discorrer sobre as tramas que envolveram esse levante político militar. Apresentaremos algumas representações desse evento que justifica o feriado do dia 15 de novembro em nossa país, destacando a presença do CAVALO.

A primeira delas (ao lado) é uma homenagem da Revista Ilustrada à proclamação da República. Apesar de em primeiro estar representada a Pátria como uma mulher portando um escudo, nos interessa ao fundo perceber o militar sob o cavalo.


Na importante obra de arte Proclamação da República (abaixo) de 1893 (óleo sobre tela) de Benedito Calixto (1853-1927) podemos observar uma grande quantidade de cavalos, valorizando e garantindo o status nobre da ação de Deodoro da Fonseca e sua comitiva - nos permite até dizer que ocupam espaço de destaque na pintura (parte do acervo da pinacoteca de São Paulo) - participando da cena principal no centro do quadro.


Em seus estudos, Gilberto Freyre já salientava o papel distinto exercido pelo cavalo no Nordeste da cana-de-açúcar. A montaria enobrecia o homem, seja ele senhor de engenho ou comandante militar - "do alto do cavalo foi quase uma figura centauro: metade homem, metade cavalo [...] amava o seu cavalo que lhe completava a figura senhorial" (FREYRE, 1937: 36 e 93). Os cavalos de raça retratados nas imagens republicanas, os cavalos de carro da família patriarcal, possuíam valor diferente dos cavalos de cangalha e, sobretudo, do cavalo de matuto, do sertanejo, e das bestas dos molinetes.


Assim vemos se repetir a função do cavalo na figura de Deodoro da Fonseca no quadro de Henrique Bernadelli (acervo da pinacoteca de São Paulo) - é o animal que reforça e garante o status que o pintor quer dar a Deodoro e sua comitiva ao fundo na sombra.



Em uma inscrição no The Horse Park em Kentuchy - EUA, lemos: "A história foi escrita sob o cavalo". A frase que parece uma brincadeira nos faz pensar na importância desse animal para entendermos a História. Na Eurásia, há uma profunda diferença entre as civilizações que contaram com o cavalo em suas expansões territoriais e aquelas que não possuíram esse animal.
As populações ocidentais, que não contavam com o cavalo, permaneceram por muito tempo dispersas - vide os Incas, Mais e Astecas, que apesar de avançado conhecimento não contavam com animais velozes capazes de transportá-los para o resto da América e foram vencidos pelos europeus montados sob cavalos.

Finalizamos com uma frase bem humorada: "O cachorro é o melhor amigo do homem, mas foi por meio do cavalo que houve civilização". (Do homem ou do cão?)

Consultamos: FREYRE, Gilberto. Nordeste. Rio de Janeiro. Livraria José Olympio, 1937. p. 36 e 93.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A Rocinha quando era uma roça pequena: árvores, animais e fotos

Diante dos acontecimentos do dia de ontem (a invasão da polícia na Rocinha), gostaríamos de postar um conjunto de fotografias que mostram a favela da rocinha no século passado e como as árvores e animais compõem a paisagem (click na imagem para ampliá-la).

O morro entre a Gávea e São Conrado abrigava uma chácara, nos anos 1920. A localidade pacata era de onde partiam os agricultores rumo aos arredores do Hipódromo da Gávea, onde vendiam o que haviam plantado. Quem por lá passava e perguntava de onde vinha o alimento recebia como resposta: “Vem da rocinha”.

A primeira fotografia retrata justamente essa primeira propriedade (fazenda de gado Quebra Cangalhas) a ocupar onde hoje é a favela da rocinha, vemos a criação de gado como principal objetivo a ser demonstrado.



Abaixo você observa a praia de São Conrado ao fundo e a tensão a transformação da paisagem, que passou de um um núcleo rural, ocupado por posseiros que tinham em uma pequena agricultura de subsistência, em um lugar de moradias a foto é de 1958.


A imagem abaixo (Laboriaux) mostra o avanço das casas sobre a robusta floresta da Tijuca que cobria o morro. Note a preocupação do fotógrafo em retratar o ponto máximo em que as construções chegavam naquele momento. Na parte inferior da foto podemos perceber que as árvores são quase ausentes.

A foto seguinte busca um panorama do morro dois irmão e ao centro a comunidades já bastante consolidada. Podemos conhecer a parte plana com pouca cobertura vegetal e a praia de São Conrado.


Esta fotografia colorida nos permite visualizar com mais nitidez a exuberância do morro tomado pela vegetação própria da floresta da Tijuca. Observe o canto inferior direito onde notamos uma estrada enquanto no lado esquerdo as moradias já ocupando as partes mais altas.


Por ultimo, apresentamos um foto de 1969, uma visão do green do Gávea Golf Club (à direita da foto reparar na subida da grande torre do Hotel Naciona). Interessante notar que os limites da fotografia são a exuberância da montanha, privilegiando sua cobertura verde em detrimento da visão que já permitia notar a ocupação de migrantes e retirantes atraídos por empregos na Zona Sul carioca.

Para saber mais:

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

5º Encontro da Rede de Estudos Rurais

Desenvolvimento, Ruralidades e ambientalização: atores e paradigmas em conflito é o tema do 5o Encontro da Rede de Estudos Rurais será realizado no Campus da Universidade Federal do Pará, em Belém, de 19 a 22 de junho de 2012. O evento contará com 13 Grupos de Trabalhos, 7 mesas de debates e 2 conferências, envolvendo pesquisadores nacionais e internacionais.

Queremos destacar o GT 11: O rural na história do Brasil (sobre o GT click aqui).

terça-feira, 1 de novembro de 2011

História e Maconha


Quando o canal History Channel não está apresentando seus cansativos documentários sobre ETs ou repetitivos programas sobre a II Guerra Mundial, podemos assistir ótimas produções, como o especial "A história da maconha" no qual acompanhamos parte da história dos homens por meio da trajetória de uma droga considerada hoje psicotrópica (nos EUA e em muitos outros países).

A maconha é um produto global que nos Estados Unidos produz mais de 36 bilhões de dólares por ano. Enquanto muitos acham que é uma droga medicinal, outros a consideram uma “droga ponte”, que abre caminho para o uso de outras drogas mais fortes. Neste programa foi mostrado o paradoxo que existe com relação a esta substância: o governo dos Estados Unidos investiu 100 bilhões de dólares para lutar contra o custo, venda e distribuição da droga, enquanto em 14 de seus estados o uso foi legalizado por razões medicinais.

O documentário nos permite refletir como uma planta pode ser tão importante na história da humanidade, influenciando decisões políticas e assumindo papel de tamanha relevância na economia das nações. Vemos também como a história de um país pode ser contado tendo como ponto de partida um vegetal, destacando o conflito que seu uso desperta.

Outro ponto que nos interessa refletir é que a maconha faz parte do grupo de plantes que foram aclimatados por diferentes populações que provocou inflexões nessas sociedades. Enfim, a história da maconha parece contar boa parte de nossa história. Abaixo, a propaganda das cigarrilhas Grimault publicada em 1905 em um periódico brasileiro (CARLINHI, A história da maconha no Brasil - http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v55n4/a08v55n4.pdf)

Para baixar odocumentário e assistir: http://www.megaupload.com/?d=55AHXDE0