segunda-feira, 9 de junho de 2014

Os animais no centro da história latino americana

O post de hoje é mais uma notícia sobre uma obra muito interessante sobre a as relações entre humanos e os outros animais no passado da América Latina. Centering animals in Latin American history procura colocar esses outros seres vivos dentro de uma narrativa sobre o período colonial e pós-colonial nessa região.

A obra discute como as interações entre seres humanos e outros animais são significativas para as narrativas e o entendimento da cultura latino-americana. Os autores discorrem sobre as implicações metodológicas para uma história que integra animais no centro dos trabalhos, procurando incluir os animais não-humanos como atores sociais na história do México, Guatemala, República Dominicana, Porto Rico, Cuba, Chile, Brasil, Peru e Argentina.

Os ensaios discutem temas que vão desde batismos caninos, casamentos e funerais no México até macacos importados usados ​​em experiências médicas em Porto Rico. Alguns participantes examinam  o papel dos animais nos esforços de colonização. Outros exploram a relação entre os animais, medicina e saúde. Finalmente, ensaios destacando o período pós-colonial sobre a política da caça, a mercantilização de animais, suas partes e proteção deles e do meio ambiente, além dos simbolismos políticos.

Clique aqui para ler uma resenha do livro

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Natureza ninfomaníaca: somos todos bichos


O filme "Ninfomaníaca" está baseado nas lembranças de Joe, a protagonista, que em diálogo com Seligman (um velho judeu) nos apresenta suas justificativas para a sentença: "eu sou uma pessoa má". Joe conta detalhes e episódios de sua vida, reconhecendo ser viciada em sexo. Seligman procura interpretar e comentar o que ela apresenta, deitada em uma cama, bastante machucada.

A portagem de hoje é a tentativa de destacar a ligação que o diretor dinamarquês Lars von Trier estabeleceu com a natureza ao contar a história de Joe ou nas conceituações elaboradas por Selingman. O filme é dividido em capítulos e o primeiro deles faz referência a sedução como um ato de pescaria, na qual a mulher joga o anzol, o homem seria o peixe e a isca seria o instrumento de sedução ou a modalidade do ato sexual. 

Seligman, ao ouvir os relatos de Joe, procura conceitar, organizar, e equacionar suas palavras. Na comparação com a pescaria, relaciona o sexo oral como a melhor isca para pegar os peixes maiores e mais difíceis em um rio onde as águas são revoltas. Essa isca ideal seria uma mosca na fase embrionário.

Essa é outra ligação muito interessante do filme, quando Joe descobre que na parede do quarto de Seligman há uma ninfa, isto é, uma mosca na tal fase embrionário. Esse é o primeiro de várias relações que o diretor estabelece com elementos do mundo natural. Uma espécie de masturbação feminina na tenra infância é relatada por Joe com cenas de pererecas pulando em um lago, em seguida ela repete o mesmo movimento.

A ligação da protagonista com seu pai acontece a partir de histórias e cenas relacionadas com a natureza, especialmente sobre o Freixo, uma árvore que no inverno deixava cair as folhas sem perder sua identidade por conta de um sinal que lhe diferenciava das demais árvores.

Por fim, a cena mais interessante no âmbito do que estamos a falar aqui é quando Joe descreve as características de três parceiros com quem praticava sexo (em um universo de 7 a 8 homens). Um deles, o G, é comparado a um gato, que é calmo e "como se depois de a porta ter sido aberta ele tivesse todo o tempo do mundo" entra em sua casa. Mas é a cena do caminhar deste amante, comparada ao dos felinos que achei muito boa, intercalada com a imagem dos passos de uma onça. "Mas ele era mais que um gato, ele era como um jaguar , ou um leopardo, ele se mexia que nem eles, o que me excitava infinitamente, ele estava no comando, era desse jeito".


Para além dos questionamentos da moral e da hipocrisia que o diretor quis apresentar, Ninfomaníaca - volume I, não é vulgar e eu recomendo. Pensar no ato sexual pode nos ajudar a refletir sobre nossa condição tão próxima dos outros animais. Pode nos ajudar a lembrar das conexões que temos com outras espécies e principalmente abandonar os julgamentos que porventura queiramos fazer de outros seres vivos (principalmente de nossa espécie) que conduzem a vida de forma diferente.