quarta-feira, 16 de agosto de 2023

4º Seminário Amazônico de História e Natureza

 4º Seminário Amazônico de História e Natureza



O campo da 'história dos animais' tem ganhado cada vez mais protagonismo em articulação com a história ambiental e será o tema do 4º Seminário Amazônico de História e Natureza. Trata-se de estudos que reúnem uma variedade interessante de pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento a fim de pensar o passado considerando os animais não humanos também como personagens importantes na relação entre sociedade e natureza. 

Com o objetivo de oferecer opções dinâmicas de divulgação científica, o Grupo de Pesquisa História e Natureza (CNPq/UFPA) realizará entre os dias 08 e 10 de novembro de 2023 o 4º Seminário Amazônico de História e Natureza (SAHN).

A 4º edição será em formato híbrido, contando com a transmissões por meio da internet das atividades que ocorrerão nas dependências da Universidade Federal do Pará (UFPA - campus Ananindeua).


INSCRIÇÃO


1. Toda inscrição é realizada SOMENTE por meio do FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO, tanto para o envio de dados quanto para envio do comprovante de depósito. Todos os itens destas instruções gerais devem ser lidos para evitar eventuais problemas nas inscrições;


Formulário de inscrição -CLIQUE AQUI - disponível a partir de 15 de Agosto 2023


2. Para se inscrever, a pessoa interessada deve se identificar em uma das seguintes modalidades:

- Apresentador(a) de trabalho.

- Ouvinte.


3. As modalidades e os valores de inscrição serão os seguintes:


- Ouvinte: sem cobrança.

- Apresentador(a) de trabalho estudante (graduando ): sem cobrança.

- Apresentador(a) de trabalho estudante (pós-graduando): R$ 20,00.

- Apresentador(a) de trabalho profissional (atua em instituição de ensino básico, universitário ou de pesquisa): R$ 45,00.


4. Serão aceitos trabalhos em co-autoria. Para isso ambos devem realizar inscrição e, quando for o caso, o pagamento.


5. Dados bancários

Banco do Brasil - 

Ana Vieira de Oliveira

Agência 3372-3 

Conta corrente 17.9140


O comprovante de depósito deve ser necessariamente anexado no ato de preenchimento do formulário de inscrição, para conferência (apenas para modalidade Apresentador de trabalho estudante pós-graduando ou profissional). 


PROGRAMAÇÃO

Novembro

Dia 08 (quarta-feira)

15:00 - Abertura e orientações

15:30 - Conferência de abertura
Profª. Drª. Ana Cristina Roque - Universidade de Lisboa

Dia 09 (quinta-feira)

08:00 - 12:00 Simpósios Temáticos (Online)

15:00 Mesa de discussão - Animais na história 
Prof. Dr. José Arturo Jiménez Viña (Universidad Nacional de Colombia)
Prof. Dr. Jó Klanovicz (Unicentro)
Prof. Dr. Daniel Dutra (Universidade de São Paulo)

Dia 10 (sexta-feira) 

15:00 - Conferência de encerramento 

Prof.ª Dr.ª Regina Horta (Universidade Federal de Minas Gerais)


Contato: grhin.ufpa@gmail.com

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terça-feira, 30 de maio de 2023

Semana do meio ambiente do GEAMAZ - UFPA



SEMANA DO MEIO AMBIENTE DO GEAMAZ-UFPA 2023

Tema: Terra, nossa casa: somos todos responsáveis!

Período: 01 a 07 de junho de 2023

Inscrição para participação e certificado: https://forms.gle/78t4YGYEiQ5i3FYR8

Contato: www.instagram.com/geamazufpa/

PROGRAMAÇÃO

01/06 -  Plantio de mudas na Escola Celso Malcher
Hora: 08h as 9h
Responsável: Profa. Dra. Ludetana Araújo

02/06 – II Rolê Ambiental da UFPA (GEMAS E GEAMAZ)
Hora: 08h as 12h
Responsável: GEMAS/GEAMAZ
Inscrição pelo GEMAS

03/02 (manhã) – Oficina Brincando de Educação Ambiental com a Amana Kids do GEAMAZ-UFPA

Ministrantes: Profa. Dra. Ludetana Araújo, Profa. Mestra Marcilene Avelar, Profa Mestra Sandra Freitas e Profa. Esp. Marília Barbosa

Hora: 08h as 10h
Local: Escola EEF União e Fraternidade          

05/06 (manhã) – CONSTRUINDO UMA BELÉM INTELIGENTE: responsabilidade compartilhada (Câmara Municipal de Belém) Ver. Blenda MDB (Profa. Dra. Maria Ludetana e Profa. Dra. Vanusa Santos)
Atividade suspensa

05/06 (tarde) Oficina sobre Resíduos Sólidos e a RN38
Ministrantes: Profa. MSc. Amanda Santos, Simone, Profa. Dra. Patrícia Holanda
Hora: 14h30
Local: Auditório B do ICED-UFPA

06/06 (manhã) – Mesa: Educação Ambiental na Educação Básica: construindo uma escola sustentável na perspectiva da Agenda 2030

(SEDUC / SEMEC / UFPA / UEPA / UFRA / IFPA / CTRB / EAUFPA / CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO E CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO)
Mediadoras: Profa. Dra. Ludetana Araújo e Profa. Dra. Rosiane Gonçalves
Hora: 9h
Local: Auditório B do ICED-UFPA

06/06 (tarde)
Oficina: Barista: aprendendo a fazer um café de qualidade

Ministrante: Prof. Dr. Marcos Costa
Hora: 14h00
Local: Auditório B do ICED-UFPA

Oficina: Lentes Verdes: Fotografia como estratégia de Educação Ambiental
Ministrantes: Prof. Dr. Valdinei da Silva e Profa. Dra. Rosiane Gonçalves
Hora: 16h00
Local: Auditório B do ICED-UFPA

07/06 (tarde) – Café Criativo do Geamaz e Dança Circular (encerramento)

Hora: 16h00
Local: Auditório B do ICED-UFPA e Espaço Oasis (Ludetana Araújo)

Baixe aqui a programação em PDF

terça-feira, 9 de maio de 2023

Rita Lee e a natureza

 Nesta terça-feira, 09 de maio de 2023, deixou-nos a cantora Rita Lee. Dentre os seus muitos sucessos, ela cantou sobre a ovelha negra como símbolo daqueles que ousavam se comportar de formas diferentes e incomodavam os moralmente conservadores ao seu redor. Enquanto alguns imputam racismo a essa expressão, outros afirmam que sua origem se deu por conta de que a lã negra impede o tingimentos, portanto assumiria uma posição firme, inalterada. 

Rita Lee e sua cachorra Dany, 1970

Ao longo de sua vida, Rita Lee se envolveu em diversas causas ambientais, e uma das que mais se destaca é a defesa dos direitos dos animais. A cantora se transformou em uma forte defensora dos bichos e já se manifestou em diversas ocasiões sobre a importância de respeitarmos e protegermos a fauna e a flora do nosso planeta. Um dos temas em que se envolveu e causou mais polêmica foi o questionamento dos rodeios e todos os maus tratos que esse evento promove aos touros. 

Em 2011, Rita Lee lançou o livro "Amiga ursa - uma história triste, mas com final feliz", em parceria com a escritora e ilustradora Ana Terra. O livro conta a história de uma ursa que foi resgatada de um circo e levada para um santuário de animais, onde pôde viver seus últimos dias em liberdade e cercada de cuidados. A obra é voltada para o público infantil e tem como objetivo conscientizar as crianças sobre a importância da proteção aos animais.



Além do livro, Rita Lee também divulgava em suas redes sociais problemas e maus tratos aos bichos. A cantora se tornou vegetariana e incentivava seus seguidores a adotarem um estilo de vida mais saudável e sustentável, que respeitasse a natureza e os seres que nela habitam. Rita Lee também já participou de campanhas e eventos em prol da causa animal, como o "World Animal Day", que acontece em todo o mundo no dia 4 de outubro, e o "Dia de Proteção aos Animais", que é celebrado no Brasil no dia 14 de março. A artista também já se envolveu em projetos de adoção de animais e de proteção às espécies em extinção, como os micos-leões-dourados.

terça-feira, 4 de abril de 2023

O gemido das emas na História

 A imprensa noticiou a morte de Emas (Rhea americana) que moravam nos jardins da residência oficial da presidência da república. Foi diagnosticado maus tratos às aves durante o governo de Jair Bolsonaro. Esses animais se tornaram notícias ao serem perseguidas pelo ex-presidente que as molestou com caixas de cloroquina. Também foi noticiado ataques das emas a ministros e ao próprio presidente. 

Atualmente as emas ocupam de maneira tímida as áreas naturais do território brasileiro, isso está relacionado não apenas pela caça dessa animal, mas principalmente pela diminuição das áreas de vegetação nativa e o avanço da agricultura que alteram drasticamente o habitat da maior ave do nosso país. No entanto, antes da invasão dos europeus, as emas se apresentavam em grande número por diferente regiões da América do Sul. Algumas etnias indígenas realizavam a criação dessas aves para consumo de sua carne, ovos, pele para vestimentas e penas como adereços ou até abanadores. A constelação Cruzeiro do Sul estava identificada como a pegada de uma ema. 

Durante o período colonial no Brasil, as emas, também chamadas de nandu, guaripé e xuri, parecem ter sido reconhecidas pelos invasores europeus, por ser uma importante fonte de proteína e provavelmente pela sua grande capacidade de atingir alta velocidade. 

Ao longo das invasões holandesas no Brasil, a ema, registrada nos documentos coloniais como avestruz, figurava como principal elemento do brasão da Capitania do Rio Grande (1639), administrada João de Barros. Seu território situava-se entre a foz do rio Jaguaribe (a norte) e a baía da Traição (a sul). Os registro históricos apontam para a abundância dessa ave nessa região. O historiador Capistrano de Abreu reconhece nela um "precioso dote para formas animais que vivem correndo pelo solo [com] uma perna comprida e capaz de corresponder a fortes exigências...a gigantesca Ema".



O naturalista Charles Darwin, quando viajou pela América do Sul, ficou muito impactado pelas emas e as incluiu na sua célebre teoria da Evolução. Estudos na região da Patagônia indicam a importância dessa ave para os Ameríndios durante o Holoceno, sendo encontrados pinturas rupestres que registram suas patas em locais como a Cueva de las manos. 


O historiador Luís Câmara Cascudo discorda da existência das emas na região da Capitania do Rio Grande. Segundo ele, o brasão homenageava um importante chefe dos cariri, chamado Janduí, que estabeleceu aliança com os holandeses e seu nome tupi seria uma corruptela de Nhandu que significa corredor, veloz, aquele que se desloca rapidamente - assim como as emas. Fato é que esse animal figurou desde a estampa de sabonetes até letras de música como 'O canto da ema' de João do Vale, interpretada por Jackson do Pandeiro e fala da crença popular do mau sinal quando essa ave vocaliza sobre o tronco da árvore jurema, indicando o fim do amor.  

O canto das aves e a própria árvore jurema estão relacionadas com as religiosidade, o mágico e os prenúncios do mundo sobrenatural. Talvez políticos de Brasília não souberam ler esses sinais ou mexeram com os animais errados.  

Fontes
ABREU, João Capistrano de. Capítulos de história colonial (1500-1800). Brasília, DF: Senado Federal. 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

O gato na última ceia: símbolos renascentistas da natureza

Domenico Ghirlandaio nasceu em Florença - Itália no ano de 1449. Ali desenvolveu seu talento como pintor renascentista até alcançar grande prestígio entre os maios importantes artistas da época, Botticelli e Filippino Lippi. Seus trabalhos influenciaram toda uma geração de pintores e um de seus aprendizes se tornou muito famoso: Michelangelo. 



Dentre suas muitas obras, Ghirlandaio pintou o afresco 'A ultima ceia' em 1481 para a igreja franciscana de Ognissanti em Florença e outra pintura muito semelhantes com o mesmo tema bíblico para o refeitório da Igreja Dominicana de São Marcos em Florença. A diferença entre os dois afrescos é a seguinte: em uma das pinturas há a presença sutil de um gato. 


Os estudos de história da arte demonstram que durante o período conhecido como Renascença (entre os século XIV e XVI) os gatos simbolizavam  o próprio Satanás - antagonista do Deus dos cristãos segundo os textos bíblicos. Essa associação ganhou força durante os anos da Peste Bubônica quando muitos europeus acreditavam que a doença era causada pelos próprios felinos. As bruxas também foram relacionadas aos gatos, que pareciam incomodar os humanos a partir de seu comportamento naturalmente misterioso. 


É sabido que na Europa, durante a Quaresma, a Igreja Católica incentivou o assassinato e tortura de gatos ao pregar que esses felinos estavam possuídos pelo demônio. Cada vez mais práticas de extermínio de gatos se tornavam comuns na Europa renascentista com rituais de prisão dos felinos, queima de seus corpos em praça pública e até mesmo o arremesso desses pequenos mamíferos do alto de torres. Nesse contexto, o gato de Ghirlandaio na 'Ultima ceia' parece merecer a consideração de protagonista da obra de arte. 

Outros símbolos da natureza

A 'Ultima Ceia' Ghirlandaio também conta com outros elementos da natureza carregados de simbolismo:  os tradicionais pão e vinho representam o corpo e o sangue de Cristo. Os damascos simbolizam o pecado. As cerejas também representam o sangue de Cristo. As nozes são símbolos da Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo. O alface é uma hortaliça com o significado de penitência e as frutas cítricas, especialmente a laranja, são símbolos da vida eterna e apontam para a ideia de Paraíso.

Ao fundo, como em segundo plano do afresco, notamos a presença de  árvores coníferas da família Crupressaceaehá, comumente chamadas de  ciprestes como símbolos de redenção. O céu é cortado por muitos pássaros, eles também se apresentam como símbolos. Esse é o caso gavião atacando um pato. Os patos representavam a perversidade e as alegrias terrenas que atrapalhariam a consagração dos humanos a Deus. As codornizes e estorninho-malhado são símbolos penitência. 

Por fim, outra ave que chama atenção está na janela da direita e se trata de um pavão que a tradição dizia ter uma carne que nunca estragava e representava a ressurreição e imortalidade. O pavão também é símbolo de pureza e incorruptibilidade, sendo motivo de decoração em muitos mausoléus cristão no período da renascença. 

Para saber mais:
TORREY, E. Fuller; TORREY, E. Fuller. The Rise of Cats and Madness: I. The Renaissance. Parasites, Pussycats and Psychosis: The Unknown Dangers of Human Toxoplasmosis, p. 29-41, 2022.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Búfalos no carnaval: história ambiental na passarela do samba

A escola de samba Paraíso do Tuiuti, com sede no bairro carioca de São Cristóvão, escolheu como enredo 2023 a história da introdução do búfalo (Bubalus bulalis)  na Ilha de Marajó - extremo Norte do Estado do Pará. O desfile ocorrido na noite de segunda-feira além de muito bem avaliado pela crítica pela profusão de cores, o diálogo com a rica cultura paraense e um samba enredo contagiante também foi uma aula de história ambiental. 


A escola fez do búfalo o protagonista de seu enredo. Segundo o carnavalesco João Vítor Araújo, a introdução do animal teria acontecido no século XIX, quando ocorriam fluxos comerciais de especiarias por meio de navios carregados de temperos que partiam da Índia. Os búfalos teriam sido embarcados na Índia com destino à Guiana Francesa. Ao passar pela costa brasileira, uma tempestade levou o navio a naufragar depois de bater em uma pedra. Todos os tripulantes teriam se afogado e somente os búfalos sobreviveram. Conseguiram chegar nadando até ao arquipélago do Marajó, onde tiveram sucesso em sua adaptação. 

Assim como outras espécies animais e vegetais, o Pará foi a porta de entrada dos búfalos no Brasil. Relatos informam uma história distinta daquela apresentada pela Tuiuti. Em fins do século XIX, colonizadores ingleses e franceses que circulavam pela costa brasileira com destino a Guiana Francesa e o Caribe teriam desembarcado búfalos no Marajó de maneira proposital. 

Os registros da Associação Brasileira de Criadores de Búfalo (ABCB) indicam que em 1902 o sr. Bertino Lobato de Miranda importou búfalos de Itália para sua Fazenda São Joaquim. Outro documento aponta para uma segunda importação, desta vez em 1906 realizada pelo advogado e folclorista Vicente Chermont de Miranda para sua Fazenda Dunas e Ribanceira. 

As contradições históricas e eventuais equívocos do enredo não desmerecem de forma alguma a aula de história ambiental dada pelo Paraíso de Tuiuti. Além de nos remeter a primeira grande batalha ocorrida na Guerra do Paraguai, a palavra Tuiuti curiosamente em tupi-guarani significa 'lamaçal', 'pântano'e/ou 'variedade de ave branca'. Podemos estabelecer alguma relação com o búfalo que habita locais alagadiços, pantanosos e tem seu dorso visitado por aves brancas. 

Ao escolher o búfalo como protagonista da história, a Tuiuti foge de uma história que privilegia os seres humanos e reafirma o antropocentrismo. O enredo amplia nossa compreensão sobre o passado ao pensar sobre a circulação e aclimatação de animais em diferentes partes do planeta. Também aproxima a fauna asiática da natureza amazônica, refletindo sobre múltiplos intercâmbios (isso está presente em todas as alas do desfile). Conhecemos, portanto, o passado brasileiro a partir de um ângulo novo e mais interessante para o grande público. Uma oportunidade de escrever uma história atrativa que conecta mistérios indígenas, economia pecuária eurodescendente e cultura musical afro-indígena. 

A partir do búfalo como personagem central, desenrola-se uma história potente. Assim é a história ambiental, uma proposta que amplia nossa compreensão sobre o passado, revelando novas perspectivas sobre temas importantes. Assim é a história dos animais, uma maneira de incluir novos personagens no centro do debate, questionar os prejuízos dos estudos antropocêntricos sem deixar de lado as questões das sociedades humanas. A escola Paraíso do Tuiuti descobriu essa potencialidade, outras escolas ainda não.  

Fontes

SANTOS, Jannes Mendonça dos. Atualidades na produção de búfalos na ilha do Marajó- Pará. Orientador: Sebastião Tavares Rolim Filho. 2020. 19 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Zootecnia) – Universidade Federal Rural da Amazônia, Campus Belém, PA, 2020.

MINERVINO, Antonio Humberto Hamad et al. Bubalus bubalis: a short story. Frontiers in veterinary science, v. 7, p. 570413, 2020.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Profit, a environmental history by Mark Stoll

Profit
Mark Stoll Polity (2023)

Um smartphone é uma “caixa de Pandora dos males ambientais”, escreve Mark Stoll. O dispositivo simboliza tanto os benefícios quanto os fardos do capitalismo, ele argumenta em sua história de lucro desde os tempos antigos até o presente, a primeira de um historiador ambiental. Com conhecimento, habilidade e histórias de inventores, empreendedores e conservacionistas, ele traça desenvolvimentos em tecnologia, transporte, energia, comunicação, comércio e finanças. Não podemos viver com capitalismo ou sem ele, diz ele, então devemos trabalhar para “melhorar seus piores efeitos”.

Profit , diz o autor e historiador ambiental Mark Stoll, é “uma história do capitalismo que busca explicar como o capitalismo mudou o mundo natural e como o meio ambiente moldou o capitalismo”. É um livro abrangente que leva os leitores desde a antiguidade até o consumismo global impulsionado pela Internet de hoje, explorando as consequências ambientais ao longo do caminho.

O capitalismo emergiu em uma série de estágios, desde os mercadores gregos e romanos, através das eras do império, do capitalismo de plantação e da Revolução Industrial. Cada um deles tinha tecnologias e ideias diferentes, como o desenvolvimento de técnicas de contabilidade mais sofisticadas ou moedas comerciais.

Cada etapa teve um impacto ambiental também. Isso é algo que tende a ser discutido a partir da era industrial, com foco na poluição ou nas mudanças climáticas. Sempre houve um custo, porém, em florestas perdidas ou solos esgotados. A cada avanço da economia, aumenta o potencial de danos ao meio ambiente. Cada vez é uma aceleração de um padrão existente: “lucramos e sempre lucramos às custas da natureza”.

É interessante ver alguns exemplos iniciais de problemas que nos preocupam hoje. O desperdício de baterias de carros elétricos, por exemplo, ecoa um problema anterior com a poluição das baterias da rede telegráfica americana. Os problemas ambientais também mudaram, e diferentes lugares ganharam destaque e depois desapareceram à medida que os recursos se esgotavam ou a produção industrial mudava. Swansea já foi o centro global da produção de cobre, com toda a poluição que isso acarretava. As mudanças climáticas também tiveram um efeito – períodos de frio incomum devastaram populações no norte da Europa, mas beneficiaram agricultores no Oriente Médio.

Ao contar a história, Stoll pega alguns personagens-chave e tece a história em torno de suas histórias de vida. Andrew Carnegie serve como um estudo de caso na produção de aço e nas mudanças que ela permitiu. Jeff Bezos nos leva ao capitalismo de consumo.

Como estou mais familiarizado com os estágios posteriores da história, aprendi mais com os primeiros capítulos. É fascinante ver como o Império Romano precisava de 'zonas de sacrifício', poluídas em outros lugares ao redor de minas e operações de fundição. Ou como o desmatamento foi tão generalizado que afetou potencialmente os padrões de chuva, levando a mudanças regionais no clima. À medida que o capitalismo progrediu e se expandiu, mais e mais lugares ao redor do mundo foram atraídos para essa dinâmica, mas ela sempre esteve lá. E para nos tirar da crise climática e de biodiversidade em que estamos hoje, precisamos de formas de indústria e comércio que sejam regenerativas em vez de extrativas.

Claro, a história do capitalismo não é um conto de infortúnio incessante, e seria um erro descrever apenas os aspectos negativos. Como Stoll escreve na introdução, há dois aspectos na palavra 'lucro'. Há a sugestão de excedente e extração, algo levado. Lucrar com alguma coisa é também se beneficiar dela, e o título do livro foi escolhido para refletir ambos os significados. O desafio para o futuro é manter os benefícios, eliminando e restaurando os danos que o capitalismo tende a deixar para trás.

Resenha escrita por Jeremy Williams publicada no site The Earthbound.report

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

A History of the Wind, por Alain Corbin


A History of the Wind
Alain Corbin (transl. William Peniston) Polity (2022)

Por milênios, pouco se sabia sobre a ciência do vento. Aristóteles o via como um fluido elementar, ao lado da água, da terra e do fogo. No final do século XVIII, a composição química do ar foi revelada; posteriormente veio o desenvolvimento da meteorologia através do mapeamento das correntes de ar globais e dos conceitos de troposfera, estratosfera e corrente de jato. Tudo isso faz parte da breve história de Alain Corbin, mas ele se concentra na reação de artistas, escritores e viajantes desde a Grécia antiga ao “enigma indecifrável” do vento.

Todos conhecem o toque do vento, sua presença, sua força. Às vezes ele ruge e uiva, outras vezes ouvimos seus suspiros melancólicos e sentimos suas carícias calmantes. Desde a antiguidade, os humanos testemunham o vento e contam com ele para navegar nos mares. E, no entanto, apesar de sua presença no cerne da experiência humana, o vento evitou o escrutínio em nossas crônicas do passado.

Alain Corbin mostra como, antes do século XIX, o ruidoso vazio do vento era experimentado e descrito apenas de acordo com as sensações que provocava. As imagens do vento aparecem com destaque na literatura, desde os épicos gregos antigos, passando pelo Renascimento e o romantismo até a era moderna, mas pouco se sabia sobre de onde vinha o vento e para onde ia. Foi somente no final do século XVIII, com a descoberta da composição do ar, que os cientistas começaram a entender a natureza do vento e suas trajetórias. A partir daí, nossa compreensão do vento foi moldada pela meteorologia, que mapeou os fluxos de ventos e correntes ao redor do globo. Mas enquanto a ciência nos permitiu entender o vento e, em alguns aspectos, para aproveitá-lo, o vento não perdeu nada de sua força misteriosa. Ele ainda tem o poder de destruir, e na presença etérea do vento ainda podemos sentir sua conexão com a criação e a morte.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

A Natureza em Di Cavalcanti

Di Cavalcanti é Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque Melo (1897 – 1976). Foi um dos mais importantes artistas brasileiros que deixou seu legado como pintor modernista. Os estudiosos do tema destacam sua originalidade em registrar o carnaval, figuras femininas negras com protagonismo e o tropicalismo. Todos esses temas estão relacionados com elementos da Natureza como a flora pujante brasileira em cores vibrantes, o mar e também os pássaros em alguma harmonia quase doméstica com os humanos. 


No dia 8 de janeiro de 2023, um numeroso grupo de militantes do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiu o Palácio do Planalto e com violência vandalizou um dos mais belos murais de Di Cavalcanti que está em permanente exposição no Salão Nobre do referido palácio. 

Nomeada de 'As mulatas' (1962) (termo atualmente bastante questionável pela carga pejorativa que assume), o mural inspirado em técnicas mexicanas apresenta um cenário do cotidiano analisado por muitos estudiosos como uma representação racial e de gênero fundamental para entendermos a construção da identidade brasileira. Entretanto, queremos destacar outros elementos da Natureza que reforçam sua importância para a História da Arte Nacional.

A cena litorânea mostra a presença de uma vegetação exuberante. Há plantas domésticas que decoram mais próximas do pátio e grandes árvores em segundo plano que valorizam a zona urbana devidamente arborizada, construindo um clima agradável, ameno e sombreado à beira mar. 

Ao fundo do mural identificamos frondosas montanhas, o mar e a chegada de barcos trazendo o resultado da pescaria para abastecer a mesa dos moradores da cidade. Isso parece estar em diálogo com a ação da personagem sentada sozinha tratando os peixes para alimentação. 

Percebemos um interessante contraste entre o trabalho (mulher tratando os peixes) e o lazer representado pelas três personagens com traços mestiços sentadas conversando ao som de música as redor da mesa com um cesto de pães - uma delas toca um instrumento de corda. Dois pássaros próximos à mesa estão à espreita para se alimentar das migalhas dos pães, parecendo reforçar o clima de entretenimento familiar, semelhante às pombas que habitam as praças - lugar de passatempo e diversão. 

Peixes e o trabalho. Pássaros e a diversão. 

Notamos que em outras obras de Di Cavalcanti os pássaros estão presentes em liberdade ou em gaiolas como protagonistas de uma cena familiar nos alpendres das residências. Assim, tão importantes quanto as figuras humanas, outros elementos da Natureza ampliam nossa compreensão sobre os significados da obra desse artista modernista. 

Referências

CHAMON, Andréa Regina Marques et al. As “mulatas" de Di Cavalcanti–um estudo em Psicologia Social. UFPR. 2017.

ALMEIDA, Marina Barbosa de. As mulatas de Di Cavalcanti: representação racial e de gênero na construção da identidade brasileira (1920 e 1930). UFMG, 2007.