segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Índia, história e natureza - parte 4/4

Chego ao final das postagens sobre a exposição Índia - lado a lado apresentando algumas fotografias e percebendo que esse tipo de registro é algo que distinguia a elite dos demais.

Ao lado, a fotografia que mais me chamou atenção, um Menino da elite em trajes ocidentais c. 1900 - c. 1930, impresso em papel gelatina-prata. para mim, a foto resume muito bem a história de desenvolvimento da Índia (e de certa forma, das colônias), a elite nativa incorporando costumes e o vestuário dos dominadores, registrando sua aparência e o que pra mim é mais interessantes, tendo como fundamento a destruição da natureza. Note que a mão do garoto está apoiada sob o que restou de uma árvore.

Trago uma foto que registra a presença dos animais nas ruas indianas - um macaco, um cachorro e a escultura de um elefantes. Na legenda diz assim: A véspera..., Ayodhya, 1992.


A fotografia seguinte expressa a influência britânica na arquitetura, chamando minha atenção para a ausência de árvores na cidade.


Por fim, em papel-gelatina, uma fotografia com o título Criança de família nobre a cavalo, data do início da década de 1900. Com trajes típicos o garoto posa como se cavalgasse, o cavalo dá o tom de nobreza.
Fotos de Maria Gabriela Bernardino, a que agradeço pela fotografia e pela amizade.

sábado, 28 de janeiro de 2012

A cor local: natureza, arte e experiência

Tenho pensado muito sobre a importância de dar atenção à experiência dos homens na história, dito de outra maneira, como os acontecimentos cotidianos conformam a vida dos indivíduos, seu modo de pensar, como as relações sociais afetam sua visão de mundo. Tudo isso me leva a pensar como a natureza também deve ser considerada nessa análise.

Ontem assisti o filme "Local color" (em português, O mestre da vida), um drama dirigido por George Gallo que trata da vida de John Talia Jr., um estudante de artes. Ao conhecer Nicoli Seroff, ele insiste para que o ensine a pintar. Mas Seroff não só desistiu da arte, mas também da vida e quer ficar em paz. No entanto, Seroff convida John para passar uma temporada em sua casa. Nessa estadia podemos perceber alguns diálogos preciosos e a experiência moldando a vida de ambos - nesse aspecto destaco o papel da natureza na criação artística dos pintores.

Para além dessa relação da natureza viva e real influenciando a mente do pintor, gostaria de destacar o texto que inicia o filme:

"Sempre há um idiota que nos julga pelo que fazemos. As piores críticas normalmente vêm de pessoas que não fazem idéia do que fazemos. Não têm dons próprios... e que ficam irritadas quando estamos felizes... e alegremente nos provocam.

A menos, é claro, que estejamos deixando o mundo mais feio. Então, esse tipo de pessoa vai segurar nossa mão com prazer... E dançar conosco na sarjeta, dizendo que, assim como eles, vemos como aquilo é horrível e se comprazem em comemorar.

Mas qualquer idiota pode ver como as coisas estão feias. Não é preciso ter dom para isso.
Se decidir ser cínico, será uma escolha infeliz. Os cínicos normalmente têm razão.
Os românticos normalmente estão errados. Mas o romântico só precisa estar certo uma vez na vida... Quando escolher seu verdadeiro amor".

Outras frases me chamaram muita atenção também:

"O sentimento é o inimigo das elites"

"As árvores são como pessoas nuas dançando nas encostas"

"As nuvens são esconderijos dos anjos"

"Na cidade onde o homem controla totalmente o seu meio ambiente, acho que é fácil acreditar que ele é tudo mas aqui onde aceitamos as coisas como a natureza quer e não como nós queremos é libertador. A pressão diminui quando descobrimos que não somos tão importantes"
"Se vê beleza em toda parte, em tudo, sua alma é libertada, ninguém pode roubá-la".

"Na minha opinião, ateus nunca serão grandes pintores, para cirar uma arte grande, o homem deve fazer as pazes com a mortalidade e reverenciar o maior reverenciador. O dever dos artistas é elevar a alma humana, a ignorância nos leva exatamente a isso".

Quem foi esse pintor impressionista?
Nicolai Seroff foi baseado na vida do pintor russo George Cherepov (1909-1987), ficou conhecido pelo uso da cor nos mais variados assuntos, incluindo paisagens, mares e naturezas mortas. Publicou o livro Discovering Oil Painting (New York: Watson-Guptill Publications, 1971).
George Cherepov, Oil on Board "The White Horse" Signed lower right 1978 12" x 16"
Você assiste o filme completo nesse link: http://www.youtube.com/watch?v=ZkZ8hJmoULQ

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Disciplina Natureza e História com o Prof. Pádua na UFRJ

Foi disponibilizado o elenco das disciplinas do primeiro semestre de 2012 do PPGHIS - UFRJ e destaco dois cursos:

Natureza e História com o Prof. Dr. José Augusto Pádua
Quinta-feira, de 09:00 às 12:00 - Sala: Afonso Carlos - IHS 819 - Turma 7566

O curso pretende discutir, mesmo que de maneira seletiva, o estado da arte do tratamento do tema da natureza na historiografia contemporânea. A discussão focalizará alguns trabalhos especialmente relevantes, agrupados segundo determinados eixos conceituais e temáticos que possam fornecer uma clara indicação da riqueza, densidade e relevância das análises.

PROGRAMA
Aula 1 – Introdução Geral ao Tema e ao Programa
PARTE I: A RELAÇÃO ENTRE NATUREZA E HISTÓRIA COMO PROBLEMA TEÓRICO
Aulas 2 e 3: Conceitos de Natureza e Teorias da História
Aulas 4 e 5: Além do Dualismo: O Diálogo Necessário entre História, Antropologia e Ecologia
PARTE II: O TEMA DA NATUREZA NA HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA - ALGUNS CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Aulas 6 e 7 – Darwinismo, Ecologia e a Radicalização do Enfoque Histórico no Entendimento da Natureza
Aula 8 – Revisitando a Relação entre Geografia e História
Aula 9 e 10 – Região, Paisagem e História.

PARTE III: A NATUREZA COMO PROBLEMA HISTORIOGRÁFICO - ALGUNS TEMAS FUNDAMENTAIS
Aulas 11 e 12 - A Floresta como Objeto Historiográfico
Aulas 13 e 14: A Circulação de Plantas e Animais como Objeto Historiográfico.
Aula 15 - Germes e Doenças como Objeto Historiográfico
Aula 16 - O Clima como Objeto Historiográfico


História e cidades nas Américas com a Profa. Dra. Lise Fernanda Sedrez
Terça-feira, das 14:00 às 17:00. Sala: Afonso Carlos
IHS 821 – Turma 7576

Para ter acesso às outras disciplinas ofertadas pelo PPGHIS:

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Índia, história e natureza - parte 3/4

Retornando às nossas postagens sobre a exposição Índia - lado a lado, quero compartilhar 3 trabalhos muito ricos que nos apresentam essa relação que temos analisado aqui, entre a sociedade indiana e os animais.

O primeiro deles é a lápide de um cavalo, datada da segunda metade do século XIX, encontrada no maior Estado da Índia, Rajastão. Localizado no noroeste , o Rajastão faz fronteira com o Paquistão e é conhecido por ter em sua área terras desérticas, destaque para o Deserto de Thar. Esse lugar a locomoção dos seres humanos é muito facilitada por animais de carga, como o camelo e o cavalo.

A lápide, uma escultura em mármore, foi uma doação do banqueiro suíço-alemão Eduard von der Heydt (1882-1964) e está sob a tutela do Museu Rietberg Zurich e expressa a importância que o cavalo tinha naquela sociedade e para seu dono.

Os animais também aparecem nessa obra de cerâmica. Na base uma serpente, os cavalos outra vez carregando uma espécie de guerreiros e também camelos. Esses animais de alguma maneira contribuíam com atividades comerciais, transportando materiais. Muito interessante essa relação com a utilidade dos animais e sua expressão simbólicas - veja o Ganesh e sua forma de elefante.

Finalizamos com as máscaras de animais do Estado indiano de Karnataka, fabricadas de latão. Ao centro a máscara de Jumadi, uma divindade de Talu Nadu - área de Karnataka.

A representação de animais através de máscaras tem sido uma prática que tem sobrevivido desde tempos mais remotos. O poder e a fúria dos rostos de animais sempre encantaram o homem. Animais mitológicos e reais continuam a ser um componente poderoso de religião popular e ocupar um espaço sagrado nas mentes dos nativos.

Fotos de Maria Gabriela Bernardino.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

São Paulo e a vigilância comemorativa

O padre José de Anchieta em carta aos seus superiores da Companhia de Jesus:
"A 25 de Janeiro do Ano do Senhor de 1554 celebramos, em paupérrima e estreitíssima casinha, a primeira missa, no dia da conversão do Apóstolo São Paulo e, por isso, a ele dedicamos nossa casa".

Faço uma pausa nos posts sobre a Índia para dar os parabéns a maior e mais importantes cidade brasileira. Hoje, a capital paulista completa 458 anos de sua fundação, concentrando o que há de melhor do circuito cultural em nosso País. Pelo seu desenvolvimento econômico, também é a expressão do consumismo e das tentativas frustradas de resolver problemas sociais crônicos, como o desrespeito ao meio ambiente e o déficit habitacional (sem contar a construção de estádios particulares com dinheiro público).

Certamente, os telejornais irão explorar à exaustão esse tema, tentando convencer a todos, inclusive seus moradores, que a cidade é um lugar aprazível. Essas comemorações efusivas tem um grande motivo político. Já dizia Le Goff que se tornarem senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva (1994: 426).

Pierre Nora, sobre essas comemorações artificiais diz que sem vigilância comemorativa, a história os varreria rápido. Uma espécie de catequese. E aquele nativo em pé, no quadro de Antônio Parreiras, o primeiro expropriado - sua terra nunca seria mais a mesma, mesmo assim continuam tentando lhe convencer que é um bom lugar pra se viver, E ELE EM PÉ.

A imagem: Fundação da cidade de São Paulo, 1913. Antônio Parreiras (Brasil, 1860-1937); Óleo sobre tela, 179 x 200cm; PESP: Pinacoteca do Estado de São Paulo; São Paulo, SP.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Índia, história e natureza - parte 2/4

Continuando a escrever sobre a exposição Índia - lado a lado, quero compartilhar minhas impressões sobre os tecidos para enfeitar paredes produzidos pelos artistas indianos.

A imagem aqui ao mostra uma cena da tribo Warli, e é uma arte feita por seus próprios habitantes. Essa tribo vive em Maharashtra , um dos 28 Estados indianos. As pinturas são feitas nas paredes das cabanas, usando pigmento e tintura de arroz sobre o algodão, como instrumento, os artistas usam escovas de cabelo animal ou com poucos ramos de árvore.

A cena mostra a dança do tarpa com a participação de seres humanos e outros animais, vemos árvores e uma interessante separação entre um lugar não devastados (parte inferior) onde há alguns animais e uma espécie de capoeira onde os moradores celebram o ritual e estão em ação - um fascinante cena na qual presenciamos a ação dos Warli.

Na arte seguinte, vemos elefantes, cavalos, pássaros e árvores decorando o tecido de parece. Para o povo Warli, a natureza é considerada mãe e desenvolvem crenças animistas e fundamento de todas as suas tradições.


Nesses tecidos de parede, também são contadas histórias da cultura indiana, histórias das conquistas, sempre contando com a figura dos cavalos.

Finalizo o post de hoje com um ultimo pano decorativo de parede com motivos religiosos em linguagem infantil.

Fotos de Maria Gabriela Bernardino

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Índia, história e natureza - parte 1/4

Nesta ultima semana da exposição Índia - lado a lado (no CCBB/RJ), postarei alguns pensamentos que habitam minha mente a partir do contato que tive ali - buscando essa relação meio ambiente e sociedade. Começo pelas Terracotas de Tamil Nadu (um dos 28 estados indianos - ao sul): figuras de barro tradicionalmente exibidas na entrada das aldeias, como o cavalo de Ayyanaar - o protetor da vila contra os males.

As esculturas de terracota são feitas de uma mistura de barro com palha úmida e areia. Algumas partes são queimadas separadamente (algumas tem mais de 6 metros de altura). O rosto pintado de vermelho (símbolo de raiva) e o pescoço de azul (símbolo de calma).

Os detalhes do cavalo atestam sua maior importância em relação ao touro, pois é nele cavalgando que Ayyanaar protege os moradores da vila. A exposição deixa claro como os animais fazem parte das crenças da Índia, pertencendo com a mesma força ao mundo material e ao mundo
espiritual. A produção de figuras votivas pelos habitantes de Tamil Nadu usam representações de seres conhecidos para os protegerem de forçar desconhecidas - fascinante como esses homens lidam com essas dimensões utilizando seres da natureza.

As esculturas antigas em Tamil Nadu demonstram a importância do cavalo para aquela sociedade, tanto no aspecto econômico quanto religioso. Os touros são tratados de outra maneira, mas também tem seu destaque, representam possibilidade de ataque e perigo aos adversários.

Fotos de Maria Gabriela Bernardino.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

História e Natureza no Encontro Nacional de História Oral

O XI Encontro Nacional de História Oral - RJ 10 a 13 Jul 2012 contará com o ST 014 e o MC 007 com ênfase na relação entre história e natureza, confira:

Simpósio Temático 014. História, Natureza, Cultura e Oralidade

Coordenadores: MARCOS FÁBIO FREIRE MONTYSUMA (Doutor(a) - UFSC), TEMIS GOMES PARENTE (Pós Doutor(a) - Universidade Federal do Tocantins)

Resumo: O GT “História, Natureza, Cultura e Oralidade” busca discutir as relações entre o homem e seu ambiente, na perspectiva da história ambiental, um novo campo que vem se firmando na produção historiográfica brasileira nos últimos tempos. Trata-se de refletir a relação entre natureza e cultura, em suas múltiplas possibilidades. Neste sentido as temáticas e objetos de investigação são de possibilidades amplas, passando pelo processo de ocupação e exploração e transformação do meio ambiente e os impactos ambientais, os movimentos sociais e as lutas pelo direito aos bens da natureza em seus mais diferentes biomas. Debates sobre o desenvolvimento sustentável, o agronegócio, espaços de trabalho, ambiente fabril, moradia, memórias, entre tantos outros. As fontes para os estudos no campo da história ambiental são as mais diversas. Aqui nos interessam as comunicações que trazem como fontes fundamentais narrativas, depoimentos, memórias de sujeitos que vivenciaram experiências onde natureza e cultura se entrecruzam.

Mini-curso - 007. História, Natureza, Cultura e Oralidade

Ministrantes: MARCOS FÁBIO FREIRE MONTYSUMA (Doutor - UFSC)

Ementa: O Mini-Curso “História, Natureza, Cultura e Oralidade” busca discutir as relações entre o homem e seu ambiente, na perspectiva da história ambiental, um novo campo que vem se firmando na produção historiográfica brasileira nos últimos tempos. Trata-se de refletir a relação entre natureza e cultura, em suas múltiplas possibilidades. Neste sentido as temáticas e objetos de investigação são de possibilidades amplas, passando pelo processo de ocupação e exploração e transformação do meio ambiente e os impactos ambientais, os movimentos sociais e as lutas pelo direito aos bens da natureza em seus mais diferentes biomas. Debates sobre o desenvolvimento sustentável, o agronegócio, espaços de trabalho, ambiente fabril, moradia, memórias, entre tantos outros. As fontes para os estudos no campo da história ambiental são as mais diversas. Discutiremos questões que trazem como fontes fundamentais narrativas, depoimentos, memórias de sujeitos que vivenciaram experiências onde natureza e cultura se entrecruzam.

Bibliografia

GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os (Des) Caminhos do Meio Ambiente. São Paulo: Contexto, 1989.
LEACH, Edmund. Natureza/cultura. In 5. Anthrpos-Homem. EINALD. Lisboa. 1985.
MORÁN, Emilio F. Ecologia humana das populações da Amazônia. Petrópolis: Vozes, 1990.
MONTYSUMA, Marcos F F. Senhores das matas: Experiências Extrativistas na RESEX Chico Mendes – Xapuri (1983-2002). Tese de Doutorado, PUC/SP, São Paulo:2003.
SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Gramond, 2000.
Schama, Simon. Paisagem e memória. São Paulo: Cia das Letras, 2009.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Vende-se uma monografia: a capela viva do sr. morto

Vende-se uma capela

Além de ter recebido algumas solicitações para baixar minha monografia, fui movido também pela mobilização do Fórum Landi diante da situação de venda em que se encontra a Capela Pombo - consequência do descaso das autoridades com o patrimônio artístico cultural da cidade (endereço da capela: Travessa Campos Sales, entre as Ruas Manoel Barata e 13 de Maio, Bairro do Comércio, em Belém-PA - quase em frente ao Arquivo Público).

O sentimento de que um trabalho acadêmico tem muitas dificuldades em pular para fora dos muros da universidade também me moveu para este post. Li que se arrematada, a capela pombo pode ser transformada em Centro Cultural. Seu uso religioso deve ser respeitado - esta é a conclusão mais importante da minha monografia que poderia ser levada ao menos em consideração intra muros acadêmicos. A Capela Pombo é o que o seus féis fizeram e fazem dela, seu dinamismo está na FÉ não nos traços de uma autoria NÃO comprovada de Antonio Landi. Espero que a capelinha não se tenha o mesmo destino que a Igreja de Santo Alexandre, mas que também seja preservada.
Você que é historiador me responda: Como sua pesquisa se relaciona com o mundo real? Em que ele contribui com a sociedade?

A Igreja poderia se envolver nesse assunto também, não?
O Fórum Landi está liderando um crowdfunding para arrecadar dinheiro e assim comprar a capela. Para acessar a campanha clique aqui.

MINHA MONOGRAFIA (download clique aqui)

Estou disponibilizando para download minha monografia de especialização, sob a orientação do professor Doutor Aldrin Moura de Figueiredo, realizada no departamento de arquitetura da Universidade Federal do Pará em 2007 / defendida em 2008, com o título CAPELA VIVA DO SENHOR MORTO: usos do oratório público no Grão-Pará do século XVIII.

Resumo
Este trabalho faz uma análise da trajetória da capela doméstica do século XVIII no Grão-Pará, especialmente o caso da Capela do Senhor Morto em Belém, e sua utilização como patrimônio histórico na construção da identidade da cidade. Na parte inicial faz-se um histórico da Capela Pombo e da utilização pública e particular, servindo aos objetivos religiosos e sociais da igreja ou da família patriarcal. Em um segundo momento traz uma análise da elaboração do discurso oficial realizado por alguns intelectuais para promoção da Capela a Patrimônio Histórico e Artístico valendo-se, como instrumento de valorização, da afirmação de que o arquiteto Antônio José Landi seria o autor do projeto de construção da Capela Pombo. Apesar disso o Oratório encontra-se em profundo estado de degradação física necessitando de reparos, mesmo assim os muitos visitantes diários garantem, como diria o educador patrimonial, o espaço vivo. O conteúdo do trabalho pode servir de instrumento para pensar a importância da Capela Pombo, não apenas pela sua história, seus traços arquitetônicos e artísticos ou pela autoria de seu projeto, mas pela sua dinâmica atual que contraria os esquemas de atração para visitação e preservação do patrimônio. E (re)pensar a construção do discurso patrimonial.

Palavras-chave: narrativa, capela, patrimônio.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A vida é feita de absurdos?

Gostaria de recomendar esse filme aos caros amigos que visitam meu blog. Não vou falar aqui da filosofia do filme, tampouco da fotografia, nem história ou natureza. Esse post é só dizer que vale a pena assistir. Nos faz pensar sobre o inusitado da vida, o encontro de pessoas, a construção de histórias. Assista "Um conto chinês".


Ricardo Darín (Abutres, O Filho da Noiva, O Segredo dos Seus Olhos), é Roberto, um veterano da Guerra das Malvinas que vive recluso em sua casa há vinte anos e coleciona manias. Mas esta história é também de Jun, um chinês que apareceu na vida de Roberto depois de ser roubado e arremessado de um taxi em Buenos Aires. Roberto não fala chinês e Jun não fala espanhol. Roberto procura o isolamento e Jun, um tio, seu único parente vivo. Apesar das diferenças e dificuldades Roberto e Jun descobrirão o real motivo deste encontro inusitado: uma vaca que caiu do céu.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Meus votos no aniversário de Belém


Hoje, aniversário de Belém do Pará (12.01.1616), e imagino quantas dezenas de blogs utilizaram a tela de Theodoro Braga para expressar as palmas à cidade das mangueiras (como é conhecida Belém) ou as vais - para aqueles que legitimamente escreveram sobre a desigualdade social que vitima os moradores da capital paraense.

Pois bem, não quero trazer filosofia pra festa de aniversário. Quero apenas pensar um pouco o quanto podemos estabelecer a relação entre Belém, o clima, as plantas, os rios, os animais, enfim, a natureza e seus habitantes, em uma perspectiva histórica. Pensar o quanto é enriquecedor para qualquer estudo histórico considerar a natureza loca - me parece que no caso da aniversariante isso torna-se imperativo.

Quanto a obra de Theodoro Braga, quis apenas divulgar àqueles que visitam este blog e não a conheciam, e evidenciar o que me chama atenção: a exuberância da natureza à beira da baía do Guajaráe principalmente um detalhe da construção do forte do presépio. Refiro-me ao cuido que o artista teve em retratar os construtores carregando madeiras. Enquanto do lado esquerdo do quadro a mata parece intocada, o lado direito nos apresenta esse processo de ocupação e sua direta relação com a derrubada da floresta.

Quis chamar atenção disso não para criticar os agentes da Coroa portuguesa - longe disso. Quis apenas dizer que esse é o momento retratado na tela que mais me faz pensar, pois para mim é uma ação que acompanha toda história dessa região, ocupação e a derrubada da floresta.

Enfim, minhas felicidades à cidade morena, desejo que seus governantes e moradores respeitem mais a natureza!

Para saber mais:
FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. A fundação da Cidade de Nossa Senhora de Belém do Pará, de Theodoro Braga. Nossa História, Rio de Janeiro, v. 1, n. 12, p. 22-26, 2004.

FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. Theodoro Braga e a história da arte na Amazônia In: ARRAES, Rosa (org.) A fundação da cidade de Belém. Belém: Museu de Arte de Belém, 2004. p. 31-87.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Novo número da Revista Estudos Amazônicos

Foi publicado o Volume VI, n.1 (referente ao ano de 2011) da Revista Estudos Amazônicos do PPG História Social da Amazônia - UFPA.

Dentre os ótimos artigos destaco:

“Para aumentar e conservar aquelas partes…”: conflitos dos projetos luso-americanos para uma conquista colonial (Estado do Maranhão e Grão-Pará, séculos XVII-XVIII) de Antonio Filipe Pereira Caetano.

Fazendo política, contando história: experiências sócio-literárias de um barão amazônico e seus Motins Políticos - 1865-1890 do amigo Luciano Demetrius Barbosa Lima.

Swaerooch: o comércio holandês com índios no Amapá (1600-1615) deLodewijk Hulsman.

Confira clicando aqui



terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Passarinhos militares


Desenhado pelo artista japonês SATO - com o tema "Army birds". As ilustrações apresentam passarinhos paramentados com uniformes militares como se estivessem preparados para atacar.

O desenhista se baseou em espécies e os uniformes que realmente existem.

Todos os 12 pássaros que você vê aqui ao lado podem ser vistos no link:

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Fotografia vencedora do concurso NatGeo 2011

A fotografia abaixo foi a vencedora do concurso 2011 de fotografias da natureza promovida pela National Geographic.

Clicada por Shikhei Goh, a sensibilidade e a beleza do encontro entre a chuva e libélula merecem que eu não comente nada - e essa é minha a intenção, compartilhar com você esse momento e tudo que ele pode fazer surgir da nossa alma.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Lise Sedrez em entrevista ao Café História

Na ultima quarta-feira foi publicado pelo site Café História uma entrevista Lise Sedrez, professora do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O site destaca a atuação acadêmica de Lise Sedrez no campo da História Ambiental - tema caro ao nosso blog. As respostas apresentam o desenvolvimento desse tipo de abordagem sobre o passado na perspectiva ecológica, mostrando como a professora foi atraída para essa forma de pesquisa histórica.

(...) o meu envolvimento com história ambiental tem um quê de paixão e um quê da acaso.

Sedrez também fala sobre a importância dos historiadores ambientais brasileiros no desenvolvimento desse tipo de pesquisa na América Latina. Com algumas novidades interessantes:

(...) a UFRJ vai organizar em dezembro de 2012 um simpósio EUA-Brasil sobre os principais temas de história ambiental nestes dois países.

Sobre o Laboratório de História e Ecologia ela diz:

(...) Em 2012, este espaço terá o prof. Angus Wright, emérito da California State University em Sacramento, ministrando um minicurso sobre história agrária e ecologia, uma discussão sobre internacionalismo, pesticidas, copyrights, modelos agrícolas, interessantíssimo.

Tenho a notícia de que é possível a vindo inclusive do Professor Donald Woster.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ao paraíso vestido de elefante: distância entre homens e bichos

Tendo provado que os corpos de homens e seres brutos são de um só tipo, é quase supérfluo considerar as mentes. Charles Darwin

Keith Thomas, na obra O homem e o mundo natural, utiliza como uma das epígrafes que abre o capítulo III, Homens e Animais, frase de Darwin. Seu objetivo é discutir como a experiência real dos homens com os bichos transformou a visão dos seres humanos sobre a fauna. Mas não é bem sobre isso que quero escrever neste post, mas sobre como o clip da canção Paradise do grupo britânico Coldplay me faz pensar sobre essa relação humanos x outras espécies.

Primeiro, vamos ao clipe:

Parece que diferente de Darwin, Mat WhiteCross (diretor do clipe) quis não só provar a semelhança entre corpos brutos e humanos, mas também que suas mentes são "do mesmo tipo". a busca pelo paraíso se confunde com o sentimento de liberdade, esse é um ponto que, na minha opinião, aproxima a mente de "brutos e humanos" - e ainda ontem conversava com uma grande amiga questionando: "E esses pobres cachorrinhos aprisionado nas coberturas da Zona Sul carioca, são realmente felizes?".E esses pobres seres humanos aprisionados na primeira classe das aeronaves, nos metrôs, escrevendo em blogs...são realmente felizes? Falando sobre os bichos, Keth Thomas monstra que ao longo da história houve muitos conflitos na Inglaterra a respeito da exclusividade humana da inteligência e até mesmo a imortalidade da alma dos animais - isto é, sobre as aproximações entre homens e bichos. E o paraíso? Onde está para os humanos? E para os elefantes?

Essa vontade que temos de enxergar nossos sentimentos em outras espécies movimenta o clipe e os passeadores de cães pelas ruas das cidades. Mas se vestir de elefantes parece ser uma boa saída pra descobrir o paraíso - natureza, amizade com os da mesma espécie - somos mais elefantes do que pensamos, animais brutos de pelúcia.

Quis apresentar os argumentos de Keith Thomas, refletir sobre como a cultura se apropria da figura animal e como há uma historicidade em tudo isso - não consegui. Para não cansar quem leu até aqui, termino destacando a cena que me fez escrever tudo isso: o suspiro do elefante na jaula (0:15s). Para mim, ali estão humanos e bichos, orgânico e psicológico - como é uma respiração profunda. Ali nasce o paraíso. ..Diante disso, "é quase supérfluo considerar" OS CORPOS - fico com as mentes.

A roda e a borboleta

Life goes on/ It gets so heavy / The wheel breaks the butterfly
Every tear, a waterfall / In the night, the stormy night
She'll close her eyes / In the night / The stormy night/ Away she'd fly


Me chamou atenção o trecho " The wheel breaks the butterfly" e me parece que o autor quis fazer uma relação com a expressão "Who breaks a butterfly upon a wheel?", que segundo pesquise na internet é uma citação - às vezes mal interpretado com "on" no lugar de "upon" - de Alexander Pope's em sua " Epístola ao Dr Arbuthnot "de Janeiro de 1735.

Pode ser tomado como se referindo a colocar enorme esforço para conseguir algo menor ou sem importância, e alude a " quebra na roda ", uma forma de tortura em que as vítimas tiveram seus ossos longos quebrado por uma barra de ferro enquanto amarrado a "roda de Catherine" uma máquina torturadora usada desde a Idade Média até o século XIX na Europa (imagem ao lado).

Sobre o Clipe
O clipe foi gravado na África do Sul e em Londres e foi dirigido por Mat WhiteCross. A música é o segundo single do álbum "Mylo Xyloto", que foi lançada em outubro de 2011 e é a canção mais tocada no Reino Unido.

Dados (In) dispensáveis:
1. Gosto muito da música e do clipe.
2. Acho o elefante um animal muito maneiro.
3. Sempre tive vontade de me fantasiar desses bichos de pelúcia.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Resenha do livro de Rafael Chambouleyron na revista Topoi

Em 2011 foi lançado pela editora Açaí "Povoamento, ocupação e agricultura na Amazônia (1640-1706)", de autoria do professor Dr. Rafael Chambouleyron.

A obra trata da ocupação e povoamento do Estado do Maranhão e Grão-Pará entre a restauração da Coroa portuguesa (1640) e o início do reinado de Dom João V (1707). O autor procurou discutir as políticas da Coroa em estabelecer um domínio mais efetivo sobre o território - a agricultura portanto é um dos instrumentos nesse contexto.

A natureza amazônica não é o objeto da investigação do livro, mas aparece ao longo da narrativa como elemento indispensável para entender grande parte da Coroa portuguesa (especialmente o capítulo 3). Nesse sentido publiquei uma resenha crítica do livro na Revista Topoi de número 23 (jul - dez 2011).

Como já informei acima, o livro foi publicado pela Editora Açaí; pela internet o livro pode ser adquirido no site da Livraria Cultura.

Trechos da resenha

autor parte da constatação de que a administração metropolitana passou a promover o controle, incentivo e ordenamento de importantes áreas da dinâmica colonial, como o povoamento, a economia, as atividades comerciais e a reprodução da força de trabalho.

O historiador aponta, ainda, que o início do plantio de cacau na região partiu de interesses particulares e não institucionais. Considera que, neste assunto, a participação atribuída pela historiografia aos jesuítas foi excessiva. Sem perder de vista seus objetivos.

Ao longo do trabalho, o autor demonstra estar atento, também, aos fatores ambientais, ao comentar a importância das epidemias de bexigas em 1640 e 1690 e as catástrofes naturais ocorridas nas ilhas açorianas (erupções vulcânicas, incêndios e terremotos) que motivaram a migração em direção ao Estado do Maranhão colonial.

Uma análise mais comprometida com as condições ambientais talvez contribuísse para a constatação de que os incentivos da Coroa não fizeram do Maranhão um produtor de açúcar tão relevante quanto Pernambuco e a Bahia. (leia a resenha completa)

Sumário do livro

I. Povoadores, degredados e soldados
“Pessoas que quiserem ir passar àquelas partes” / Soldados e degreadados / Casais das ilhas
Os irlandeses

II. Capitanias, sesmarias e vilas
As capitanias privadas / Terras e sesmarias / Vilas

III. Açúcar, tabaco e o cultivo das drogas
Açúcar e aguardente /Tabaco / O cultivo do cacau

Sobre o autor

Possui Graduação em História pela Universidade Estadual de Campinas (1991), Mestrado em História Social pela Universidade de São Paulo (1994) e Doutorado em História pela University of Cambridge (2005). Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal do Pará, atuando no curso de graduação em História e no Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia (que também coordena). Participa da comissão organizadora do IV EIHC.

Na disciplina História e Natureza, ministrada por ele no PPGHIS/UFPA, tive o primeiro contato com os texto de história ambiental, além de ter participado da banca de qualificação e defesa de minha dissertação.

Outros trabalhos importantes:

CHAMBOULEYRON, Rafael . João Francisco Lisboa, Vieira e a colônia. In: BEZERRA NETO, José Maia; GUZMÁN, Décio de Alencar. (Org.). Terra Matura: historiografia & história social da Amazônia. Belém: Paka-Tatu, 2002, v. , p. 67-83.


CHAMBOULEYRON, Rafael . Opulência e miséria na Amazônia seiscentista. Raízes da Amazônia, Manaus, v. 1, n. 1, p. 105-124, 2005.

CHAMBOULEYRON, Rafael . Plantações, sesmarias e vilas. Uma reflexão sobre a ocupação da Amazônia seiscentista. Nuevo Mundo-Mundos Nuevos, EHESS, Paris - FRANÇA, v. 6, p. 2260, 2006.

CHAMBOULEYRON, Rafael ; ARENZ, Karl Heinz ; NEVES NETO, Raimundo Moreira das . "Quem doutrine e ensine os filhos daqueles moradores". A Companhia de Jesus, seus colégios e o ensino na Amazônia colonial. Revista HISTEDBR On-line, v. N.Esp., p. 61-82, 2011.

CHAMBOULEYRON, Rafael ; BOMBARDI, Fernanda Aires . Descimentos privados de índios na Amazônia colonial (séculos XVII e XVIII). Varia História (UFMG. Impresso), v. 27, p. 601-623, 2011.