sábado, 26 de abril de 2014

A natureza no filme Noé, de Darren Aronofsky

O filme de Darren Aronofsky, Noé, tem recebido muitas críticas negativas e notas baixas dos críticos de cinema. Pois bem, eu vos direi o que penso. Caso você queria assistir um filme bíblico, fiel às Escrituras Sagradas, Noé NÃO é a melhor opção. Os que se desagradaram do longo reclama que não há fidelidade à narrativa original escrita por Moisés no Gênesis.

Penso que em nenhum momento Darren Aronofsky quis atingir a meta da fidelidade. Pelo contrário, os monstros de pedra que ajudam Noé a construir a arca, é, na minha opinião, uma mensagem clara de que o filme apenas toma os personagens para discutir questões propostas pelo diretor, como o papel dos humanos nos rumos que o planeta Terra está seguindo. Considero que o Aronofsky errou em não deixar isso claro no trailler, frustrando muitos de seus espectadores.

Apesar disso, achei corajoso como o autor propôs a pergunta: o que aconteceria se apenas os humanos fossem extintos no no dilúvio? As plantas e os outros animais viveriam felizes para sempre? É uma pergunta no mínimo interessante.

A natureza no filme ganha tons mágicos. É sugerido que alguns animais que entraram na arca foram extintos após o dilúvio, pois aparece uma espécie de canídeo com um couro bem resistente, semelhante a carapaça de um réptil - alguns interpretaram isso como uma sugestão de apoio ao evolucionismo. As plantas e os animais tornam-se protagonistas de muitas cenas que colocam os humanos como seres decadentes, impotentes diante do deserto, das feras e especialmente em relação a água.

A falta de alimentos, as paisagens desmatadas são intencionais para compor o argumento do diretor. Noé parece estar convencido de que as civilizações não merecem continuar existindo diante do tipo de relação que estabeleceram entre si e com o meio ambiente. A natureza é ao mesmo tempo a justiça do Criador e Sua protegida.

Caso você queira assistir ao filme, procure tentar refletir sobre as perguntas que as cenas encaminham. Preocupe-se menos com a fidelidade ao texto sagrado, pois é o propósito do diretor. Pense como realmente fazemos parte desse planeta acompanhando diversos outros seres vivos. E principalmente, perceba como não devemos esquecer do clima, da vegetação, dos animais, enfim, do que chamamos de natureza ao contar uma boa história.

sábado, 19 de abril de 2014

Putas ainda mais tristes: o que aprendi com García Márquez

Tenho uma química ruim com os animais, do mesmo jeito que com as crianças assim que começam a falar. Acho que são mudas de alma. Não os odeio, mas não consigo suportá-los porque não aprendi a negociar com eles. Acho contra a natureza um homem que se entenda melhor com o seu cão do que com sua esposa, que o ensine a comer e a descomer na hora certa, a responder perguntas e compartilhar suas penas.


Amig@s, na verdade, não vou falar sobre a Natureza na obra de García Márquez, que ontem nos deixou e que fará enorme falta neste planeta cheio de tantos escritores sem opinião, que pensam dentro da caixinha. Que não arriscam, contribuindo para a construção de grandes homens, aventureiros, destemidos, inventores de qualquer coisa.

Esta postagem é para relatar muito brevemente o que aprendi com este importante colombiano. Gostava quando ele dizia que o ato de escrever é um episódio de suicídio, considerando o grande esforço seguido do pouco aplauso do público. É alguma coisa desse tipo (então já agradeço você que leu até aqui). 

Além de ter aprendido que não se acorda uma adolescente virgem (kkk), gosto de todas as vezes que ele tira os santos de seus nichos, desconsidera as patentes militares, como quem diz: Ei! Vamos escrever narrativas questionadoras? Vamos parar de compor salmos aos reis, generais e os conceitos acadêmicos? Vamos reconhecer que "é impossível não acabar sendo do jeito que os outros acreditam que você é"?

Duvido que ele iria gostar de homenagens que o elevassem a status de príncipe ou santo. Seus personagens acompanham essa falta de santidade. E a medida certa como faz isso, é o que, em minha opinião, o coloca acima da média. Podemos contestar a "química ruim" com os animais e tantas outras outras coisas de seus personagens, mas não podemos deixar de reconhecer que a a sinceridade em sua narrativa deveria servir de incentivo para escrevermos com mais coragem e parar de criar heróis.

Antes de terminar, quero registrar que todas citações desta postagem são do livro "Memórias de minhas putas tristes", pois não li nada além disso (pressionado por tantas apostilas fotocopiadas me chamando em cima da escrivaninha). Quero ainda lembrar da ótima explicação que fez sobre o motivo de querermos organizar tudo, cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo e cada palavra em seu estilo. Tudo um "sistema completo de simulação inventado (...) para ocultar a desordem [de nossa] natureza". Concordo plenamente e confesso que lembro sempre disso quando encontro alguém com essa tal virtude. 

Sinto-me grato por ter encontrado as palavras de Gabriel, ou melhor, as palavras do jornalista apaixonado por Delgadina. Vale agora não esquecer, que mesmo os apaixonados, se fazem depois de tantas putas. As de Gabriel, agora, estão ainda mais tristes.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

A natureza no Museu pré-histórico de Thera (Santorini - Grécia)

Hoje vou escrever um pouco, tentando não ser cansativo, sobre o que vi no Museu de pré-história Thera, localizado na ilha grega de Santorini. Como não poderia ser diferente, meu olhar foi em busca das plantas e animais, ou tudo isso que chamamos natureza exposto no referido Museu. Antes de mais nada gostaria de dizer que não gosto muito da expressão "pré-histórico", pois não é correto considerar que essas civilizações não registravam seu passado.

Estátua de uma cabra de ouro

O museu está organizado em quatro: 1) a história da pesquisa arqueológica que resultou no museu; 2) a geologia de Thera 3) a história da ilha até o início do século XVII a.C (denominado período cicládico I) e 4) o restante do século XVII a.C (momento áureo daquela civilização).

plataforma para oferendas (golfinhos em detalhe)

Logo no início podemos ver fósseis de plantas que floresceram antes da ocupação humana na ilha. Esta civilização é conhecida como Akrotiri (3300-2000 a.C). Impressionantes jarras cerâmicas foram adornadas com desenhos de aves e podem também serem apreciadas pelos visitantes. 

plantas floridas em pintura de parede

Apesar da grande quantidade de adornos e desenhos inspirados em plantas e animais, as legendas do museu pouco destacam essa presença, ao contrário, preferem acentuar as armas e equipamentos domésticos da coleção.

Não há como não se encantar com os magníficos conjuntos de pintura de parede contendo motivos florais, os macacos azuis, pássaros e adoradores de primatas. Outros vasos de barro contam com touros, golfinhos e muitos outros animais. Essas peças foram intercambiadas com inúmeras civilizações do mar Egeu e do Mediterrâneo.

macacos azuis - pintura de parede

A cidade de Akrotiri, situada onde hoje é Santorini, alcançou importância de centro atrativo da região do mar Egeu ao longo dos séculos 17 e 18 a.c. Nossa visita nos fez pensar como as plantas e animais que faziam parte da vida daquele lugar foram registrados nessas peças. Além disso, fiquei a pensar como essa exposição revela a transferência de animais entre as ilhas e continente, como atesta a presença dos macacos azuis na pintura das paredes.

par de figuras zoomórfica - cães fogareiro 
Vou colocar algumas fotos com a intenção de apresentar algumas peças do museu que apresentam formas ou desenhos de animais. Vale a pena pensar sobre como esses artefatos nos informam sobre a relação entre animais, plantas e os seres humanos em períodos tão remotos. Para finalizar gostaria de dizer que vale muito a visita.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Palestra discute relação dos seres humanos com o meio ambiente

"Os seres humanos fazem parte do meio ambiente?" é o título da palestra que o tecnologista Marcos Gonzalez, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, dará nesta quarta-feira, 2 de abril, às 10h, no Auditório Graziela Maciel Barroso, da Escola Nacional de Botânica Tropical (ENBT).

O palestrante apresentará a hipótese de que, com a disseminação da escrita no Ocidente, o homem moderno deixou de se perceber como “parte do meio ambiente”. O trabalho foi aceito para apresentação oral no XII Congreso Internacional sobre Nuevas Tendencias en Humanidades, que ocorrerá na Universidad San Pablo CEU, Madrid, España de 11 a 13 de junho de 2014. Marcos Gonzales é doutor em Ciências da Informação pelo IBICT.
A palestra faz parte dos Seminários de Pesquisa da ENBT. O endereço é Rua Pacheco Leão 2040, Solar da Imperatriz. Entrada livre.