Hoje, após 33 anos de jejum, a Portela voltou a conquistar o título de campeã do carnaval carioca 2017. A agremiação foi muito feliz ao perceber as conexões entre as águas e a história da humanidade, transformando em poesia essa relação. A partir dos rios de água doce, a Escola contou a história das civilizações que se desenvolveram às margens dessas artérias de vida, destacando como as manifestações culturais e religiosas se apropriaram ao longo do tempo das águas como símbolos.
A Portela transformou a Avenida em um grande rio, que, por meio dela, passavam os personagens e acontecimento que construíram e constroem a história. Poeticamente,
os rios foram retratados como oráculos velhos e novos, que não pode retornar ao passado, mas que sem eles não é possível compreender a história da vida na Terra.
O enredo também considerou a íntima e profunda relação entre os humanos e as águas dos rios, ligados pelo corpo e pela alma. Foi explorado uma série de símbolos utilizados pelas mais diversas religiões e culturais que se remetem caminhos fluviais. Fez questão de lembrar do crime ambiental cometido pela Vale do Rio Doce em Mariana (Foto: Portal G1).
Muitas vezes a história, como disciplina, não considera o rio como um personagem protagonista ao construir a narrativa sobre o passado. Descuidados, muitas vezes os historiadores tratam as águas como cenários estáticos ao escreverem sobre o passado. A Portela mostrou o que é fazer história ambiental com arte, sem deixar de criticar os danos provocados pelos humanos às águas.
A história ambiental é isso: contar a história da humanidade considerando o mundo natural como uma janela indispensável para compreensão do passado. Com atenção e cuidado, podemos perceber que não é possível contarmos a história do Brasil sem falarmos dos rios, além de que estaremos valorizando esse elemento essencial para sobrevivência da nossa espécie, que, infelizmente tem sido agredido. "Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver esse rio passar "?