quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Autodestrutivos de camaro amarelo


Comprar, comprar e comprar! Já dizia Adam Smith que "o consumo é a única finalidade e o único propósito de toda produção". Vivemos em uma sociedade do consumo e isso não tem sido levado a sério. Boa parte de nossos problemas, incluindo aqueles que relacionam os humanos e o mundo natural, estão ligados ao excesso de consumo.


Um dos mais problemáticos, ao meu ver, é o consumo de automóveis e todos os prejuízos ao meio ambiente que isso provoca: poluição, engarrafamentos, aumento da temperatura, enfim, quanto menos carros nas cidade...melhor qualidade de vida. Mas não é isso que tem acontecido.

Ao invés de incentivarem o transporte público, o que vemos é uma constante desvalorização do metrô e ônibus pelo descaso com esses transportes por parte do poder público ou mesmo a supervalorização de carros particulares pelos publicitários.

Na verdade, o post de hoje foi motivado por uma constatação musical. Dos 10 vídeos mais acessados no You Tube, 6 fazem referência direta ao consumos de motos e carros de luxo, argumentando ser este o melhor da vida.

O vídeo mais acessado tem o título "Camaro Amarelo", o refrão diz
"E agora eu fiquei doce igual caramelo,
To tirando onda de Camaro amarelo.
E agora você diz: vem cá que eu te quero,
Quando eu passo no Camaro amarelo."

Outro diz:

De Christian ou de Oakley
De Tommy ou de Lacoste
De CB1000 da Honda
Ou de Hyundai Veloster


Outro clip entre os mais acessados tem o título "Fiorino" enquanto os demais são funks que exaltam o consumismo, marcas de roupa, perfume, etc.

Penso que precisamos questionar esse modelo de sociedade auto-destrutiva.
Para além de curtirmos dentro de um Camaro amarelo, sinto que é preciso despertarmos para o prazer de cochilarmos embaixo das árvores.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

SurPRESAS da natureza no calendário Maia de Dresden

Registro Maia de Dresden - no
centro a deus Chek Cheel

Havia um boato que hoje, 21 de Dezembro de 2012, seria o fim deste blog. Boato, e apenas especulação, Para não deixar a contextualização que tanto se cobra de lado, o mundo também deveria acabar. Isso tudo foi descoberto a partir de leituras de fontes históricas de autoria do povo Maia  (1000 a.C. a 250 d.C.).

Apesar de até agora o mundo não ter acabado, uma leitura dos documentos maias sobre esse suposto fim parece sugerir algumas coisas muito importantes para além do pequeno mundo intelectual. Outro ponto é que há muito de história ambiental nesses documentos produzidos pelas civilizações pré-colombianas.

Um dos 3 calendário maias ainda existentes encontra-se na Biblioteca Estatal de Dresden, na Alemanha (uma tira de papel amate de 3,5 metros, dobrada em 39 folhas). Os documentos revelam, entre outras coisas, a adoração dos Maias pelos deuses da guerra, da morte e do milho - nesse ultimo vemos que tipo de relações exitem em plantas, alimentação e religiosidade.

O diretor da biblioteca, sr. Thomas Burger, diz  que "o documento é uma espécie de calendário agrícola, uma cópia de todo o conhecimento maia disponível na época". Segundo ele, os Maias previam eclipses e estações chuvosas, o que para expressam o lugar central que a natureza ocupava nos registros dessa civilização.

O documento ainda apresenta a deusa Chak Cheel, que derrama água de um jarro de barro e o  crocodilo celeste, que os maias provavelmente associavam à camada mais baixa do céu, também cospe uma grande golfada de água. Segundo Nikolai Grube, especialista em cultura Maia e autor de Der Dresdner Maya-Kalender, a cena ilustra um "grande dilúvio que era esperado a cada cinco anos, quando a estação chuvosa coincidia com o dia 4 EB do calendário ritual de 260 dias".


Vemos novamente que os símbolos desses registros históricos utilizam invariavelmente elementos do mundo natural como parte central de sua forma de pensar e até mesmo se relacionar com o mundo sobrenatural. Para que os animais estão na intercessão desses dois mundos: o real e o não real. Para o diretor Burger, "Pode-se tirar deste manuscrito a lição de que devemos ter um grande respeito pela natureza. Tivemos agora uma década com todos os tipos de inundações e tsunamis. Isso mostra que temos também hoje os mesmos problemas que os maias tinham, de ocasionalmente serem surpreendidos pela natureza."

Códice Maia em Dresden

Não estou certo se essa lição é tão clara nos registros Maias, mas me parece bastante importante pensar sobre o lugar que o mundo natural ocupava na cultura meso-americana. A ideia de que a base da vida são os elementos naturais e que prestar atenção nisso seria fundamental nessa sociedade.

Nossa civilização parece ter como marca uma falta de atenção para com o comportamento do mundo natural. Parece não se esforçar para entender a necessidade do equilíbrio dessa relação entre humanos e não humanos. Creio que a história ambiental pode contribuir com um redirecionamento do olhar dos humanos em outra direção. Não que possamos mudar o curso da história de nosso planeta mas podemos nos comportar melhor nele.

Agradeço a Moema Bacelar pela indicação da matéria.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A natureza na música de Saint-Saëns: o carnaval dos animais

Escrevo o post de hoje ouvindo Le carnaval des animaux de autoria de Camille Saint-Saëns (1835-1921). Essa obra é composta por 14 movimentos e foi concebida no ano de 1886 com o objetivo de ser apresentada na terça-feira gorda de carnaval. O fundo musical não é apenas para embalar minhas palavras, mas sim o objetivo final da postagem.

Saint-Saëns escreveu "O carnaval dos animais" em uma pequena aldeia austríaca após ter chegado de uma turnê sem sucesso na Alemanha. Para além de ser uma peça musical inocente, o compositor francês tinha como objetivo fazer uma crítica ao cenário musical parisiense em fins do século XIX. No contexto do Romantismo, suas melodias procuravam destacar as questões dos indivíduos e a subjetividade humana.




Para compreender as críticas que o autor faz é preciso relacionar o título dos movimentos etrechos inspirados em obras de importantes músicos, como no movimento "Tartarugas", no qual ele parece querer criticar Jacques Offenbach e sua obra 'Orfeu no Inferno"; e o movimento "Fósseis" contendo vários trechos de outros autores.

O que nos chama atenção é Saint-Saëns utiliza os animais como símbolos de determinadas qualidades como a soberba do Leão, o andar vagaroso das tartarugas, o peso e a densidade do elefante e até as ideias ultrapassadas representadas pelos fósseis. O sub-título da obra chama-se "A grande fantasia zoológica", período em que os estados nacionais cada vez mais davam importância para o conhecimento da fauna exótica.

Saint-Saëns teve a oportunidade de visitar a Espanha, as Canárias, o Sri Lanka|Ceilão, a Vietnã|Indochina, o Egito, e esteve várias vezes na América. Deu concertos no Rio de Janeiro e em São Paulo em 1899. 



Para além das análises mais profundas da utilização da natureza na música de Saint-Saëns, é uma obra-prima da música produzida pelos seres humanas, expressando suas percepções sobre os animais. A animação abaixo foi feita pelos estudos Walt Disney utilizando o "Finale" - ultimo movimento da obra, para contar a corrida de um grupo de flamingos.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Tramas do cotidiano: lançamento do livro do Prof. José Alves (Hist. Colonial)


Publicação do livro Tramas do cotidiano: Religião, política, guerra e negócios no Grão Pará do Setecentos (Série Memória da Amazônia), de José Alves de Souza Júnior. Obra vencedora do Prêmio Professor Benedito Nunes, edição 2010.

20 de Dezembro de 2012 - 18h

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Humanos animais de Carlos Fragoso

Até o dia 05.01.13, a sala Kathleen Cullen Fine Arts, em Nova Iorque exibe "Idade da Loucura", um conjunto de 15 gravuras produzidas pelo brasileiro Carlos Fragoso inspiradas no primeiro parágrafo da obra Um conto de duas cidade, de Charles Dickens(1812-1870). Esse romance foi publicado em 1837 e procura descrever a Revolução Francesa.

Dickens volta-se para a observação dos indivíduos pertencentes aos mais diversos estratos da sociedade francesa – desde a aristocracia, passando pela burguesia, até o povo miserável de Paris. Reunidos em uma trama que mescla aventura, romance e tragédia, tais personagens revelam-se, sobretudo, como pequenos retratos das consequências sociais da grande revolução burguesa (Revista Cult 175).

Os desenhos apresentam figuras humanas e animais na paisagem, uma espécie de humanos selvagens são pintados com o objetivo de retratar essa "Idade da loucura" a qual trata o livro de Dickens. Como se as emoções presentes no interior dos personagens viessem a tona por meio de figuras animalescas. Nas palavras do próprio Carlos Fragoso: "olha atentamente para os instintos animais irracionais, inconsciente e primitiva que inflamam a violência, paixão e desejo".
O trecho que inspirou as gravuras:
"It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair, we had everything before us, we had nothing before us, we were all going direct to heaven, we were all going direct the other way - in short, the period was so far like the present period, that some of its noisiest authorities insisted on its being received, for good or for evil, in the superlative degree of comparison only." - Charles Dickens, A Tale of Two Cities.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Aquarelas de Lígia Árias no MABE



A Fundação Cultural do Município de Belém, através do Museu de Arte de Belém, exibe de 22 de novembro de 2012 a 30 de janeiro de 2013, a excepcional mostra individual  "AQUARELAS de LÍGIA ÁRIAS" , que apresenta obras de produção recente da artista .


Lígia nos presenteia com aquarelas que colhem visões do mundo e das coisas, desfilando para os nossos olhares, objetos, naturezas mortas, figuras humanas e paisagens, através de uma linguagem silenciosa e movimento contínuo, onde não existe excesso nem falta e sim técnica e poética perfeitamente e primorosamente integradas à espera de nossa contemplação.

Lígia Árias é natural da Costa Rica e reside no Brasil desde o ano de 1978. Desenhista, Pintora, Aquarelista, Escultora, Restauradora e Curadora. Com formação em Artes Plásticas , integra o Setor de Museografia do MABE desde a sua fundação. Já realizou individuais na Galeria Fidanza do Museu de Arte Sacra “Amazônia” em 2004 e na Galeria Municipal de Arte “ Recortes da Amazônia” em 2002 . Integrou três edições do Salão Arte Pará, e várias coletivas locais e Nacionais em cidades como Santo André, São Bernardo e Brasília.

Aguardamos a sua visita!

Serviço:
Local: Sala Theodoro Braga, Museu de Arte de Belém – MABE, Palácio Antonio Lemos.
Período da Exposição : 22 de novembro de 2012 a 30 de janeiro de 2013.
Horário de Visitação: de terça a sexta: 10h às 18h, sábados, domingos e feriados: 09h às 13h
Visitas agendadas : Ação Educativa / MABE - 31141028

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O universo curvo, cinza e sem árvores de Oscar Niemeyer

MAC - Niterói-RJ
"Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein" 

As palavras acima são de Oscar Niemeyer, o mais importante arquiteto brasileiro. Não se preocupe, não vou escrever louvores prolongados aqui. Mesmo assim, não posso deixar de concordar que seus trabalhos marcaram a arquitetura mundial por sua originalidade, e é aí que, na minha opinião, está seu valor.

A frase que abre o post de hoje revela que estava na natureza a inspiração para seus trabalhos, todavia é curioso que ao falar de curvas, Niemeyer não cita aquela que já nasce curva: a árvore. Como diria Mário Quintana: "onde já se viu uma árvore ridiculamente simétrica?"

Peço a você a licença da palavra democrática para dizer que as obras de Niemeyer me lembram concreto, cimento e nenhuma árvore. Aquele cinza cinzento que eu não gosto de ver. Uma distância tão grande do natural que não encontro a curva que ele viu nas montanhas, ou nas ondas do mar. Penso que o universo curvo de Einstein não tem tanto concreto assim.

Em Belém, quantas vezes eu cruzei o Memorial à Cabanagem, monumento assinado por Niemeyer, e me perguntei, onde estão as árvores? E todo aquele cimento no chão de Brasília? No Museu de Arte Contemporânea em Niterói, lá não há espaço pra viver sequer uma formiga (as fotos revelam isso?).

Espaço Memorial da Cabanagem em Belém-PA

Durante as décadas de 1950 e 60, quando temos muitas fundações de Escolas de Engenharia, o concreto tem seu auge, é nesse período que Niemeyer realiza inúmeros trabalhos e me parece que estabelece seu estilo. É um momento em que há uma valorização de espaços cinzas diretamente relacionados com o desenvolvimento. Gramados a perder de vista e espelhos d'água.

Brasília
Esse post não quer desmerecer o arquiteto Oscar Niemeyer, longe disso, reconheço sua importância. Quis apenas destacar que sua arquitetura é a expressão de um tempo em que o concreto significava progresso, uma estética desenvolvimentista, uma escolha que, na minha opinião, inspira-se na curva das montanhas mas preferiu apartar as árvores. E isso se perpetuou por meio de seus trabalhos, agora, espero que a originalidade de Niemeyer inspire novos trabalhos...mas não esqueçam das árvores!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Amazônia, índios e viajantes: conferência e mini curso da prof. Ângela Domingues

CONFERÊNCIA E MINI CURSO - Profa. Angela Domingues, Universidade Nova de Lisboa:

Conferência "Índios da Amazônia no contexto das reformas pombalinas"
Dia 21 de novembro de 2012, às 18 horas
Miniauditório da Faculdade de Formação de Professores da UERJ

Mini Curso: Uma releitura da literatura de viagens: imagens do Brasil na Europa do seculo XVIII através dos olhares dos viajantes
Dias 22, 23 e 26 de novembro, de 14 às 16 horas
Miniauditório da Faculdade de Formação de Professores da UERJ

O programa completo do minicurso se encontra na página do PPGHS no link AGENDA, click aqui

Não é preciso fazer inscrição com antecedência.
SERÁ EXPEDIDO CERTIFICADO DE PARTICIPAÇÃO

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Frankenweenie de Tim Burton: animais e revelação do caráter humano

É possível falar de ciência com beleza, por meio da arte. Sem aquele discurso árido, duro, buscando no pragmatismo quase positivista uma seriedade. Como se essa forma cartesiana de falar da ciência lhe garantisse o status de verdade. 

Gosto muitos do trabalho de Tim Burton. A história contada por ele prova que é possível falar de ciência com leveza. ´Recomendo seu "Frankenweenie", e o seus questionamentos sobre a vida e especificamente sobre a utilização do conhecimento.

A história é assim...
Victor adora fazer filmes caseiros de terror, quase sempre estrelados por seu cachorro Sparky. Quando o cão morre atropelado, Victor fica triste e inconformado. Inspirado por uma aula de ciências que teve na escola, onde um professor mostra ser possível estimular os movimentos através da eletricidade, ele constrói uma máquina que permita reviver Sparky. O experimento dá certo, mas o que Victor não esperava era que seu melhor amigo voltasse com hábitos um pouco diferentes.

O que há de mais importante no filme é a relação do menino solitário com o seu cachorro. Para Tim Burton o comportamento dos animais de estimação representam a personalidade de seus donos (ignorância e ganância). Muito interessante como ele aborda essa relação - mesmo que exagerada. 

Uma questão interessante abordada em "Frankenweenie" é a de que não existe ciência boa ou ruim, mas que a tecnologia pode ser pervertida por aqueles que desejam mal-uso dela e negada por aqueles que querem permanecer ignorantes.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O que faz uma rainha? Palestra com profa. Isabel Sá

Retrato de Rainha de Portugal (1734-1816)

O Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ com o apoio do Grupo de Pesquisa Antigo Regime nos Trópicos e do SACRALIDADES: Laboratório de Estudos sobre Poder, Religião e Religiosidades no mundo ibero-americano (séculos XVI-XIX)do Instituto de História da UFRJ, convidam para a palestra

"O que faz uma rainha? O caso da monarquia portuguesa 1450-1910"

Profa.  Isabel dos Guimarães Sá (Professora Associada com Agregação na Universidade do Minho e Investigadora Associada Integrada do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Publicou Leonor de Lencastre. De princesa a rainha-velha (2011); As Misericórdias Portuguesas de D. Manuel I a Pombal (2001); Quando o rico se faz pobre: Misericórdias, caridade e poder no Império Português, 1500-1800 (1997), entre outros livros e inúmeros artigos.)

Resumo:
A coordenação de uma coleção de 32 biografias de rainhas consortes de Portugal, e a autoria de três delas (D. Leonor 1458-1525, Isabel de Castela 1478-1498 e Maria de Castela 1482-1517), motivou alguma reflexão sobre o papel destas mulheres na política nacional e internacional no âmbito da monarquia.
No decurso de um projeto iniciado em 2005, certas questões acabaram por se impor. O que é que transforma uma mulher numa rainha? Em que medida é o seu papel moldado pelo gênero? Quais são os limites da sua atuação e as suas vantagens? O que é que mudou entre os inícios da Idade Moderna e o fim da monarquia portuguesa? Que continuidades se observam?

Data: 13 de novembro (terça-feira), às 15 horas
Local: UFRJ – Campus do Largo de São Francisco - Largo de São Francisco, no 1 – sala Werneck (205)– Centro - RJ

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Dossiê El agua en la historia

O departamento de história da universidade de Castilla-La Mancha publicou o dossier "El agua en la historia: usos, tècnicas e y debates" na revista Vínculos de História.

Eis o conteúdo:

Los usos del agua en la Hispania romana

El agua en la agricultura. Agroecosistemas y ecosistema en la economía rural andalusí

La lucha por el agua en el país de la lluvia (Galicia, siglos XVI-XIX)
De aguas, tierras y políticas hidráulicas en la España contemporánea

Argumentos ambientales para la renovación de la Historia Agraria
Los usos de la Historia: una reflexión sobre el agua

Os artigos estão todos on line gratuitamente, para acessá-los click aqui

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A natureza arretada de Luiz Gonzaga

Toda vez que vou escrever sobre um filme começo dizendo que não é minha pretensão fazer uma crítica cinematográfica propriamente dita. No caso deste post nem se eu quisesse. O filme em questão é "Gonzaga, de pai para filho", lançado neste que é o ano do centenário do nascimento do Rei do Baião.

Disse ser impossível fazer qualquer crítica cinematográfica (se ao menos soubesse) porque essa história explica parte da minha vida e da relação que tive com meu avô Orisvaldo Gonzaga. Todas as vezes que me repreendia dizendo: "respeite o Januário" e todas as histórias do sertão nordestino que ele me contava. O chapéu de couro que ganhei quando criança e as expressões do filme tiradas do palavreado de minha mãe.

Por tudo isso, quero dizer que gostei muito do filme, e que a relação dele com a natureza é secundária nesse post - apesar de não parecer, pois a história do rei do baião é de certo modo a trilha sonora da minha vida com meus avós, minha mãe e o Nordeste. E são essas coisas que realmente importam na vida.

Dito isso, quero passar para a segunda parte, apresentando a pergunta que move as palavras a seguir: como a natureza aparece na obra e na vida de Luiz Gonzaga?

O primeiro ponto que me chama atenção deles é a descrição do sertão pernambucano impressa em suas músicas, como em "Luar do sertão", ABC do sertão" e "Alegria de pé de serra". As letras de suas canções além de permitirem os brasileiros da região sul-sudeste conhecer, de certa maneira, a paisagem do sertão nordestino, não esquecem de destacar (com propósito poético) a interação do sertanejo com o lugar vivido.

Para Luiz Gonzaga, a saudade de sua terra é um dos grandes motivos de sua música, como em "Vaca Estrela e boi Fubá" ele explica sua saída por conta de uma "seca medonha", descreve o cotidiano sertaneja no trato com os animais e completa destacando sua saudade dos animais que o faziam feliz: a vaca Estrela e o boi Fubá. O ambiente pastoril e as dificuldade do lugar seco são conflitantes em suas canções.

A água também aparece como um problema em "A cheia de 24", nessa canção Luiz Gonzaga descreve o grande sofrimento dos sertanejos diante da fúria das águas:

Descia gado e cavalo / Pato, peru e galinha
Cabrito, porco e carneiro / Tudo o que o povo tinha
Os açudes não podiam / Tantas águas suportar
Rio, riacho e lagoa / Tudo junto num só mar

O "Xote ecológico" é outra canção que percebemos de maneira direto o olhar do autor para com a natureza ao seu redor. Além do sertão, Gonzaga também cantou o litoral nordestino e preocupo-se nesse xote de reclamar a destruição do meio ambiente e até daqueles que lutam pela conservação.

Não posso respirar, não posso mais nadar
A terra está morrendo, não dá mais pra plantar
E se plantar não nasce, se nascer não dá
Até pinga da boa é difícil de encontrar

Cadê a flor que estava aqui?
Poluição comeu.
E o peixe que é do mar?
Poluição comeu
E o verde onde é que está ?
Poluição comeu
Nem o Chico Mendes sobreviveu

 

O filme "Gonzaga, de pai para filho", com sua fotografia, retrata bem a natureza da região da Serra do Araripe por onde o rei do baião andava quando ainda não tinha coroa. Nos permite pensar como a produção artística de um homem como ele é pensada também a partir da interação com esse mundo físico - e isso na obra de Luiz Gonzaga é extremamente forte. O diretor Breno Silveira foi muito feliz quando escolheu como ponto de referência da história uma árvore de juazeiro, ali se desenrolam conflitos e reconciliações. Nada mais simbólico para contar a trajetória de um rei que descreveu a natureza com a  sanfona. 

Recomendo aos amigos que acessam nosso blog assistirem "Gonzaga, de pai para filho", e entre outras coisas certamente mais importantes (como já disse no começo desse post) perceber como a natureza deve ser percebida para entender nossa trajetória.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Arte e ciência nas fotografias do prêmio Nikon

Ao longo da história vemos o interesso dos seres humanos aumentando em relação a vida silvestre no seus mínimos detalhes. Para além de um conhecimento mais "científico", o post de olha é um brinde a arte e a beleza das imagens captadas para o concurso promovido pela Nikon.

O concurso de fotomicrografia Small World (Pequeno mundo, em tradução livre), promovido anualmente pela empresa japonesa Nikon, trata de premiar as mais belas imagens microscópicas feitas para pesquisas científicas. O primeiro lugar de 2012 foi concedido aos pesquisadores Jennifer Peters e Michael Taylor, do centro de pesquisas do Hospital St. Jude Childrens, em Memphis, no Estado do Tennessee, nos Estados Unidos. A dupla registrou o fluxo sanguíneo no cérebro de um peixe-zebra em desenvolvimento com um microscópio confocal e 20 vezes maior do que o real  (ao lado).

Walter Piorkowski, de South Beloit, no Illinois, nos Estados Unidos, ficou com o segundo lugar do concurso Small World com a fotografia de aranhas recém-nascidas, em um registro seis vezes maior do que o real.


Você pode ver todas as fotos classificadas no concurso clicando aqui

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Giovanni Levi no IFCS/UFRJ



O Programa de Pós-graduação em História Social, em colaboração com o Laboratório de História das Práticas Letradas do Instituto de História da UFRJ, convidam para o evento:


Conversações com GIOVANNI LEVI da Università di Ca' Foscari de Veneza

Dia 1º de novembro, quinta-feira, às 10h30, na sala Evaristo de Moraes (109)
Campus do Largo de São Francisco da UFRJ
Largo de São Francisco, n. 1 – Centro

domingo, 28 de outubro de 2012

Sociogênese do campo esportivo na África colonial: palestra com o prof. Sílvio Correa


O Laboratório de História do Esporte e do Lazer- Sport e o Laboratório de Estudos Africanos- LEÁFRICA, do Instituto de História da UFRJ, convidam para a palestra:

“SOCIOGÊNESE DO CAMPO ESPORTIVO NA ÁFRICA COLONIAL: CAÇA ESPORTIVA, CORRIDAS DE CAVALOS E GINÁSTICA – O CASO DO SUDOESTE AFRICANO”
 com o Prof. Dr. Sílvio Marcus de Souza Correa (Universidade Federal de Santa Catarina)

30 de outubro de 2012, terça-feira
Horário: 18h
Instituto de História da UFRJ - Largo de São Francisco nº1 – Centro - Rio de Janeiro, RJ, sala 107

Historiador, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). De 1995 a 1999, fez o doutorado na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Westfälische Wilhelms-Universität de Münster, Alemanha. Em 2005, realizou estágio pós-doutoral no Institut National de la Recherche Scientifique (INRS) do Québec, Canadá. Desde 2009, atua como professor adjunto do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e como professor permanente do Programa de Pós-Graduação em História da UFSC.
Áreas de concentração: História da África e História Moderna e Contemporânea, trabalhando atualmente com o colonialismo na África, especialmente nos territórios sob domínio colonial alemão (1884-1919).

Confere-se certificado de participação.

sábado, 27 de outubro de 2012

Artigos de História Ambiental

Divulgamos a publicação de duas Revistas com dossiês sobre História ambiental. São elas:

Revista de História Oral




Cadernos de História

Ambas reúnem artigos que discutem a pesquisa histórica na perspectiva ambiental. Click nos links acima e divirta-se.
Agradecemos as indicações da Professora Susana Cesco (CPDA/UFRRJ).

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

É correto chamar os "defensores da natureza" de ecologistas?


Saiba por que não podemos chamar ‘defensor da natureza’ de ‘ecologista’:

Leitores pedem a palavra. Como este espaço é bem democrático, aqui estão alguns comentários interessantes.

1º) “Alguém já disse que uma mentira repetida à exaustão acaba virando verdade. Isto está acontecendo com algumas palavras da língua portuguesa que, de tanto serem repetidas de maneira errada ou inadequada, acabam por serem aceitas como corretas e vem daí a minha indignação. ECOLOGIA, por exemplo, é a parte da biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o meio ou o ambiente em que vivem.

Pois bem, as pessoas andam usando e abusando da palavra para designar os danos causados ao meio ambiente. Tanto a imprensa escrita como a falada cometem o mesmo erro. Leio e ouço a toda hora expressões como: ‘O vazamento de óleo causou danos à ecologia’; ‘Os prejuízos causados à ecologia pelo desmatamento…’ O vazamento de óleo e o desmatamento causam danos ao meio ambiente, aos animais, às plantas e não à ecologia que, de acordo com a sua definição, é uma ciência que estuda as relações entre os seres vivos e o meio ambiente e não o próprio meio ambiente. O senhor concorda comigo?”

Concordo. A exemplificação da leitora é claríssima.

Fonte: Blog do prof. Sérgio Nogueira http://g1.globo.com/platb/portugues

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

História de pelúcia: amizade entre ursos e humanos


E hoje eu descobri,/ O quanto eu te quero,
Ursinho de dormir,/ Vem que eu te espero assim,
Eu hei de conquistar,/ Teu coração durão demais,
Que não quis pagar pra ver,/ Nem dá o braço a torcer.

No reggae acima transcrito o autor, Armandinho, se refere a garota como um bichinho de pelúcia, o título da música é "Ursinho de dormir". Temos uma historicidade nessa declaração de amor. Me refiro ao fato de o urso, como animal selvagem, ter adquirido esse valor "fofinho" que tem hoje, haja vista ser um bicho não dócil, predador. Por isso, o post de hoje procura pensar quando foi forjada essa amizade o homem e os ursos.

Este post surgiu depois de assistir dois filmes: Intocáveis e Ted. Apesar de serem muito diferentes, ambos discutem a amizade. Na opinião trazem o argumento de que a amizade é uma escolha, você seleciona quem serão seus amigos. Mas, para além dessa questão, me atenho ao filme Ted, no qual um ursinho de pelúcia é o protagonista. Nos faz pensar como a figura do urso faz parte do imaginário estadunidense.

Conta-se que o presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt, é o por dar ao ursinho de pelúcia o nome de Teddy. Em 14 de novembro de 1902, Roosevelt estava envolvido nas disputas de fronteira entre o Mississippi e Louisiana. Durante seu tempo livre, ele trartou de participar da caça ao urso nas florestas do Mississippi. Durante a caçada, Roosevelt teria encontrado um urso jovem ferido por outros caçadores e fora convidado a atirar no animal. O presidente teria se recusado de fazê-lo mas, diante da condição debilitada do urso, ordenou que o matassem não ficar sofrendo.  

O jornal Washington Post, tomando do conhecimento da história, publicou uma ilustração criada pelo cartunista político Clifford K. Berryman sobre ocorrido. O cartoon foi chamado de "Drawing the Line no Mississipi" (Desenhando a fronteira do Mississípi). Primeiro Berryman havia desenhado o urso com um aspecto feroz e assassino de cães, mas depois redesenhou como um filhote fofinho. Em um ano o urso Teddy tornou-se um brinquedo de pelúcia para crianças nos Estados Unidos.

 Esse episódio nos permite acessar, por meio de uma figura pouco usual, uma história do contato entre os seres humanos e os ursos nos Estados Unidos. Como o mundo natural serve de plataforma para histórias de heroísmo e coragem. Conhecemos também a história das demarcações de fronteiras  no interior dos Estados Unidos. E o que nos chama mais atenção o relato da prática de caça aos ursos nas florestas estadunidenses no início do século XX, como prática recreativa, uma interação com o mundo natural onde estão envolvidos cães, homens, ursos e todos os outros seres vivos.

Nesse período, início do seculo XX os Estados Unidos estão promovendo os animais empalhados nos museus - fato que , ao meu ver, tem uma relação com a ideia da criação do ursinho de pelúcia como brinquedo infantil (que não discorrerei para não cansá-los). Uma série de imagens foram publicadas desse episódio, algumas delas colocamos aqui, mas você pode encontrar muitas outras. 

Pena que os humanos escolheram enche-los de pelúcia, alterar seu habitat e fazê-los desenhos animados para contarem suas histórias. Quisemos também demonstrar como a figura de um animal pode ser um acesso interessante para contarmos a história de um lugar.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O mapa cultural Suruí

O programa "Cidade e soluções" da Globo News é muito bom, apesar de não questionar algumas experiências de sustentabilidade. Me parece que, algumas vezes, falta aos jornalistas perguntarem a quem interessam determinadas ações de empresários ao apoiarem projetos ecológicos.

Nesta semana o programa apresentou o caso do povo Suruí, que desde 2007 fecharam uma parceria com o Google para elaborarem juntos um mapa cultural que reúne fotos, vídeos, depoimentos e animação em 3D sobre os hábitos e tradições dos 1.300 indígenas que moram na comunidade. O título do projeto chama-se Mapa Cultural Suruí.

Nosso destaque é para o fato de o povo Suruí abrir suas portas para os estrangeiros virem estudar a floresta, diante de tantos casos de biopirataria. Fica a reflexão e a sugestão de assistir o programa clicando aqui.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Amazônia, lugar da experiência: exposição no MUFPA

O Museu da Universidade Federal do Pará, a Fundação Nacional de Artes e o Ministério da Cultura convidam para a abertura do projeto AMAZÔNIA, LUGAR DA EXPERIÊNCIA, que constitui a coleção amazoniana na Universidade Federal do Pará.

Com o objetivo de criar uma coleção de arte contemporânea sobre a Amazônia e seus artistas, o projeto "Amazônia, Lugar da Experiência" abre hoje para o público. Vencedor do Prêmio de Artes Plásticas Marcatonio Vilaça e do Prêmio Procultura de Estímulo às Artes Visuais 2010, da Fundação Nacional de Artes, a inauguração será a partir das 19h, na Universidade Federal do Pará (UFPA). Vindos da própria região e de outras partes do país, os artistas expõem seus olhares em um grande mapa de experiências na região amazônica, com obras das quatro últimas décadas de produção artística no Norte do Brasil.

A coleção de arte que pretende refletir sobre a Amazônia é composta por mais de 30 artistas e tem idealização e curadoria de Orlando Maneschy. Por meio da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA, "Amazônia, Lugar da Experiência" pretende dar visibilidade às discussões presentes nas obras e provocar reflexão e circulação de ideias.

O projeto quer aumentar a produção reflexiva relacionada com a pesquisa, ensino e extensão universitária, por meio de ações educativas que sugerem atividades presenciais e on-line. "Olhar para a Amazônia sempre foi uma necessidade para mim, na tentativa de entender como sua história adiciona às produções artísticas e geram obras que ativam questões que ultrapassam regionalismos. Foi aí que nasceu este projeto", afirma o criador do projeto, que também é artista, pesquisador e curador independente (O Liberal).

Exposição: AMAZÔNIA, LUGAR DA EXPERIÊNCIA
Data: 04 de outubro de 2012 a 06 de janeiro de 2013
Local: Museu da Universidade Federal do Pará
Endereço: Avenida Governador José Malcher, 1192 – Nazaré – Belém – Pará - Brasil, CEP : 66055 – 260, Fone: 00–55–91–3224.0871 / 3242.8340
Entrada Franca

domingo, 7 de outubro de 2012

Antes eleger um rinoceronte do que um asno

Hoje é dia de eleição, portanto, o post de hoje lembra quando animais do zoológico receberam juntos quase 500 mil votos. Estamos falando dos votos de protesto confiados ao rinoceronte Cacareco e o chipanzé Tião.

As eleições de 1959 em São Paulo tiveram a surpresa de conhecer a "candidatura" de Cacareco para vereador. Esse rinoceronte conquistou 100 mil votos. Hoje, votamos em máquinas, naquele tempo o voto era por escrito, e o nome Cacareco foi um dos mais lembrados pelos eleitores. Enquanto ele conquistou 100 mil votos, o partidos  o partido mais votado não chegou a 95.000 votos.



Após o resultado das eleições, Stanislaw Ponte Preta comentou no jornal Última Hora que "diversos membros da cúpula do PSP andaram rondando a jaula de Cacareco, para o colocarem no lugar de Adhemar de Barros". Já o então presidente Juscelino Kubitschek declarou: "Não sou intérprete de acontecimentos sociais e políticos. Aguardo as interpretações do próprio povo".

O jornalista Itaboraí Martins foi o responsável pelo lançamento da candidatura do bicho, talvez pelo fato de os rinocerontes serem amigos leais. Dois dias antes da eleição, o bicho foi devolvido para o zoológico do Rio de Janeiro. O rinoceronte vereador veio a falecer prematuramente, antes de completar dez anos de idade.

O estrago, porém, já havia sido feito. Cacareco ganhou até as páginas da revista Time, que citava um eleitor:
 - É melhor eleger um rinoceronte do que um asno.

Outro caso de voto de protesto foi do Macaco Tião.Tornou-se uma celebridade no Brasil, quando em 1988, após uma brincadeira criada pela revista Casseta Popular em defesa do voto nulo, foi lançada a sua candidatura não oficial para a Prefeitura do Rio de Janeiro

Estima-se que o Macaco Tião tenha "recebido" naquele pleito mais de 400 mil dos votos dos eleitores, alcançando o que seria equivalente ao terceiro lugar, de um total de doze candidatos. Este fato o fez constar no Guinness World Records como o chimpanzé a receber mais votos no mundo.Famoso nacionalmente, vários jornais brasileiros, e também o frances Le Monde registraram a notícia do falecimento do macaco, em 23 de dezembro de 1996.


Talvez o grande motivo desse primata ter ganho a simpatia dos eleitores é que, apesar de seu mal-humor, atirava excrementos e lama em políticos. Já o rinoceronte, apesar da sisudez e grosseria, e demonstrava lealdade com os passarinhos que colaboravam com sua higiene.

Uma lição para eleitores e candidatos: indignem-se, revoltem-se, e não esqueçam da lealdade. Para quem vai seu voto, Cacareco ou Macaco Tião?

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Rousseau, John Cage e a natureza na Cult

A edição 172 da Revista Cult traz um dossiê sobre Rousseau, mostrando que o autor de O contrato social, que está fazendo 250 anos, tratou de assuntos como a democracia, educação e feminismo ainda no século XVIII.

Particularmente, não gosto de análises que procuram mostrar que um personagem histórico antecipou determinado debate que apenas seria travados 100 anos depois. Mas, que destacar um dos artigos, trata-se de "Devaneios de um ecofilósifo"escrito por José Augusto Pádua. Nele o autor apresenta de maneira equilibrada as influências de Rousseau sobre o ecologismo, "mais pela reflexão do que pela preocupação efetiva com questões ambientais".

Outro texto na mesma edição, de autoria de Vladmir Safatle, fala sobre John Cage, que faria 100 anos em Setembro. Segundo ele, Cage "renovou a música ao reconstruir o conceito de natureza". O texto aponta alguma obras desse artista, um deles "In a landscape" coloca aqui para você escutar. "E uma natureza que não funciona mais como a imagem de um sistema de causalidade fechada".

A revista está nas bancas ainda neste início do mês de Outubro.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

São Francisco de Assis e a ecologia

Se acha que hoje, o cachorro entrou na igreja só porque encontrou a porta aberto - você corre o risco de estar enganado. 

Em 29 de Novembro de 1979, na bula «Inter Sanctos», o Papa João Paulo II proclamou S. Francisco de Assis como Padroeiro dos cultivadores da Ecologia:

"Entre os santos e os homens ilustres que tiveram um singular culto pela natureza, como magnífico dom feito por Deus à humanidade, inclui-se justamente S. Francisco de Assis. Com efeito, ele teve em grande apreço todas as obras do Criador e, com inspiração quase sobrenatural, compôs aquele belíssimo “Cântico das Criaturas”, através das quais […] rendeu ao omnipotente e bom Senhor o devido louvor, glória, honra e toda a bênção.»

Hoje, comemora-se o dia de São Francisco, e este post é para refletir sobre como a religião católica, em 1979, oficializou esse padroado que nos parece significar um reconhecimento não apenas sobrenatural e divino da relação humana com o mundo natural (e é claro que o cristianismo sempre percebeu essa relação) mas também um discurso oficial do líder da igreja chamando atenção para a discussão ecológica posta naquele momento.

Interessante notarmos como os fiéis se apropriaram desse padroado. Ao meu ver mais aplicado aos animais de estimação do que em relação a própria crise ambiental, que mais tarde o Papa Bento XVI chamará atenção. Soa também como uma resposta aos fiéis que sempre, de maneira até mesmo subversiva, criavam por conta própria a relação de seus animais com o sagrado - buscando cura para enfermidades ou mesmo sua entrada no reino celeste.

Este é um bom dia para pensarmos em como as instituições respondem - mesmo que de maneira tardia - às demandas do seu público e como estes reelaboram os discursos oficiais. E um ultimo ponto: como a religião e a religiosidade se utilizam da percepção de natureza e até a ideia de ecologia em seus discursos.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Philippe Descola no IFCS-UFRJ


O Consulado da França do Rio de Janeiro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, representada pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) e pelo Programa de Pós-graduação em História Social (PPGHIS), com a colaboração do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS), convidam para as atividades da Cátedra Claude Bernard, ocupada por Philippe Descola, Professor do Collège de France.

Dia 4 de Outubro, quinta-feira, às 17 horas, no Salão Nobre do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, conferência de abertura dos trabalhos: “A ontologia das imagens”.

Dia 8 de Outubro, segunda-feira, às 14 horas, na Sala Roberto Cardoso de Oliveira do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, conferência: “A animação das imagens”.

Dia 18 de Outubro, quinta-feira, às 14 horas, na Sala Amarela (109) do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais: “Entrevista com Philippe Descola”.  

As conferências serão realizadas em espanhol e a entrevista em francês. Todas as atividades, inclusive esta última, serão abertas ao público, sem inscrição prévia.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A natureza em Eric Hobsbawn

Hoje morreu um grande historiador - Eric Hobsbawn. Sua obra conta com inúmeras reflexões caríssimas ao estudo do passado. No post de hoje, que é uma tentativa de homenageá-lo, trazemos sua percepção sobre a natureza, ou melhor, qual importância ele deu para a preocupação com o meio ambienta.

Em suas importantes reflexões sobre os problemas consequentes do capitalismo ele enumera "conseqüências do desenvolvimento capitalista mundial que escaparam ao controle" de países que tem tido êxito em manter um certo equilíbrio social . Propõe que essas consequências ajudem a definir a plataforma socialista para o século XXI. 

"A primeira é a ecologia. A humanidade atingiu agora o ponto em que pode de fato destruir a biosfera – a habitação de plantas, animais e humanos no globo – ou pelo menos muda-la para pior de formas imprevisíveis e dramáticas. O “efeito estufa” é algo com que todos nós temos que aprender a conviver. Isto é o resultado de crescimento econômico desmedido em passo acelerado. É verdade, a teoria socialista sempre foi  favor disto e a prática socialista, especialmente no Leste europeu, produziu poluição maciça. Mas o capitalismo, diferentemente do socialismo, compromete-se pela sua natureza ao crescimento sem limites. E o crescimento de agora em diante precisa ser controlado de alguma forma. O “desenvolvimento sustentável” não pode operar através do mercado, mas deve operar contra ele. Não pode funcionar por meio da livre escolha do consumidor, mas através do planejamento e, onde for necessário, contra a livre escolha. Neste momento a Comunidade Européia decidiu proibir a pesca no Mar do Norte durante uma semana a cada mês para não acabarem os peixes".

 A segunda é a desigualdade social e a terceira é o vácuo moral criado pelo individualismo próprio do capitalismo.

O prof Hobsbawn foi um exemplo de história propositiva. Uma história que busca questionar o status quo, analisando o passado sem esquecer de contribuir com a sociedade atual. Penso que essa forma de fazer história está bem próxima da história ambiental.
Sentiremos saudades.

ST com tema Natureza no III Seminário Internacional de História e Historiografia


 Dia 01 de Outubro de 2012 (Segunda-feira)

10h às 12h - Conferência de Abertura: Reflexões sobre importância da história da historiografia na periodização do conhecimento histórico.
Conferencista: Prof. Dr. Fernando Catroga - Universidade de Coimbra

Local: Auditório da Faculdade de Direito da UFC

Destaque para o ST 8. Natureza, memória e trabalho


Coordenação: Kênia de Souza Rios (UFC), Eurípedes Antonio Funes (UFC) e Leila Mourão (UFPA)

Este Simpósio tem a intenção de por em discussão as possíveis articulações entre Natureza, Memória e Trabalho. Interessa- nos, portanto, propor a construção de uma reflexão que leve em conta as várias transformações da paisagem, bem como as diferentes apropriações de uma ideia de natureza que não se limita a um território esvaziado, ou para usar a expressão de Alain Corbin, ao “Território do Vazio”. Ou melhor, nosso entendimento parte do pressuposto de que a natureza é uma necessária relação com a cultura, de modo que o nosso estudo deve dar conta de uma certa composição cultural em face da conexão com aquilo a que chamamos natureza. Vale, portanto, alimentar o debate sobre a natureza/cultura não como uma polaridade mas como uma condição histórica intrínseca com infinitas possibilidades de combinações. O que abre o leque de estudos adequados a esta ementa, uma vez que pesquisas que articulem a ideia de natureza em diferentes grupos e tempos históricos, sejam a partir dos trabalhos da memória oral ou mesmo registros escritos ou próprios da cultura material, estudos sobre o confronto/acordo entre ciência, técnica e natureza, relações entre natureza e trabalho ou outros temas que envolvam essas combinações fazem parte dessa reflexão nem sempre fácil entre Natureza, Memória e Trabalho.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Laboratório de História e Ecologia retorna nesta quinta-feira


As atividades do Laboratório de História e Ecologia da UFRJ serão retomadas neste dia 27/09 (quinta-feira), com a apresentação da Dra. Susana Cesco, com o título "Agrovilas, agrópolis e rurópolis na Amazônia na década de 1970". 
Em princípio, a apresentação ocorrerá na sala 225, como de costume. 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

“Belo Monte o anúncio de uma guerra”


O filme “Belo Monte o anúncio de uma guerra”, será exibido nesta sexta-feira (21/09) como parte da programação do IV ENANPPAS.
Local: Auditório Benedito Nunes – Centro de Eventos UFPA
Horário: 12:00 h


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Abertura e 1o. dia da ENANPPAS

Como informamos aqui na segunda-feira passada, está acontecendo em Belém  o VI ENANPPAS. O post de hoje traz duas fotos. A primeira da Mesa 1 - na qual estava debatendo os professores doutores José Augusto Pádua (UFRJ), Célio Bermann (USP), José Augusto Drummond (UNB) e Peter Toledo(INPE/PPGCA‐UFPa). O título da mesa: Abordagens Históricas dos Problemas Sócio‐Ambientais: Desflorestamento,Biodiversidade e Energia.


A segunda foto é o registro da conferência de abertura proferida pelo professor Dr. Enrique Leff.


História ambiental e ecopsicologia

A ecopsicologia (ou psicologia ambiental) tem como principal objetivo o resgate da natureza na subjetividade humana. A história ambiental, por sua vez, preocupa-se em estudar a relação entre os homens em sociedade e o meio ambiente em uma perspectiva histórica. Esta comunicação tem como objetivo refletir sobre os pontos de convergência e divergência entre a história ambiental e a ecopsicologia, destacando o caráter multidisciplinar dessas matérias e suas contribuições para as análises daqueles que se debruçam sobre as questões que envolvem o homem, a natureza e seu passado. Chamaremos atenção para alguns instrumentos teóricos e chaves-explicativas próprias da ecopsicologia como formas de ampliar a visão e o estudo da relação sociedade/natureza em uma perspectiva histórica.


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

VI ENANPPAS: nossos destaques

Amanhã acontece a abertura do VI Encontro Nacional da ANPPAS (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade). Belém sediará esta edição no campus Guamá.

Os encontros nacionais da ANPPAS são fóruns importantes de discussão e de comunicação entre os pesquisadores, profissionais e estudantes que integram nossa comunidade. Também, é um importante momento para a criação de redes sociais em torno dos assuntos relacionados aos temas de interesse da associação.

Confira a programação de abertura e nosso destaque para a Mesa 1 que acontecerá no dia 19/09 (Ter).

18 de Setembro (Terça)

18:30h às 19:00h ‐ Cerimônia de Abertura
Entrega do Prêmio Anppas 2012
Local:Auditório Benedito Nunes – Centro de Eventos UFPA

19:00h às 20:30h–Conferência de Abertura
Local:Auditório Benedito Nunes – Centro de Eventos UFPA
Sociedad, política y naturaleza: conhecimento para cual sustentabilidade?
Dr. Enrique Leff ‐ México (na foto)

20:30 às 21:30h
Local: Centro de Eventos UFPA
Abertura da Exposição “Amazônia: Povos e Comunidades Tradicionais”
Abertura da Exposição “Reserva Biológica do Gurupi: uma riqueza a ser preservada”
Lançamento de Livros
Coquetel

No dia 19 de setembro (Quarta)

Mesa 1 ‐ Abordagens Históricas dos Problemas Sócio‐Ambientais: Desflorestamento, Biodiversidade e Energia
Local: Auditório Benedito Nunes – Centro de Eventos UFPA
Horário: 09:00 h às 12:00 h
Coordenador e expositor: Dr. José Augusto Pádua (UFRJ)
Expositores:
Dr. Célio Bermann (USP)
Dr. José Augusto Drummond (UNB)
Dr.Peter Toledo(INPE/PPGCA‐UFPa)

Clique aqui e veja toda a programação

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O encontro de história colonial: notícias e saudades

O IV Encontro Internacional de História Colonial, realizado em Belém nos dias 03, 04, 05 e 06, foi realmente memorável. além de acontecer na Universidade onde cursei minha graduação, especialização e mestrado, pude apresentar minha pesquisa de doutoramento na presença do prof. Dr. Mauro Coelho e das professoras doutoras Íris Kantor, Patrícia Sampaio e Maria de Fátima Costa - tendo o privilégio de ouvir críticas importantíssimas.

Tenho um carinho especial por esse encontro, o qual participei de2 das 3 edições. Mas, ver meus professores na coordenação e proferindo palestra tão boas foi muitíssimo proveitoso. Pude conversar (mesmo que muito rapidamente) com o prof. Serge Gruzinski (foto acima) e entregá-lo o texto que escrevi, juntamento com a colega Gabriela Mirando, intitulado "O boto, a sereia e o historiador: contribuições de Serge Grusinski a história da ciência" (que será publicado brevemente) Mas, antes que o post de hoje se pareça um diário, vou salvá-lo transformando em memórias.

Ministrei junto com o prof. Ms. Diego Machado o mini-curso História da Ciência em documentos coloniais, posso relatar que foi um sucesso. O ponto alto foi conhecer um grupo de estudantes de história preocupados em realizar trabalhos que relacionem ciência, natureza e sociedade - um deles, já havia se inscrito no mini curso que ministrei em Recife (2010) . Pude conhecer as pesquisas dos alunos (na foto acima) e também ter o prazer de ouvir que a partir dos diálogos que tivemos em sala de aula outras pesquisas surgiram - obriga a todos.

Foi muito bom viver todos esses dias no século XVIII. O V Encontro Internacional de História Colonial acontecerá em Maceió nos dias 03-06 de Setembro de 2014. Nos resta aguardar.