sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O universo curvo, cinza e sem árvores de Oscar Niemeyer

MAC - Niterói-RJ
"Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein" 

As palavras acima são de Oscar Niemeyer, o mais importante arquiteto brasileiro. Não se preocupe, não vou escrever louvores prolongados aqui. Mesmo assim, não posso deixar de concordar que seus trabalhos marcaram a arquitetura mundial por sua originalidade, e é aí que, na minha opinião, está seu valor.

A frase que abre o post de hoje revela que estava na natureza a inspiração para seus trabalhos, todavia é curioso que ao falar de curvas, Niemeyer não cita aquela que já nasce curva: a árvore. Como diria Mário Quintana: "onde já se viu uma árvore ridiculamente simétrica?"

Peço a você a licença da palavra democrática para dizer que as obras de Niemeyer me lembram concreto, cimento e nenhuma árvore. Aquele cinza cinzento que eu não gosto de ver. Uma distância tão grande do natural que não encontro a curva que ele viu nas montanhas, ou nas ondas do mar. Penso que o universo curvo de Einstein não tem tanto concreto assim.

Em Belém, quantas vezes eu cruzei o Memorial à Cabanagem, monumento assinado por Niemeyer, e me perguntei, onde estão as árvores? E todo aquele cimento no chão de Brasília? No Museu de Arte Contemporânea em Niterói, lá não há espaço pra viver sequer uma formiga (as fotos revelam isso?).

Espaço Memorial da Cabanagem em Belém-PA

Durante as décadas de 1950 e 60, quando temos muitas fundações de Escolas de Engenharia, o concreto tem seu auge, é nesse período que Niemeyer realiza inúmeros trabalhos e me parece que estabelece seu estilo. É um momento em que há uma valorização de espaços cinzas diretamente relacionados com o desenvolvimento. Gramados a perder de vista e espelhos d'água.

Brasília
Esse post não quer desmerecer o arquiteto Oscar Niemeyer, longe disso, reconheço sua importância. Quis apenas destacar que sua arquitetura é a expressão de um tempo em que o concreto significava progresso, uma estética desenvolvimentista, uma escolha que, na minha opinião, inspira-se na curva das montanhas mas preferiu apartar as árvores. E isso se perpetuou por meio de seus trabalhos, agora, espero que a originalidade de Niemeyer inspire novos trabalhos...mas não esqueçam das árvores!

3 comentários:

Anna disse...

Aaah! Que alívio! Em mundo encaixotado, difícil encontrar alguém sincero e genuíno o suficiente para se contrapor aos padrões de estética pré-estabelecidos. Quem decidiu por todos nós que Niemayer era o símbolo da arquitetura perfeita? Curvas cinzas, retas sem vida que propõem cidades sóbrias, tristes e áridas... Pois num país de sol escaldante como o nosso não é possível que não se perceba o valor de uma árvore... Sua sombra, sua calma, seu passarinhos. Arquitetura verde é o futuro(pelo menos deveria ser)

Anna disse...

**Niemeyer(correção)

* disse...

As construcoes de niemeyer sao obras de arte, vcs deveriam visitar o ibirapuera aqui em sp antes de dizer bobagens