sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2011: obrigado!

Prezados colegas e amigos que visitam este blog,

Neste ano de 2011 alcançamos um número record de acessos, por isso quero agradecer:
pelos novos amigos que fiz,
pelos antigos amigos que me ajudaram,
por cada visita,
pelos comentários,
por divulgar entre seus contatos as ideias postadas aqui,
e pelas dicas de conteúdo.

Um Feliz Ano Novo para todos!
Que em 2012 continuemos juntos - simples assim.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Crosby e os 106 micos: a transferência de espécies

HOJE, UMA NOTÍCIA ME FEZ LEMBRAR DO HISTORIADOR estadunidense Alfred Crosby e sua obra "Imperialismo Ecológico. A manchete no portal G1 dizia: Operação inédita vai 'expulsar' espécie de mico-leão do Rio de Janeiro.
A matéria explicava que "nos próximos meses, “caçadores” devem andar pelas ruas de Niterói para capturar exemplares de mico-leão-da-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas), espécie ameaçada de extinção" com o objetivo de transferir 106 desses animais para o sul da Bahia, devido esta espécia estar ameaçando de extinção o o mico-leão-dourado (Leontopithecus Rosalia).

A historicidade das transferências
Crosby procurou mostrar que a dominação européia não pode ser entendido apenas a partir da explicação das formas de dominação política e de exploração econômica. Para ele, esse processo é também caracterizado pelo que chama de um “imperialismo ecológico”, referindo-se à transplantação de animais e plantas do Velho Mundo para as Américas.

Ao longo do tempo, a natureza americana incorporou vários elementos de plantas e animais europeus, como por exemplo o trigo. No Brasil, há relatos que o cultivo dessa espécie tenha iniciado em 1534, na antiga Capitania de São Vicente. A partir de 1940, há uma expansão comercial do trigo no Rio Grande do Sul. Nessa época, colonos do Sul do Paraná plantavam sementes de trigo trazidas da Europa em solos relativamente pobres (o coqueiro e a mangueira também são exemplos de transplantação de espécies).
Da mesma forma e por outros motivos muitos animais também foram trazidos para o Brasil, como o cavalo. Não podemos deixar de lado o fato de que espécies de outros continentes, que não o europeu também foram trazidos para as colônias portuguesas na América, transformando paisagens e alterando o ecossistema local. Esse tipo de prática não foi exclusividade do período colonial - com a criação de hortos e jardins zoo-botânico - ao longo de toda história do Brasil vemos acontecerem essas transferências, passando pelo período da borracha chegando até nós e a discussão da bio-pirataria.

Os 106 procurados
A notícia que nos levou a escrever o post de hoje nos faz refletir como dentro do próprio território nacional esse tipo de transferência causa alterações importantes e curiosamente a "caça aos micos" vai de encontro a essa prática importante para entender muitas passagens da história do Brasil.

Assim, o Imperialismo ecológico do mico-leão-da-cara-dourada parece que não irá vingar e está com os dias contados. Então, se você encontrar com um dos 106 micos, fique sabendo, eles são PROCURADOS.


O trabalho de Crosby: CROSBY, A. W., 1993. Imperialismo ecológico, a expansão biológica da Europa 900 - 1900. São Paulo: Companhia das Letras.

domingo, 25 de dezembro de 2011

A natureza nos escritos do padre Antônio Vieira

Em entrevista conduzida por Marcos Flamino Peres a revista Cult (164), o professor de literatura brasileira da USP, Alfredo Bosi falou sobre o padre Antônio Vieira, considerado por Fernando Pessoa o "imperador da língua portuguesa".

Sob o título "O orador das multidões", a entrevista revela o seguinte argumento de Bosi: Vieira foi ao mesmo tempo crítico e defensor do sistema colonial. Apesar de sempre me interessar pelos assuntos referentes à história colonial, este post é para destacar uma pergunta muito cara aos objetivos deste blog, acompanhe na íntegra a questão e a resposta:

CULT - Como se dá a relação entre Escrituras e natureza em sua oratória [referindo-se a Vieira]?

Bosi - A natureza é fonte de metáforas do Antigo ao Novo Testamento. É só abrir o Cântico dos cânticos, atribuído a Salmão, para encontrar belíssimas imagens naturais do amor humano que a exegese cristã sublimou na união do fiel com Deus.
As parábolas do Evangelho falam em lírios do campo, sinais do esplendor da natureza que nem todo esforço dos homens conseguiu criar, ou no arbusto de mostarda brotado da menor das sementes, mas em cujos ramos vêm abrigar-se os pássaros do céu.
Transpostas para a esfera moral, há árvores abençoadas que dão frutos e árvores estéreis que merecem a ação do machado e do fogo. Não é, pois, de estranhar que a oratória sacra se tenha valido de comparações entre o mundo moral e a infinita variedade dos aspectos da natureza.
Como exemplo dessa simbiose, há dois célebres sermões.
O "Sermão da Sexagésima" funda-se na parábola do semeador, cujas sementes caem em terrenos diversos, espinhoso, pedregoso ou fértil: base metafórica que o próprio Evangelho esclareceu quando os discípulos pediram a Cristo que a decifrassem.
O "Sermão de Santo Antônio aos Peixes" é todo articulado em torno dos tipos e comportamentos dos peixes. Vieria os compara engenhosamente aos caracteres cruéis ou falsos dos homens: no caso, os colonos que tanto maltrataram os jesuítas na questão do trabalho indígena.
(Revista Cult, n. 164, p. 37)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Marley, eu e você

Na ultima quarta-feira, o filme Marley e eu ficou em primeiro lugar como assunto mais comentado no Twitter. Isso aconteceu no momento em que a Rede Globo o transmitia. O post de hoje poderá parecer pouco fundamentado, sem concisão e com uma carga emotiva capaz de tornar fraco o argumento - tudo isso verdade.

O filme Marley e eu conta uma conta a história do relacionamento entre um cão e uma família que o ama muito, a ponto de aceitar todos os prejuízos causou. Se você tem, teve ou ama cachorros será difícil não se emocionar com a história ali contada. O que eu gostaria de refletir é que toda essa emoção sentida pelo Marley (cão do filme) tem uma historicidade, nem sempre os seres humanos tiveram esse tipo de relacionamento com os cãos, isso foi sendo construído ao longo do tempo.Filmes como esse nos mostram como a vida dos humanos está entrelaçada com o mundo não humano, ao mesmo tempo em que a película é um produto dessa construção cultural do "amor ao pet".

Segundo Keith Thomas, na Inglaterra Seiscentista os animais de estimação despertavam suspeita moral, especialmente se admitidos à mesa e mais bem alimentados que os servos. Feria as normas de civilidade trazer cães à mesa, culpando-se desse comportamento, a devota elisabetana Katherine Stubbes, em seu leito de morte disse ao seu marido: "Bom esposo, eu e voce ofendemos a Deus gravemente ao receber tantas vezes essa cadela em nosso leito; não teríamos mostrado disposição para receber uma alma cristã [ ... ] em nosso quarto, alimentá-la em nosso colo e dar-lhe comida à nossa mesa como o fizemos com esta vira-lata imunda por tanto tempo. O Senhor deu-nos a graça de nos arrependermos".
Filmes como Marley e eu, nos fazem até acreditar que esse sentimento de amor para com os cães é inato e sempre acompanhou o homem, mas pensar que isso foi construído culturalmente parece nos ajudar a entender a história do relacionamento entre homens e cães. Mas, para além disso, é necessário reconhecer que há muita verdade na lealdade dos cães para conosco, seu comportamento e atitudes no cotidiano também contribuíram para suscitar em nós afeto, fazendo com que as palavras que encerram o filme sejam emocionantes:

Um cachorro, não precisa de carrões, de casas grandes ou roupas de marca.
Um graveto já está ótimo para ele.
Um cachorro não se importa se você é rico ou pobre, inteligente ou idiota, esperto ou burro.
Dê seu coração a ele, e ele lhe dará o dele.
De quantas pessoas você pode falar isso?
Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puro e especial?
Quantas pessoas fazem você se sentir extraordinário?

Dedico este post, pouco historiante e mais poético-emotivo, a todos que tem, tiveram ou querem ter esse tipo de amigo animal e ao meu cachorro Romário, que me faz sentir extraordinário!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Entrevista completa do prof. Pádua à Cult

Em nosso ultimo post noticiamos a entrevista que o professor José Augusto Pádua concedeu à Revista Cult (164) deste mês. Na postagem de hoje do HN, publicamos, com exclusividade, a entrevista na íntegra, que, por motivos de limite de espaço na página da Cult não foi publicada completa.
Agradecemos ao professor Pádua por disponibilizar este material para publicarmos aqui no HN.

A ENTREVISTA
1. Os custos antropológicos/ambientais da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte compensam os ganhos econômicos/de produção?

R: Não compensam. Ser contra Belo Monte não significa ser conta a hidroeletricidade em si. Mas cada projeto deve ser discutido de forma transparente, lúcida e minuciosa. O projeto de Belo Monte, apesar de caríssimo, apresenta uma quantidade grande de problemas e dúvidas. Não apenas graves problemas ambientais e antropológicos, mas também econômicos: custos reais da construção, quantidade real de energia gerada, preço real da energia a ser vendida etc. Tudo isso tinha que ser, no mínimo, examinado com muito mais cuidado. A pressa constitui um caso exemplar de algo que precisa ser enfrentado pela democracia brasileira: a força do que já foi chamado de “capital empreiteiro”. Existe um lobby poderoso de empresas, muitas das quais herdeiras das obras faraônicas do período ditatorial, que ampliam seu capital com base em obras públicas e semi-públicas. A pressão imediatista dessas empresas gera uma cadeia de interesses que distorce o debate político sobre as melhores opções para o manejo inteligente e integrado do território brasileiro.

2. O sr. aponta outra alternativa para solucionar o problema de falta de energia que Belo Monte supostamente resolveria?

R: Existem várias opções dentro de um planejamento energético amplo e cuidadoso. Mas, de imediato, existe a opção da repotencialização das máquinas e equipamentos das atuais usinas e da recuperação dos sistemas de transmissão hoje existentes. A capacidade desse esforço já foi estimada em 32.000 MW, quase três vezes mais do que a potência máxima de 11.200 MW prevista para Belo Monte durante quatro meses por ano. Um grande movimento de conservação e racionalização no consumo geral de energia, por outro lado, poderia multiplicar esse ganho. O custo total de projetos desse tipo seria muito menor para o Brasil. Mas o principal problema é político. O “capital empreiteiro” ganha construindo, não conservando ou reformando.

3. Na época de sua construção, a hidrelétrica de Itaipu suscitou protestos similares àqueles que estamos vendo hoje. Como compara os dois movimentos?

R: Essa comparação revela o valor da democracia. No período ditatorial, a capacidade de debate e mobilização foi bem mais restrita. Isso permitiu a concretização de verdadeiros desastres como a destruição de Sete Quedas e o absurdo cálculo de custo/benefício da hidrelétrica de Balbina, no Amazonas. É provável que, em um contexto democrático, o Brasil teria sido poupado desses desastres. Por isso a discussão precisa seguir adiante, pois ela sempre resulta em benefícios para a sociedade. Os projetos atuais de hidroeletricidade, por exemplo, são menos danosos do que foram no passado. Basta ver que o tamanho dos reservatórios é muito menor. A pressão social foi fundamental para promover esses avanços técnicos. A imposição de projetos como Belo Monte, cujo processo de licenciamento apresenta claras lacunas e distorções, caminha na contra-mão da transição histórica para modelos mais sustentáveis de desenvolvimento.

4. O vídeo "Gota d'Água +10", que traz celebridades globais incitando pessoas a assinarem a petição contra Belo Monte, circulou fortemente pela internet nos últimos dias. Apesar de ter tido grande aderência, surgiram críticas em relação às informações imprecisas e o caráter político anti-petista do mesmo. Quais suas impressões sobre o vídeo? (http://vimeo.com/32115701)

R: É normal que na democracia aconteçam sobreposições de diferentes intenções e interesses na discussão sobre temas cruciais. Mas a participação dos artistas, ao meu ver sincera, foi importante para dar publicidade ao debate, contrabalançando um pouco o enorme lobby dos interesses favoráveis à transformação de Belo Monte em um fato consumado. O importante é que os cidadãos possam ser melhor informados sobre questões que dizem respeito ao futuro mesmo do Brasil. O tema não deve ser discutido de maneira sectária. Não se pode esquecer que o governo Lula, inclusive por conta da presença de Marina Silva no ministério, avançou muito na redução do desmatamento na Amazônia, que caiu em mais de 70% a partir de 2004. A sociedade, portanto, tem o direito de exigir mais coerência entre a política florestal e a política de energia. A região do Xingu é muito sensível do ponto de vista ecológico e humano. É um lugar essencial para pensar o futuro do território e da sociedade brasileira.

SOBRE O PROFESSOR PÁDUA

Possui graduação em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1983), mestrado em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro - IUPERJ (1985), doutorado em Ciência Política pelo IUPERJ (1997) e pós-doutorado em História pela University of Oxford (2007).

Atualmente é professor associado do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o Laboratório de História e Ecologia. É presidente, desde outubro de 2010, da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ambiente e Sociedade (ANPPAS). É membro do Conselho Científico da Sociedad Latinoamericana y Caribeña de História Ambiental, do Comitê Editorial da revista "Ambiente e Sociedade" e do Conselho Editorial dos periódicos Environment and History (Cambridge), Ecologia Política (Barcelona) e História, Ciências, Saúde-Manguinhos (Rio de Janeiro).

Como especialista em história ambiental e política ambiental, deu cursos, proferiu conferências e participou de trabalhos de campo em mais de 40 países. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: história do Brasil, histórial territorial, história das florestas e agroecossistemas, história da ciência, história das idéias sobre a natureza, história das políticas ambientais e políticas de desenvolvimento sustentável.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

José Augusto Pádua fala sobre Belo Monte à Cult


A edição deste mês da Revista Cult traz na primeira página uma entrevista com o Professor José Augusto Pádua, na qual o historiador responde perguntas sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Para ele, o projeto de usina hidrelétrica no Pará é vítima de pressão do “capital empreiteiro”.
O blog Naturalis (link aqui ao lado) publicou a entrevista na íntegra. Destacamos algumas passagens:

"Existe um lobby poderoso de empresas, muitas das quais herdeiras das obras faraônicas do período ditatorial, que ampliam seu capital com base em obras públicas e semipúblicas. A pressão imediatista dessas empresas gera uma cadeia de interesses que distorce o debate político sobre as melhores opções para o manejo inteligente e integrado do território brasileiro".

"A imposição de projetos como Belo Monte, cujo processo de licenciamento apresenta claras lacunas e distorções, caminha na contramão da transição histórica para modelos mais sustentáveis de desenvolvimento".

Calvin e uma reflexão ecológica


Concordo!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Porcos para o bem da floresta: ritualismo e ecologia

Donald Worster, em seu artigo traduzido para o português como "Para fazer história ambiental" cita a obra de Roy Rappaport "Pigs for ancestors" - Trata-se de um trabalho de antropologia ecológica. É um estudo de caso clássico de ecologia humana em uma sociedade tribal, o papel da cultura (especialmente ritual) na gestão dos recursos locais e regionais.

Worster diz:
De novo são os antropólogos que têm muito a oferecer aos historiadores em busca de perspectivas e métodos. Um dos mais intrigantes trabalhos de campo que eles já produziram focaliza diretamente essa questão do funcionamento das idéias em pequenas comunidades. Ele vem de um vale entre as montanhas da Nova Guiné, onde os Tsembaga subsistem na base de taro, inhame e porcos. Publicado por Roy Rappaport sob o título Pigs for file anceslOrs [Porcos para os ancestrais), é um exemplo brilhante de como se pode estudaras humanos e as suas culturas mentais operando num único ecossistema.

Os Thembaga aparecem no texto de Rappaport como uma população engajada em relações materiais com outros componentes do seu ambiente. No entanto, diferentemente de seus congêneres animais e vegetais, os Tsembaga criam, a partir do mundo que os cerca, símbolos, valores, finalidades e significados, especialmente significados religiosos. E essa cultura desempenha uma função importante, embora por vezes de forma obscura e indireta: ela estimula os Tsembaga a restringir o uso da tem e a evitar a sua degradação. Por longos períodos, de até 20 anos, esse povo se ocupa em criar porcos, que são acumulados como pagamento aos espíritos dos ancestrais pela ajuda dada nas batalhas com os inimigos vizinhos. Finalmente, quando eles julgam que têm porcos suficientes para satisfazer os espíritos, segue-se uma matança ritualística. Centenas de animais são mortos e consumidos em honra dos antepassados [a figura mostra um esquema].
Paga a dívida, os Thembaga estão agora prontos para guerrear de novo, confiantes que o poder divino está outra vez do seu lado. Assim segue a sua vida, ano após ano, década após década, num ciclo ritualístico de criação e matança de porcos, danças, festas e guerras. A explicação local desse ciclo é integralmente religiosa, mas o observador externo percebe que algo mais está acontecendo: há um elaborado mecanismo ecológico em operação, mantendo o número de porcos sob controle e propiciando ao povo uma vida em equilíbrio com o seu ambiente.

Presumindo que o estudo seja válido, nesse vale coberto de florestas Rappaport encontrou um exemplo de como uma cultura pode assumir os seus contornos enfrentando os problemas da sobrevivência num ecossistema peculiar. Aharmorua entre os reinos da natureza e da cultura parece, nesse caso, ser quase perfeita. Mas o historiador quer saber se as populações humanas têm sempre tanto sucesso nas suas adaptações quanto os Tsembaga. Mais que isso, serão os povos que o historiador mais provavelmente estudará - p0vos organizados em sociedades avançadas e complexas, e que se relacionam com a natureza através de rituais modernos, religiões modernas e outras estruturas modernas de significado e valor - tão bem-sucedidos?
Rappaport se arrisca a sugerir que a "sabedoria ecológica" inconscientemente encarnada no ritual cíclico da Nova Guiné não é de forma alguma comum.

O texto de Rappaport foi publicado em 1984, mas e agora, como estão as florestas de Papua Nova Guiné?

Segundo notício do site MONGABAY.COM, a extração de madeira está tendo um pesado efeito sobre as florestas de Papua Nova Guiné. Usando imagens de satélite para revelar mudanças na cobertura florestal entre 1972 e 2002, pesquisadores da Universidade de Papua Nova Guiné e da Universidade Nacional da Austrália descobriram que Papua Nova Guiné (PNG) perdeu mais de 5 milhões de hectares de floresta nas últimas três décadas — a cobertura florestal total declinou de 38 million hectares in 1972 to 33 milhões de hectares em 2002.

O desflorestamento na Papua Nova Guiné — a metate leste da ilha da Nova Guiné — primariamente resulta da extração industrial, agricultura de subsistência, e cada vez mais agricultura em larga escala — especialmente plantações de palma de óleo. A extração de madeira tem o maior impacto, resultando tanto em desflorestamento direto e degradação de florestas primárias ricas biologicamente. A extração de madeira também promove a conversão de terras florestais para a agricultura [a imagem de satélite ao lado mostra a destruição da natureza em PNG].

Além de reduzir seu estoque de madeira, o relatório diz que o desflorestamento e a degradação pode estar diminuindo os altos niveis de diversidade cultural e biológica da PNG. O país é abrigo para mais de sei por cento da biodiversidade terrestre do mundo e mais de 10 por cento das linguas faladas do planeta. O relatório diz que a extração e desflorestamento pode estar degradando funções ecológicas importantes — incluindo a regulação da água, estabilização global e regional do clima, retenção do solo e nutrientes, controle de pestes, polinização de colheitas, e a manutenção de espécies de peixes — provida por florestas saudáveis.

Fonte:
RAPPAPORT, Roy A. Pigs for the ancestors: ritual
in lhe ecology of New Guine people.
Waveland Pr Inc; 2nd edition (February 8, 2000).
WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. Estudos Históricos, v.4, n.8, p.211-212, 1991.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Exposição "Olhar o céu, medir a Terra"

Na próxima segunda-feira, dia 19 de dezembro, às 18h, o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) inaugura a exposição “Olhar o Céu, Medir a Terra”, na qual o público é convidado a conhecer aspectos do papel da ciência na definição territorial do Brasil. O MAST fica na Rua General Bruce, 586, Bairro Imperial de São Cristóvão. A cerimônia será seguida de um coquel (click na imagem para ampliar).

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Donald Worster e Wilhelm Dilthey

Hoje, as 13h00 apresento a comunicação Donald Worster e Wilhelm Dilthey: diálogos e a construção da hermenêutica ambiental no IV Congresso Internacional Questões Fundamentais da Hermenêutica Filosófica Dilthey e o Pensamento Contemporâneo (12 e 13 de dezembro de 2011). Congresso Comemorativo dos 100 anos da morte de Wilhelm Dilthey realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Campus Maracanã - 11 º andar
Auditório 111.

A obra do filósofo alemão Wilhelm Dilthey (na foto) é essencialmente conhecida pela sua influência na metodologia das ciências humanas e sua reflexão sobre a hermenêutica. Donald Worster é um importante historiador dos Estados Unidos que tem publicado estudos sobre a relação homem/sociedade e meio ambiente. Minha comunicação pretende discutir como o pensamento filosófico de Dilthey, destacando sua fórmula hermenêutica, dialoga com os trabalhos de Worster e o método de compreender a História a partir de uma perspectiva que considere os fatores ambientais. Será analisada a importância da ciência da compreensão (Wissenschaft des Verstehens) formulada por Dilthey para a construção de uma hermenêutica ambiental e seu objetivo, dentre outros, de compreender as visões de natureza do homem no tempo e no espaço e a interpretação de relatos sobre o meio ambiente desses sujeitos históricos.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Amazônia dos Viajantes: mesa redonda e lançamento

O Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), vinculado ao Observatório Nacional, organiza o evento “A Amazônia dos viajantes – História e Ciência”, no dia 12 de dezembro, a partir das 14h30. A mesa de debates contará com a presença do professor João Pacheco de Oliveira, do Museu Nacional (MN) da UFRJ, além dos pesquisadores Nelson Noronha e Priscila Faulhaber, da Universidade Federal do Amazonas e do Mast, respectivamente.

O debate acontece no auditório do prédio anexo ao Mast, Rua General Bruce, 586, São Cristóvão, RJ

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

As árvores e a Avenida Paulista

Minha primeira impressão quando cheguei na Avenida Paulista foi: "ONDE ESTÃO AS ÁRVORES DESSE LUGAR?". A cor cinza predomina, asfalto e mais asfalto. O MASP e nem sequer um jardim. Para não dizer que só falei do marrom...o verde do semáforo ficava em destaque.
Hoje, ao comemora 120 anos, a via mais famosa/importante de São Paulo é o tema de nosso post.

Acima, a aquarela de Jeles Martin retrata a inauguração da Avenida Paulista, em 8 de dezembro de 1891. A iniciativa do empresário uruguaio Joaquim Eugênio de Lima tinha como objetivo criar um empreendimento imobiliário de alto luxo. A região era formada predominantemente por terrenos baldios cobertos por vegetação rasteira. Apenas uma parte da Mata Atlântica original fora preservada no Parque tenente Siqueira Campos, conhecido como Parque Trianon.

Cavalos, pessoas e uma vegetação bastantes esparsa compõem essa representação na qual podemos iniciar nossa breve reflexão visual da paisagem dessa avenida.

Em seguida temos uma fotografia de Guilherme Gaensly com data de 1902 vista da casa de Adam Von Bulow Note que, diferente de hoje, as árvores tomam mais espaço na imagem de que as residências - dando o alinhamento da avenida.


Em 1928, os carros da época já parecem na fotografia acima como o principal objeto do autor da imagem. Mesmo assim, ao fundo, as árvores continuam compondo em número expressivo a paisagem da Avenida Paulista.

De maneira diferente, os arranha-céus tomam a cena nesta próxima fotografia de 1970. As árvores continuam em menor número, mas parecem ter desaparecido do meio fio - formando apenas um grande passarela verdade / guarda-sol para os pedestres.


Por fim, uma foto bem recente da aniversariante, e a ausência do verde na avenida. Ao contrário do que se possa imagina, a aquarela de Jules Martin também contava com a falta das árvores, mas pelas mudas retratadas pelo pintor do século XIX, não parecia ser o propósito de seus projetista a ausência tão drástica de vegetação. Interessante refletir a transformação da avenida, o ordenamento das plantas nesse local e o impacto visual que isso ocasiona.

Meus parabéns à Avenida mais famosa do Brasil - lhe desejo muitas árvores de vida!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Aprovação e mutreta: o Código Florestal

Além dos absurdos do Código Florestal, uma falta de respeito à democracia aconteceu ontem - os nobres Senadores restringiram a entrada de supostos manifestantes contrários ao código.

Como se não bastasse, grandes doadoras eleitorais do agronegócio que terão multas ambientais suspensas com a aprovação do Código Florestal injetaram cerca de R$ 15 milhões na campanha de 50 congressistas que participam da votação da norma.

As empresas foram autuadas, num total de R$ 1,6 milhão, por irregularidades como destruir vegetação nativa, áreas de preservação permanente, e consumir carvão de mata nativa. Há ainda multas impostas pela Justiça.

Abaixo, click na imagem para ampliar - um esquema sobre o código florestal


Um infográfico sobre o mesmo tema: http://www1.folha.uol.com.br/poder/1017618-videografico-apresenta-as-principais-mudancas-do-codigo-florestal.shtml

Fonte: site UOL

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Aves e paisagens no acervo do IEB

O Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) disponibilizou algumas imagens pertencentes ao seu acervo, compreendendo Arquivo, Biblioteca e Coleção de Artes Visuais. Segundo o IEB, tal ação teve objetivo de oportunizar que internautas tivessem acessos às iconografias como papéis de parede para computador.

Meu intuito de publicar algumas delas aqui é outro. De pensar como a natureza foi representada por alguns artistas. Devo esclarecer que muitas informações importantes como ano, título e autoria não foram divulgadas, todavia, uma visita ao IEB resolveria este problema. Vamos às imagens:


O que me chama atenção na imagem acima são as cores utilizadas pelo autor, o contraste do verde com o laranja - representando os caminhos percorridos pelo homem. Uma bela iconografia do período colonial.
Abaixo, vemos a preocupação do autor em representar o relevo da região - destaco a preocupação com a vegetação esparsa.


Em seguida, três representações de pássaros de François Levaillant (1753-1824) - um explorador francês que se opunha a nomenclatura proposta por Lineo.


A disposição das aves no desenho é típica dos exploradores que se preocupavam em um representação descitiva da natureza - quase anatômica dos animais. Deslocados de seu contexto ambiental - estavam expostos para sua estrutura ser observada e registrada. Note a diferença da postura das aves - a arara bastante altivo, como que requisitando certo respeito. Levaillant tem a sencibilidade de representa, na imagem seguinte um "movimento" bastante característico do papagaio.


Parece conveniente a seguinte citação: He verdade, diz M. Adanson, que há muitas coisas nos entes orgânicos, que não se podem exprimir em Estampas, e são só proprias das descripções; mas não se pode duvidar tãobem que ha algumas nos ditos entes, e hum não sei quê nas suas physionomias, que so he privativo à pintura ou desenho de exprimir e de que nenhuma descripção pode dar noções claras. He por esta razão que será sempre necessário reunir as figuras às descripções, e as descripções às figuras, como servindo humas às outras de hum recíproco socorro. (Félix Avelar Brotero, Compêndio de botânica, 1788)


Para se divertir: dois vídeos animação tendo como tema as aventuras de François Levaillant e seu contato com a natureza.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Plantas do Brasil e Paraguai por Sant-Hilaire

Com a presença do botânico francês Marc Pignal, será lançado neste sábado, 3, no Santuário Serra do Caraça, em Catas Altas, o livro História das plantas mais notáveis do Brasil e do Paraguai, de Auguste Saint-Hilaire, botânico que percorreu o Brasil no início do século 19. Marc Pignal é curador do material coletado por Saint-Hilaire.

O livro integra a pesquisa desenvolvida pelo Banco de Dados e Amostras de Plantas Aromáticas, Medicinais e Tóxicas (Dataplamt) da UFMG, coordenado pela professora Maria das Graças Lins Brandão, que organizou o livro com o professor Christopher William Fagg (Universidade de Brasília).

Trata-se de obra inédita em língua portuguesa, publicada na França em 1824. “É o primeiro tomo resultante da idéia não concretizada do autor de reunir em vários volumes os textos que ele havia publicado, separadamente, em diferentes revistas francesas”, explica Maria das Graças Lins Brandão, ao informar que como todas as publicações de Saint-Hilaire, “o livro é rico em detalhes e ilustrações primorosas das plantas”.

Em sua opinião, a leitura de História das plantas mais notáveis do Brasil e do Paraguai é obrigatória "para todos aqueles que, a exemplo do autor, se interessam pela história e se preocupam com o futuro da vegetação nativa do Brasil”.
Fonte: site da UFMG

Amélia Império Hamburger - homenagem

Na década de 1960, a cientista teve atuação importante na fundação da Sociedade Brasileira de Física, cujo estatuto ajudou a redigir. Ao longo dos anos, fez parte da diretoria e do conselho em várias oportunidades.
Graduada em física pela USP – universidade na qual veio a lecionar por mais de 40 anos – em 1954, Hamburger fez mestrado e pós-doutorado nos EUA na década de 1960. Dedicou sua pesquisa a áreas como história, epistemologia e o ensino da física. Organizou o livro "Fapesp 40 anos - Abrindo Fronteiras" e ganhou um prêmio Jabuti por um texto que continha a primeira parte de um projeto de edição do livro “Obra científica de Mario Schönberg”.
Fonte: g1.com