quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Crosby e os 106 micos: a transferência de espécies

HOJE, UMA NOTÍCIA ME FEZ LEMBRAR DO HISTORIADOR estadunidense Alfred Crosby e sua obra "Imperialismo Ecológico. A manchete no portal G1 dizia: Operação inédita vai 'expulsar' espécie de mico-leão do Rio de Janeiro.
A matéria explicava que "nos próximos meses, “caçadores” devem andar pelas ruas de Niterói para capturar exemplares de mico-leão-da-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas), espécie ameaçada de extinção" com o objetivo de transferir 106 desses animais para o sul da Bahia, devido esta espécia estar ameaçando de extinção o o mico-leão-dourado (Leontopithecus Rosalia).

A historicidade das transferências
Crosby procurou mostrar que a dominação européia não pode ser entendido apenas a partir da explicação das formas de dominação política e de exploração econômica. Para ele, esse processo é também caracterizado pelo que chama de um “imperialismo ecológico”, referindo-se à transplantação de animais e plantas do Velho Mundo para as Américas.

Ao longo do tempo, a natureza americana incorporou vários elementos de plantas e animais europeus, como por exemplo o trigo. No Brasil, há relatos que o cultivo dessa espécie tenha iniciado em 1534, na antiga Capitania de São Vicente. A partir de 1940, há uma expansão comercial do trigo no Rio Grande do Sul. Nessa época, colonos do Sul do Paraná plantavam sementes de trigo trazidas da Europa em solos relativamente pobres (o coqueiro e a mangueira também são exemplos de transplantação de espécies).
Da mesma forma e por outros motivos muitos animais também foram trazidos para o Brasil, como o cavalo. Não podemos deixar de lado o fato de que espécies de outros continentes, que não o europeu também foram trazidos para as colônias portuguesas na América, transformando paisagens e alterando o ecossistema local. Esse tipo de prática não foi exclusividade do período colonial - com a criação de hortos e jardins zoo-botânico - ao longo de toda história do Brasil vemos acontecerem essas transferências, passando pelo período da borracha chegando até nós e a discussão da bio-pirataria.

Os 106 procurados
A notícia que nos levou a escrever o post de hoje nos faz refletir como dentro do próprio território nacional esse tipo de transferência causa alterações importantes e curiosamente a "caça aos micos" vai de encontro a essa prática importante para entender muitas passagens da história do Brasil.

Assim, o Imperialismo ecológico do mico-leão-da-cara-dourada parece que não irá vingar e está com os dias contados. Então, se você encontrar com um dos 106 micos, fique sabendo, eles são PROCURADOS.


O trabalho de Crosby: CROSBY, A. W., 1993. Imperialismo ecológico, a expansão biológica da Europa 900 - 1900. São Paulo: Companhia das Letras.

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