Na ultima quarta-feira, o filme Marley e eu ficou em primeiro lugar como assunto mais comentado no Twitter. Isso aconteceu no momento em que a Rede Globo o transmitia. O post de hoje poderá parecer pouco fundamentado, sem concisão e com uma carga emotiva capaz de tornar fraco o argumento - tudo isso verdade.
O filme Marley e eu conta uma conta a história do relacionamento entre um cão e uma família que o ama muito, a ponto de aceitar todos os prejuízos causou. Se você tem, teve ou ama cachorros será difícil não se emocionar com a história ali contada. O que eu gostaria de refletir é que toda essa emoção sentida pelo Marley (cão do filme) tem uma historicidade, nem sempre os seres humanos tiveram esse tipo de relacionamento com os cãos, isso foi sendo construído ao longo do tempo.Filmes como esse nos mostram como a vida dos humanos está entrelaçada com o mundo não humano, ao mesmo tempo em que a película é um produto dessa construção cultural do "amor ao pet".
Segundo Keith Thomas, na Inglaterra Seiscentista os animais de estimação despertavam suspeita moral, especialmente se admitidos à mesa e mais bem alimentados que os servos. Feria as normas de civilidade trazer cães à mesa, culpando-se desse comportamento, a devota elisabetana Katherine Stubbes, em seu leito de morte disse ao seu marido: "Bom esposo, eu e voce ofendemos a Deus gravemente ao receber tantas vezes essa cadela em nosso leito; não teríamos mostrado disposição para receber uma alma cristã [ ... ] em nosso quarto, alimentá-la em nosso colo e dar-lhe comida à nossa mesa como o fizemos com esta vira-lata imunda por tanto tempo. O Senhor deu-nos a graça de nos arrependermos".
Filmes como Marley e eu, nos fazem até acreditar que esse sentimento de amor para com os cães é inato e sempre acompanhou o homem, mas pensar que isso foi construído culturalmente parece nos ajudar a entender a história do relacionamento entre homens e cães. Mas, para além disso, é necessário reconhecer que há muita verdade na lealdade dos cães para conosco, seu comportamento e atitudes no cotidiano também contribuíram para suscitar em nós afeto, fazendo com que as palavras que encerram o filme sejam emocionantes:
Um cachorro, não precisa de carrões, de casas grandes ou roupas de marca.
Um graveto já está ótimo para ele.
Um cachorro não se importa se você é rico ou pobre, inteligente ou idiota, esperto ou burro.
Dê seu coração a ele, e ele lhe dará o dele.
De quantas pessoas você pode falar isso?
Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puro e especial?
Quantas pessoas fazem você se sentir extraordinário?
Dedico este post, pouco historiante e mais poético-emotivo, a todos que tem, tiveram ou querem ter esse tipo de amigo animal e ao meu cachorro Romário, que me faz sentir extraordinário!
Um comentário:
Não podemos esquecer a parceria companhia-alimento que tivemos com os cachorros ao longo de nossa coevolução. Já existem evidências que as primeiras raças caninas foram 'elaboradas' para diversos fins, inclusive o de alimentar humanos em tempos de escassez ou como iguarias. Os locais dessas evidências, claro, ainda possuem tais costumes, como no sudeste asiático.
Isso nos mostra como a riqueza de concepções que podemos ter em relação à esse animal, que, na minha humilde opinião, não deveria ser antropomorfizado com roupinhas, etc.
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