quinta-feira, 30 de abril de 2015

Vista da Pedra Grande: foto de abril

Nossa foto do mês de abril é uma vista a partir da Pedra Grande, um dos quatro núcleos que compõem o Parque Estadual da Cantareira. O local é uma unidade de conservação e tem sua fauna e flora preservadas e protegidas por lei.


A trilha da Pedra Grande é pesada: são 9,6 km ida e volta. Apesar de todo o caminho ser asfaltado, boa parte dele é subida, pois o mirante fica a 1.010 m acima do nível do mar.

É um momento de encontro com a natureza e com você mesmo, caminhar pelas sombras das árvores, sentir o ar puro, observar flores, frutas e animais.

Ao chegar ao final, falta fôlego para descrever a vista linda da cidade e seus inúmeros prédios.


Sua maior parte está localizada na Zona Norte de São Paulo, ao lado do Horto Florestal. A região é uma das maiores áreas de mata tropical nativa do mundo dentro de uma cidade.

O parque leva esse nome pois Cantareira foi o nome dado à Serra pelos tropeiros que faziam o comércio entre São Paulo e as outras regiões do país, nos séculos XVI e XVII, devido à grande quantidade de nascentes e córregos encontrados na região. Na época, era costume armazenar água em jarros de barro, chamados cântaros, e os apoios onde eram guardados chamavam-se Cantareira.

Fotógrafa e colaboradora deste blog

quarta-feira, 29 de abril de 2015

O rastro da onça: relações entre humanos e animais no Pantanal

O próximo encontro do Laboratória de História Ambiental da UFRJ, no dia 30 de abril de 2015, às 14:00, terá a visita do pesquisador Felipe Sussekind, da PUC-Rio, que apresentará o tema "O rastro e a visão: humanos e onças no Pantanal".

Felipe é antropólogo e publicou recentemente um livro sobre o mesmo tema chamado O Rastro da Onça. 

Resumo biográfico
FELIPE SÜSSEKIND é atualmente professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio. Lançou, em 2014, o livro "O rastro da onça: relações entre humanos e animais no Pantanal", pela Editora 7Letras. Foi um dos organizadores do Colóquio internacional 'Os Mil Nomes de Gaia: do Antropoceno à Idade da Terra', realizado na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, ainda em 2014. É doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional, UFRJ (2010) e mestre em História Social da Cultura pela PUC-Rio (2000). Fez pesquisa de campo sobre projetos de conservação da onça-pintada no Pantanal do Mato Grosso do Sul, e seu trabalho na região gerou também um documentário, Onceiros (2012), que pode ser assistido no link: https://vimeo.com/45760818.

O documentário 'Onceiros' (2012)
Documentário realizado no Pantanal do Mato Grosso do Sul com depoimentos sobre a onça-pintada. Tradicionalmente perseguida e eliminada por criadores de gado, a onça é ao mesmo tempo temida e admirada pelos moradores das fazendas locais. Vaqueiros e caçadores relatam suas experiências, ligadas a relações contínuas de controle da vida animal – domesticação, manejo, rastreamento, captura – e enfrentamento de um ambiente hostil. As narrativas remetem aos zagaieiros, personagens de um passado indígena recente que lutavam com as onças armados apenas com uma lança (a zagaia).

Sinopse do livro
Como se constituem as relações homem-animal quando a onça deixa de ser um item numa coleção de história natural e passa a habitar um mundo? O rastro da onça, de Felipe Süssekind, explora a relação complexa entre ecologia, caça, criação de gado e turismo na região do Pantanal do Mato Grosso do Sul, em propriedades rurais que abrigam projetos de estudo e a preservação da onça-pintada. Através de uma pesquisa antropológica, o autor examina os mais variados aspectos da relação entre humanos e animais, detendo-se, mais especificamente, sobre a complexa trama de relações entre o homem e a onça que coabitam essas regiões. O recorte ecológico depende em geral da exclusão da espécie mais abundante da região, que é o gado. Por se alimentar do gado, a onça tem sido vista também, por muitos fazendeiros, como um problema a ser combatido. Além de detalhes sobre a preservação da Panthera onca, o leitor encontra relatos de caçadores de onça e de seus cães onceiros, que, ao lado das vacas e vaqueiras, constituem figuras centrais neste livro. Entre esses relatos, surgem as narrativas sobre os zagaieiros, caçadores antigos que enfrentavam onças com a zagaia, lança de origem indígena; histórias que carregam todo o imaginário indígena da região e se refletem na nossa cultura, por exemplo, no conto “Meu tio o iarauetê”, de Guimarães Rosa.

O convite está aberto para todos que estejam interessados no tema e no laboratório.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Museus para uma sociedade sustentável: 13ª Semana de Museus

A Semana Nacional de Museus acontece anualmente para comemorar o Dia Internacional de Museus (18 de maio), quando os museus brasileiros, convidados pelo Ibram, desenvolvem uma programação especial em prol dessa data. O tema norteador dos eventos é proposto pelo Conselho Internacional de Museus (Icom).

Neste ano, a sua 13ª edição ocorrerá entre os dias 18 e 24 de maio, quando instituições museológicas de todo o país promoverão atividades em torno do tema Museus para uma sociedade sustentável.

Já está disponível o Guia de Programação da 13ª Semana de Museus, que acontece de 18 a 24 de maio com o tema Museus para uma sociedade sustentável. A publicação traz a programação completa, dividida por região e Unidade da Federação, da edição deste ano da temporada temática, durante a qual serão realizados 4.570 eventos em 609 municípios brasileiros".

Fonte: http://www.museus.gov.br/

segunda-feira, 13 de abril de 2015

O 11º mandamento de Eduardo Galeano

O posto de hoje é uma homenagem ao escritor uruguaio Eduardo Galeano, que faleceu hoje aos 74 anos.  Com um título profético, ele publicou "A natureza não é muda", publicado no semanário Brecha, lembrando as consequência de ignorarmos coisas importantes. 
Ele fala do Equador, poderia ser o Brasil, poderia ser Belo Monte.
Viva Galeano, viva o 11º mandamento: Amarás a natureza, da qual fazes parte!


A NATUREZA NÃO É MUDA 

O mundo pinta naturezas mortas, sucumbem os bosques naturais, derretem-se os pólos, o ar se faz irrespirável e a água insalubre, plastificam-se as flores e a comida, e o céu e a terra tornam-se objetos de leilão.

E, enquanto tudo isto acontece, um país latino-americano, o Equador, elaborou uma nova Constituição. E, nesta Constituição, há abertura para a possibilidade de reconhecer, pela primeira vez na história universal, os direitos da natureza.

A natureza tem muito que dizer, e está na hora de também nós, seus filhos, não continuemos nos fazendo de surdos. E quem sabe até Deus ouça a voz que se levanta daquele país andino e agregue o décimo primeiro mandamento que ficara esquecido nas instituições que nos deu a partir do monte Sinai: «Amarás a natureza, da qual fazes parte».

Um objeto que quer ser sujeito

Por muitos mil anos quase todo o mundo teve o direito de não ter direitos.

De fato, não são poucos os que continuam sem direitos, mas agora pelo menos reconhecem o direito de tê-los; isto é muito mais do que um gesto de caridade dos donos do mundo para consolo dos seus servos.

E a natureza? De certo modo poder-se-ia dizer que os direitos humanos abarcam a natureza, porque ela não é um cartão postal para ser olhado a partir de fora; porque se sabe que as melhores leis humanas tratam da natureza como objeto de propriedade e nunca como sujeito de direitos.

Reduzida à mera fonte de recursos naturais e bons negócios, ela pode ser legalmente subjugada e até exterminada sem que as suas queixas sejam ouvidas e sem que normas jurídicas impeçam a impunidade dos seus criminosos. No máximo, são as vítimas humanas que podem exigir uma indenização mais ou menos simbólica, e isto sempre depois que o dano já foi feito, mas as leis não evitam nem impedem os atentados contra a terra, a água ou o ar.

Aliás, é muito raro que a natureza tenha direitos... Até parece uma loucura. Como se a natureza fosse pessoa! De outro lado parece muito normal que as grandes empresas dos Estados Unidos desfrutem de direitos humanos. Em 1886 a Suprema Corte dos Estados Unidos, modelo de justiça universal, estendeu os direitos humanos às corporações privadas. A lei lhes reconheceu os mesmos direitos que têm as pessoas, direito à vida, à livre expressão, à privacidade e a tudo o mais, como se as empresas respirassem. Mais de cento e vinte anos se passaram e assim continua sendo. E ninguém lhes chama a atenção.

Gritos e sussurros

Nada há de raro, nem de anormal, no projeto que incorporou os direitos da natureza à nova Constituição do Equador.

Aquele país sofreu numerosas devastações ao longo da sua história. Citando um só exemplo, durante mais de um quarto de século, até 1992, a empresa petrolífera Texaco vomitou impunemente dezoito bilhões de galões de veneno sobre a terra, os rios e a população. Uma vez cumprida esta obra de beneficência na Amazônia equatoriana, a empresa que teve origem no Texas celebrou o matrimônio com a Standard Oil. Então a Standard Oil do Rockefeller tinha passado a se chamar Chevron e era dirigida por Condoleezza Rice. Depois um oleoduto levou Condoleezza para a Casa Branca, enquanto a família Chevron-Texaco continuava contaminando o mundo.

Mas as feridas abertas no corpo do Equador pela Texaco e outras empresas não são a única fonte de inspiração desta grande novidade jurídica que foi levada para diante. Alem disso, e não é o menor detalhe, a reivindicação da natureza faz parte de um grande processo de recuperação das mais antigas tradições do Equador e de toda a América. Propõe-se que o Estado reconheça e garanta o direito de manter e regenerar os ciclos vitais naturais, não é por acaso que a assembleia constituinte se comprometeu em identificar os seus objetivos de renascimento nacional com o ideal de vida do sumak kawsay. Isto significa, na língua quíchua, vida harmoniosa: harmonia entre nós e harmonia com a natureza, que nos gera, alimenta-nos e nos abriga, e que tem vida própria, valores próprios, está além de nós.

Estas tradições continuam milagrosamente vivas, apesar da pesada herança do racismo que, no Equador, como em toda a América, siga mutilando a realidade e a memória. Não foi só o patrimônio da sua numerosa população indígena que soube perpetuar estas tradições ao longo de cinco séculos de proibição e desprezo. Pertencem a todo o país e ao mundo inteiro estas vozes do passado que ajudam entrever outro futuro possível.

Desde que a espada e a cruz desembarcaram em terras americanas, a conquista europeia castigou a adoração da natureza, que era pecado de idolatria, com pena de açoite, forca ou fogueira. A comunhão entre a natureza e o povo, costume pagão, foi abolida em nome de Deus e posteriormente em nome da Civilização. Em toda a América e em todo o mundo seguimos pagando as consequências deste divórcio obrigatório.

Eduardo Galeano - Montevidéu, Uruguai