quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

São Paulo e a vigilância comemorativa

O padre José de Anchieta em carta aos seus superiores da Companhia de Jesus:
"A 25 de Janeiro do Ano do Senhor de 1554 celebramos, em paupérrima e estreitíssima casinha, a primeira missa, no dia da conversão do Apóstolo São Paulo e, por isso, a ele dedicamos nossa casa".

Faço uma pausa nos posts sobre a Índia para dar os parabéns a maior e mais importantes cidade brasileira. Hoje, a capital paulista completa 458 anos de sua fundação, concentrando o que há de melhor do circuito cultural em nosso País. Pelo seu desenvolvimento econômico, também é a expressão do consumismo e das tentativas frustradas de resolver problemas sociais crônicos, como o desrespeito ao meio ambiente e o déficit habitacional (sem contar a construção de estádios particulares com dinheiro público).

Certamente, os telejornais irão explorar à exaustão esse tema, tentando convencer a todos, inclusive seus moradores, que a cidade é um lugar aprazível. Essas comemorações efusivas tem um grande motivo político. Já dizia Le Goff que se tornarem senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva (1994: 426).

Pierre Nora, sobre essas comemorações artificiais diz que sem vigilância comemorativa, a história os varreria rápido. Uma espécie de catequese. E aquele nativo em pé, no quadro de Antônio Parreiras, o primeiro expropriado - sua terra nunca seria mais a mesma, mesmo assim continuam tentando lhe convencer que é um bom lugar pra se viver, E ELE EM PÉ.

A imagem: Fundação da cidade de São Paulo, 1913. Antônio Parreiras (Brasil, 1860-1937); Óleo sobre tela, 179 x 200cm; PESP: Pinacoteca do Estado de São Paulo; São Paulo, SP.

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