quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Autodestrutivos de camaro amarelo


Comprar, comprar e comprar! Já dizia Adam Smith que "o consumo é a única finalidade e o único propósito de toda produção". Vivemos em uma sociedade do consumo e isso não tem sido levado a sério. Boa parte de nossos problemas, incluindo aqueles que relacionam os humanos e o mundo natural, estão ligados ao excesso de consumo.


Um dos mais problemáticos, ao meu ver, é o consumo de automóveis e todos os prejuízos ao meio ambiente que isso provoca: poluição, engarrafamentos, aumento da temperatura, enfim, quanto menos carros nas cidade...melhor qualidade de vida. Mas não é isso que tem acontecido.

Ao invés de incentivarem o transporte público, o que vemos é uma constante desvalorização do metrô e ônibus pelo descaso com esses transportes por parte do poder público ou mesmo a supervalorização de carros particulares pelos publicitários.

Na verdade, o post de hoje foi motivado por uma constatação musical. Dos 10 vídeos mais acessados no You Tube, 6 fazem referência direta ao consumos de motos e carros de luxo, argumentando ser este o melhor da vida.

O vídeo mais acessado tem o título "Camaro Amarelo", o refrão diz
"E agora eu fiquei doce igual caramelo,
To tirando onda de Camaro amarelo.
E agora você diz: vem cá que eu te quero,
Quando eu passo no Camaro amarelo."

Outro diz:

De Christian ou de Oakley
De Tommy ou de Lacoste
De CB1000 da Honda
Ou de Hyundai Veloster


Outro clip entre os mais acessados tem o título "Fiorino" enquanto os demais são funks que exaltam o consumismo, marcas de roupa, perfume, etc.

Penso que precisamos questionar esse modelo de sociedade auto-destrutiva.
Para além de curtirmos dentro de um Camaro amarelo, sinto que é preciso despertarmos para o prazer de cochilarmos embaixo das árvores.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

SurPRESAS da natureza no calendário Maia de Dresden

Registro Maia de Dresden - no
centro a deus Chek Cheel

Havia um boato que hoje, 21 de Dezembro de 2012, seria o fim deste blog. Boato, e apenas especulação, Para não deixar a contextualização que tanto se cobra de lado, o mundo também deveria acabar. Isso tudo foi descoberto a partir de leituras de fontes históricas de autoria do povo Maia  (1000 a.C. a 250 d.C.).

Apesar de até agora o mundo não ter acabado, uma leitura dos documentos maias sobre esse suposto fim parece sugerir algumas coisas muito importantes para além do pequeno mundo intelectual. Outro ponto é que há muito de história ambiental nesses documentos produzidos pelas civilizações pré-colombianas.

Um dos 3 calendário maias ainda existentes encontra-se na Biblioteca Estatal de Dresden, na Alemanha (uma tira de papel amate de 3,5 metros, dobrada em 39 folhas). Os documentos revelam, entre outras coisas, a adoração dos Maias pelos deuses da guerra, da morte e do milho - nesse ultimo vemos que tipo de relações exitem em plantas, alimentação e religiosidade.

O diretor da biblioteca, sr. Thomas Burger, diz  que "o documento é uma espécie de calendário agrícola, uma cópia de todo o conhecimento maia disponível na época". Segundo ele, os Maias previam eclipses e estações chuvosas, o que para expressam o lugar central que a natureza ocupava nos registros dessa civilização.

O documento ainda apresenta a deusa Chak Cheel, que derrama água de um jarro de barro e o  crocodilo celeste, que os maias provavelmente associavam à camada mais baixa do céu, também cospe uma grande golfada de água. Segundo Nikolai Grube, especialista em cultura Maia e autor de Der Dresdner Maya-Kalender, a cena ilustra um "grande dilúvio que era esperado a cada cinco anos, quando a estação chuvosa coincidia com o dia 4 EB do calendário ritual de 260 dias".


Vemos novamente que os símbolos desses registros históricos utilizam invariavelmente elementos do mundo natural como parte central de sua forma de pensar e até mesmo se relacionar com o mundo sobrenatural. Para que os animais estão na intercessão desses dois mundos: o real e o não real. Para o diretor Burger, "Pode-se tirar deste manuscrito a lição de que devemos ter um grande respeito pela natureza. Tivemos agora uma década com todos os tipos de inundações e tsunamis. Isso mostra que temos também hoje os mesmos problemas que os maias tinham, de ocasionalmente serem surpreendidos pela natureza."

Códice Maia em Dresden

Não estou certo se essa lição é tão clara nos registros Maias, mas me parece bastante importante pensar sobre o lugar que o mundo natural ocupava na cultura meso-americana. A ideia de que a base da vida são os elementos naturais e que prestar atenção nisso seria fundamental nessa sociedade.

Nossa civilização parece ter como marca uma falta de atenção para com o comportamento do mundo natural. Parece não se esforçar para entender a necessidade do equilíbrio dessa relação entre humanos e não humanos. Creio que a história ambiental pode contribuir com um redirecionamento do olhar dos humanos em outra direção. Não que possamos mudar o curso da história de nosso planeta mas podemos nos comportar melhor nele.

Agradeço a Moema Bacelar pela indicação da matéria.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A natureza na música de Saint-Saëns: o carnaval dos animais

Escrevo o post de hoje ouvindo Le carnaval des animaux de autoria de Camille Saint-Saëns (1835-1921). Essa obra é composta por 14 movimentos e foi concebida no ano de 1886 com o objetivo de ser apresentada na terça-feira gorda de carnaval. O fundo musical não é apenas para embalar minhas palavras, mas sim o objetivo final da postagem.

Saint-Saëns escreveu "O carnaval dos animais" em uma pequena aldeia austríaca após ter chegado de uma turnê sem sucesso na Alemanha. Para além de ser uma peça musical inocente, o compositor francês tinha como objetivo fazer uma crítica ao cenário musical parisiense em fins do século XIX. No contexto do Romantismo, suas melodias procuravam destacar as questões dos indivíduos e a subjetividade humana.




Para compreender as críticas que o autor faz é preciso relacionar o título dos movimentos etrechos inspirados em obras de importantes músicos, como no movimento "Tartarugas", no qual ele parece querer criticar Jacques Offenbach e sua obra 'Orfeu no Inferno"; e o movimento "Fósseis" contendo vários trechos de outros autores.

O que nos chama atenção é Saint-Saëns utiliza os animais como símbolos de determinadas qualidades como a soberba do Leão, o andar vagaroso das tartarugas, o peso e a densidade do elefante e até as ideias ultrapassadas representadas pelos fósseis. O sub-título da obra chama-se "A grande fantasia zoológica", período em que os estados nacionais cada vez mais davam importância para o conhecimento da fauna exótica.

Saint-Saëns teve a oportunidade de visitar a Espanha, as Canárias, o Sri Lanka|Ceilão, a Vietnã|Indochina, o Egito, e esteve várias vezes na América. Deu concertos no Rio de Janeiro e em São Paulo em 1899. 



Para além das análises mais profundas da utilização da natureza na música de Saint-Saëns, é uma obra-prima da música produzida pelos seres humanas, expressando suas percepções sobre os animais. A animação abaixo foi feita pelos estudos Walt Disney utilizando o "Finale" - ultimo movimento da obra, para contar a corrida de um grupo de flamingos.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Tramas do cotidiano: lançamento do livro do Prof. José Alves (Hist. Colonial)


Publicação do livro Tramas do cotidiano: Religião, política, guerra e negócios no Grão Pará do Setecentos (Série Memória da Amazônia), de José Alves de Souza Júnior. Obra vencedora do Prêmio Professor Benedito Nunes, edição 2010.

20 de Dezembro de 2012 - 18h

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Humanos animais de Carlos Fragoso

Até o dia 05.01.13, a sala Kathleen Cullen Fine Arts, em Nova Iorque exibe "Idade da Loucura", um conjunto de 15 gravuras produzidas pelo brasileiro Carlos Fragoso inspiradas no primeiro parágrafo da obra Um conto de duas cidade, de Charles Dickens(1812-1870). Esse romance foi publicado em 1837 e procura descrever a Revolução Francesa.

Dickens volta-se para a observação dos indivíduos pertencentes aos mais diversos estratos da sociedade francesa – desde a aristocracia, passando pela burguesia, até o povo miserável de Paris. Reunidos em uma trama que mescla aventura, romance e tragédia, tais personagens revelam-se, sobretudo, como pequenos retratos das consequências sociais da grande revolução burguesa (Revista Cult 175).

Os desenhos apresentam figuras humanas e animais na paisagem, uma espécie de humanos selvagens são pintados com o objetivo de retratar essa "Idade da loucura" a qual trata o livro de Dickens. Como se as emoções presentes no interior dos personagens viessem a tona por meio de figuras animalescas. Nas palavras do próprio Carlos Fragoso: "olha atentamente para os instintos animais irracionais, inconsciente e primitiva que inflamam a violência, paixão e desejo".
O trecho que inspirou as gravuras:
"It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair, we had everything before us, we had nothing before us, we were all going direct to heaven, we were all going direct the other way - in short, the period was so far like the present period, that some of its noisiest authorities insisted on its being received, for good or for evil, in the superlative degree of comparison only." - Charles Dickens, A Tale of Two Cities.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Aquarelas de Lígia Árias no MABE



A Fundação Cultural do Município de Belém, através do Museu de Arte de Belém, exibe de 22 de novembro de 2012 a 30 de janeiro de 2013, a excepcional mostra individual  "AQUARELAS de LÍGIA ÁRIAS" , que apresenta obras de produção recente da artista .


Lígia nos presenteia com aquarelas que colhem visões do mundo e das coisas, desfilando para os nossos olhares, objetos, naturezas mortas, figuras humanas e paisagens, através de uma linguagem silenciosa e movimento contínuo, onde não existe excesso nem falta e sim técnica e poética perfeitamente e primorosamente integradas à espera de nossa contemplação.

Lígia Árias é natural da Costa Rica e reside no Brasil desde o ano de 1978. Desenhista, Pintora, Aquarelista, Escultora, Restauradora e Curadora. Com formação em Artes Plásticas , integra o Setor de Museografia do MABE desde a sua fundação. Já realizou individuais na Galeria Fidanza do Museu de Arte Sacra “Amazônia” em 2004 e na Galeria Municipal de Arte “ Recortes da Amazônia” em 2002 . Integrou três edições do Salão Arte Pará, e várias coletivas locais e Nacionais em cidades como Santo André, São Bernardo e Brasília.

Aguardamos a sua visita!

Serviço:
Local: Sala Theodoro Braga, Museu de Arte de Belém – MABE, Palácio Antonio Lemos.
Período da Exposição : 22 de novembro de 2012 a 30 de janeiro de 2013.
Horário de Visitação: de terça a sexta: 10h às 18h, sábados, domingos e feriados: 09h às 13h
Visitas agendadas : Ação Educativa / MABE - 31141028

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O universo curvo, cinza e sem árvores de Oscar Niemeyer

MAC - Niterói-RJ
"Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein" 

As palavras acima são de Oscar Niemeyer, o mais importante arquiteto brasileiro. Não se preocupe, não vou escrever louvores prolongados aqui. Mesmo assim, não posso deixar de concordar que seus trabalhos marcaram a arquitetura mundial por sua originalidade, e é aí que, na minha opinião, está seu valor.

A frase que abre o post de hoje revela que estava na natureza a inspiração para seus trabalhos, todavia é curioso que ao falar de curvas, Niemeyer não cita aquela que já nasce curva: a árvore. Como diria Mário Quintana: "onde já se viu uma árvore ridiculamente simétrica?"

Peço a você a licença da palavra democrática para dizer que as obras de Niemeyer me lembram concreto, cimento e nenhuma árvore. Aquele cinza cinzento que eu não gosto de ver. Uma distância tão grande do natural que não encontro a curva que ele viu nas montanhas, ou nas ondas do mar. Penso que o universo curvo de Einstein não tem tanto concreto assim.

Em Belém, quantas vezes eu cruzei o Memorial à Cabanagem, monumento assinado por Niemeyer, e me perguntei, onde estão as árvores? E todo aquele cimento no chão de Brasília? No Museu de Arte Contemporânea em Niterói, lá não há espaço pra viver sequer uma formiga (as fotos revelam isso?).

Espaço Memorial da Cabanagem em Belém-PA

Durante as décadas de 1950 e 60, quando temos muitas fundações de Escolas de Engenharia, o concreto tem seu auge, é nesse período que Niemeyer realiza inúmeros trabalhos e me parece que estabelece seu estilo. É um momento em que há uma valorização de espaços cinzas diretamente relacionados com o desenvolvimento. Gramados a perder de vista e espelhos d'água.

Brasília
Esse post não quer desmerecer o arquiteto Oscar Niemeyer, longe disso, reconheço sua importância. Quis apenas destacar que sua arquitetura é a expressão de um tempo em que o concreto significava progresso, uma estética desenvolvimentista, uma escolha que, na minha opinião, inspira-se na curva das montanhas mas preferiu apartar as árvores. E isso se perpetuou por meio de seus trabalhos, agora, espero que a originalidade de Niemeyer inspire novos trabalhos...mas não esqueçam das árvores!