quarta-feira, 22 de julho de 2020

Continuidade cenográfica em Rugendas e Calixto

Diogo de Carvalho Cabral
School of Advanced Study - University of London


Ao brincar com duas imagens para uma apresentação ppt, me surpreendi ao perceber uma grande continuidade cenográfica. A obra da esquerda (bem oblonga) é "As perobeiras", em que Benedito Calixto (1853-1927) retrata o desmatamento numa fazenda de café em Bebedouro, oeste paulista, em 1906. A da direita é a famosíssima "Derrubada de uma floresta", em que Johann Moritz Rugendas (1802-1858) também retrata o desmatamento cafeeiro, possivelmente no Rio de Janeiro, em 1835. 


É quase como se Calixto estivesse estendendo o cenário enquadrado por Rugendas setenta anos antes, acompanhando a linha do relevo, da encosta em direção ao vale adjacente. Simbolismo semi-consciente que refletia a continuidade de um mesmo processo - o avanço da onda cafeeira sobre a Mata Atlântica - em outra porção do território nacional? No verso de sua pintura, Calixto escreveu "As Perobeiras (na terra do café) - É uma espécie da flora paulista que agoniza!"

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