quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Natureza na Semana de 22: a capa Modernista de Di Cavalcanti

Seria a Natureza o centro da Semana de Arte Moderna de 1922? Pelo menos no cartaz de apresentação desse movimento, sim.  A capa do programa da Semana de Arte Moderna de 22 é de autoria do pintor Di Cavalcanti e está sob a guarda da Universidade de São Paulo, no Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros. Nela uma árvore está no centro e representa as aspirações de artistas que viriam a ser muito frutíferas e transformariam a cultura paulista.

O arbusto seco não aparenta ser novo, mas uma planta com suas raízes expostas que resistiu ao solo árido e mesmo assim apresenta brotos vermelhos que combinam com a primeira e última letra da frase que está acima. Seria, portanto, a cultura nacional e a cidade de São Paulo solos áridos, o movimento modernista essa árvore resistente e a Semana de 22 seus brotos e folhas vermelhos como o sangue que corre em nossas veias?

Vale lembrarmos da provocação de Nicolau Sevecenko (2003, p. 29) questionando como pode uma árvore e seus frutos não dependerem "das características do solo, da natureza do clima e das condições ambientais”? Isso nos leva a pensar que a presença da planta revela um processo dialético entre a nova proposta artística dos modernistas e a cultura que buscavam superar. Seriam, portanto, frutos desse contexto em que renascem.

Por último, a capa do programa da Semana de 22 nos lembra como a Natureza é o principal elemento do mundo material no qual se baseiam os símbolos criados pelos humanos, em especial os artistas. Neles podem haver mais significado que as próprias palavras, por isso, nós devemos ter a máxima atenção com a Natureza, lendo aquilo que não está escrito. 

Referência
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão. São Paulo: Cia das Letras, 2003.

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