Por Ana Vieira*
A moda sustentável vem sendo assunto corrente em qualquer roda de discussão sobre moda, ou história da moda, pois é fato que já retiramos do planeta uma quantidade imensa de recursos de todas as ordens, principalmente os não renováveis, logo neste século nossa missão é inventar outras formas de existir.
Então em vários seguimentos vemos movimentos de buscar soluções para esse
esgotamento do planeta, novos combustíveis, novas formas de produzir alimentos,
de construir cidades, utilizar e reaproveitar a água... E porque não outra forma de vestir, já que a
indústria têxtil é uma das mais poluentes.
Segundo o site www.ecycle.com.br a média de gasto com água para tingir e
fabricar uma calça jeans é de 150L, de agua que será contaminada com pigmentos
e metais pesados, o tecido jeans é feito de algodão, uma fibra que segundo
Napoleão Beltrão, pesquisador dessa cultura na EMBRAPA-algodão de Campinas (
Empresa brasileira de pesquisa agropecuária)
além do enorme uso de água e agrotóxico em seu cultivo, causa
esgotamento do solo e doenças nos produtores, sem contar que com a crescente
demanda e decrescente produção logo estaremos reféns do produtor externo.
A produção de algodão é só um dos problemas que a indústria da moda
enfrenta, temos as fibras sintéticas que a cada lavagem desprende micro
plástico nos oceanos, a seda que para ser retirada mata o bicho que produz o
casulo, o cânhamo, uma fibra que enriquece o solo e é usada amplamente na
Europa não pode ser produzida no Brasil por conter canabidiol (alucinógeno
encontrado na maconha) , o linho, fibra natural que foi um sucesso até os anos
80 teve sua fabrica mais forte, a Braspérola fechada ano passado, logo vivemos uma crise da indústria têxtil
que passa por um momento de pouca oferta
de matéria prima, e as que existem em abundancia sacrificam o meio ambiente e
afastam os consumidores minimamente instruídos sobre a crise ambiental.
A descoberta e recente divulgação do uso de trabalho análogo à escravidão
pelas grandes marcas da indústria da indumentária que instalam suas fabricas em países em crise pagando
centavos por uma peça que depois será vendida por centenas de reais na lojas
causaram revolta dos consumidores mais críticos que propuseram boicotes a essas
marcas, como em mostrado no documentário “The true cost, o verdadeiro custo da
moda” disponível nas plataformas Netflix
e Youtube.
Então qual é a peça boa pra vestir, ecologicamente correta?
Peguemos como guias três grandes
cabeças pensante do Brasil sobre moda sustentável, Lilian Pacce, editora de
moda da Vogue Brasil e apresentadora do GNT FASHON, no canal GNT, Fernanda Cortez, do projeto Menos um lixo, e
Chiara Gadaleta, dona de 3 marcas de alta costura sustentável, essas três
mulheres chagaram a seguinte conclusão “ a melhor peça é a peça que já está
pronta” , logo é aquela que não vai mais usar recursos naturais na sua
fabricação.
O brechó é uma opção sustentável e acessível tomando como base diversos
conceitos da moda consciente que veremos abaixo:
1-Usabilidades das
peças: as peças que chegam ao brechó geralmente são de excelente qualidade,
tecidos e materiais que não existem mais, acabamento, modelagem e corte mais
bem elaborados, logo poderão ser usadas por mais tempo.
2- Custo benefício:
para obter esse valor devemos dividir o valor pago pela peça pelo numero de
vezes que vamos utilizar a mesma, para ser um bom custo devemos ter pagado
menos de um real por uso peça, ou seja, uma calça jeans de 100 reais deve poder
ser usada mais de 100 vezes.
3-Exclusividade:
ao contrário das lojas fast fashion , que produzem muitas peças do mesmo modelo
no brechó existem peças únicas.
4- Reutilizar:
roupas de brechó serão usadas por seu segundo ou terceiro dono, que dará um
novo significado e utilização a essas peças retardando seu descarte.
5- Customizar:
comprar uma peça nova e cara às vezes nos impede de rasgar, costurar, bordar e
personalizar essas peças, como o brechó nos oferece baixo custo podemos
reciclar usando toda nossa criatividade, inventando peças mais exclusivas
ainda.
6- Menos resíduos:
comprando em brechós prolongamos a vida útil da peça e evitamos ou adiamos a
sua chagada nos aterros sanitários.
7-Baixo custo: é
muito comum encontrar roupas com marcas renomadas em brechó que provavelmente
tiveram um custo altíssimo na loja por 10% desse valor.
Convencidos? O ultimo ponto importante para salientar antes
da sua primeira ida ao brechó é que existe vários tipo de brechó:
Brechó gourmet: os
proprietários compram as roupas de particulares e existe uma curadoria desse
acervo, esse espaço parece uma butique, as peças estão separadas e limpas,
geralmente vende marcas consagradas e o preço pode ser ou não muito atrativo.
Brechó bagunça: as
roupas não estão limpas, geralmente separadas só por categoria, calças, saias,
camisas... Mas os tamanhos todos misturados, não existe curadoria, mas é o mais
divertido de “garimpar” se não se sofre com alergias e os preços são ótimos.
Bazar: feitos por
igrejas e instituições de caridade servem para angariar fundos apara obras
sociais, as peças são baratas, pois são doadas por pessoas que ajudam essas
instituições, costumam ter dias específicos para acontecer que e são divulgados
de diversas formas, desde uma placa na frente do prédio até em posts nas redes
sociais. A organização varia muito de bazar para bazar, contudo chegue cedo
para pegar as melhores peças.
Feiras de brechó:
eventos que acontecem sazonalmente e juntam vários brechós, e algumas pontas de
estoque de lojas (roupas novas), são organizados, tem muita variedade e os
preços variam muito também.
Brechós vintages: curadoria
muito séria, seu acervo só aceita peças originais com mais de 20 anos de
fabricação, seus curadores são estudiosos de história da moda esses geralmente
tem preço médio, justo para a qualidade e história da peça e são frequentados
por pessoas interessadas em moda vintage, para montar figurinos e fazer
pesquisas para teatro, televisão e fotografia.
Feiras de trocas:
evento sazonal que junta pessoas que levam suas roupas usadas que não querem
mais para trocar entre as outras pessoas que estiverem no evento, este
geralmente é divulgado pelas redes sociais ou acontecem em lugares e dias
definidos. Geralmente sabemos desses eventos por divulgação boa a boca.
Ao contrário do que são comumente pensados os brechós não tem
só roupas velhas ou de “morto” é um mercado crescente, e vantajoso não só pra
quem compra mais, ou para quem vende, é vantajoso para construir uma nova forma
de consumir. Então te convidamos a perder a vergonha, escolher seu tipo de
brechó, pegar sua ecobag e vamos garimpar?
*Ana Vieira é professora de história em Salvaterra - ilha do Marajó - PA, maquiadora e aluna do curso de especialização em Ensino de História na UFPA.
2 comentários:
Excelente texto minha amiga Ana Vieira!!
Pensar o cuidado com natureza em uma perspectiva que interfira em nossos hábitos culturais e posturas cotidianas é sem dúvidas abrir possibilidades de dias melhoresm com pequenas ações!
Parabéns!!!
Parabéns prof. Ana Vieira, pelo texto.
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