domingo, 24 de março de 2013

Fauna misteriosa: a criptozoologia e a verdade do método cientíico

Gravura de uma serpente marinha
Você já ouviu falar em criptozoologia? Pois é, se trata da investigação dos seres de existência incerta ou então o estudo dos animais ocultos. Zoólogos mais puristas desdenham essa prática, que taxam de pseudociência e associam à procura de criaturas folclóricas como o pé-grande ou o chupa-cabra. Mas há quem defenda que é válido investigar esses relatos e que é possível fazer boa ciência sobre animais desconhecidos.

Essa é a proposta do Journal of Cryptozoology, uma nova revista que batalha pelo reconhecimento formal da criptozoologia ao lado de outros ramos da biologia. A publicação inglesa promete adotar o mesmo rigor dos periódicos científicos tradicionais na revisão dos artigos – é a primeira do tipo desde o fechamento da Cryptozoology, em 1996. Seu editor é o britânico Karl Shuker, zoólogo de formação e autor de livros e um blog muito interessante sobre o tema.

Muitos desses estudos revelam a verdadeira identidade de animais fantástico que fazem parte dos primeiros relatos dos viajantes europeus nas terras conquistadas ou vistos durante as travessias. Mas ainda hoje esse animais são avistados em matas e rios do mundo inteiro.
Ilustração de preguiça gigante

O ornitólogo David Oren nasceu nos Estados Unidos, mudou-se para o Brasil em 1977 e trabalhou mais de 25 anos como pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém. Em 1996, tornou-se brasileiro – costuma dizer que é naturalizado paraense. É desde 2009 o coordenador de ecossistemas e biodiversidade do Ministério da Ciência. Ele foi um dos primeiros a se debruçar sobre essa fauna misteriosa.


Oren tem uma hipótese para explicar um dos mais emblemáticos personagens do folclore amazônico: o mapinguari, descrito em muitos relatos como uma criatura gigante e malcheirosa de pelagem avermelhada, que solta urros pavorosos e pode passar de 2 metros de altura.

Numa viagem ao Acre nos anos 90, Oren conheceu um homem que disse ter visto uma fêmea de mapinguari com filhotes e descreveu como eram as fezes do animal, qual era sua comida predileta e outros detalhes de sua biologia. “Eu estava diante de uma pessoa que claramente não estava mentindo”, disse o pesquisador num português sem sotaque. “A luz acendeu: o que esse homem estava descrevendo só podia ser uma preguiça-gigante.”

Oren se referia a um grupo de mamíferos que povoou o continente americano e se extinguiu há cerca de 10 mil anos. Ao contrário das preguiças atuais, que vivem em árvores, eram animais terrestres, alguns maiores até que os elefantes de hoje. Se uma espécie desse grupo tivesse sobrevivido até nossos dias, raciocinou, poderia explicar as aparições do mapinguari.

David Oren

O que Oren trouxe de mais convincente é uma pegada “absolutamente consistente” com a pata traseira de uma preguiça-gigante. A hipótese e a busca foram relatadas em dois artigos publicados em 1993 e 2001.

Oren disse que foi ridicularizado por mais de um colega por sua hipótese, mas não teve sua reputação comprometida. Admitiu que seu estudo “não deixa de ser criptozoologia, no sentido em que tratou de um animal não formalmente revelado ao mundo”. Mas se mostrou reticente quanto à ideia de publicar no Journal of Cryptozoology. “Tem um monte de doido nessa área”, disse ele. “Você não imagina os e-mails que recebo.”

Aqui vemos o problema da verdade no método científico. Também é possível refletirmos sobre a existência de uma fauna desconhecida por nós, tanto por estar intocada quanto por ter sido extinta por diversos motivos. Vale a pena dar uma olha no blog do professor Suker.

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