Aqui vão alguns exemplos: aqueles que estudam a história da ciência, médicos e a psiquiatria, queriam ser, na verdade, médicos, psiquiatras, químicos, etc. Por isso leem uma historiografia mais densa, hard (como gostam de dizer), sabem falar alemão, ou apenas se apresentam de uma forma mais séria, como se fossem prescrever um medicamento, escrevem com a verdade de um laudo ou uma receita médica. Aqueles que pesquisam no campo da história social da arte, a cultura visual, museus, tem uma alma parisiense, tiram fotos do por-do-sol, e queriam ter sido pintores, atores, mecenas e não foram, tem estilo ao se vestir e escrevem como quem grafita, sem deixar que seu trabalho perca a densidade dos argumentos.
Historiadores do esporte queriam ser atletas, técnicos e não foram. Colonialistas queriam ter trabalhado nos gabinetes do conselho ultramarino, para analisarem as remessas, assinarem documentos e não foram. Historiadores da música queriam ter tocado com Luiz Gonzaga, Renato Russo ou mesmo ter sido um deles, e não foram. Historiadores ambientais queriam ter encontrado aquela espécie desconhecida, ter salvado outras da extinção, e não foram. E que fique bem claro, não há nenhum problema em não sido isso.
O post de hoje era pra falar que eu assisti o filme "As aventuras de Kon Tiki" e além da sua relação com as discussões de história e natureza, me fizeram pensar ainda mais sobre essa teoria do "porque sou historiador?".
Uma dos pontos que queria destacar é que o questionamento de Thor não foi bem vindo pelos professores doutores. Ainda hoje, alguns intelectuais sacralizam determinados autores, tornando dogmas algumas perspectivas dentro da academia. Frases como "os sábios nem sempre tem razão" e "que a comissão científica vá pro inferno", nos ajudam a repensar algumas coisas da caminhada da pesquisa.
Outro ponto que me chamou atenção foi como o diretor apresenta o protagonista inserido politicamente na sociedade, algo importante para ser destacado em nossos trabalhos. Thor percebe que a experiência do lugar, vivenciar a concretude das coisas é algo enriquecedor para a pesquisa, portanto, concordo que deveríamos fazer um esforço para visitar, caso não seja possível passar mais tempo, o lugar que pesquisamos.
Há no filme a possibilidade de pensarmos sobre como animais e plantas chegaram em continentes estranhos aos de sua origem. Pensar como os personagens precisam ser analisados considerando suas emoções e sentimos, por mais que os documentos não garantam profundidade nessa percepção. E como o mundo não humano concede a experiência do imponderável. e por fim, como a água tem uma importância fundamental ao longo do tempo e foi considerada como caminho e fronteira na história da Terra.
Recomendo o filme pelas muitas coisas que ele suscita, especialmente se você é pesquisador. Talvez meu entusiasmo pelo filme seja tão somente por falar de viagens de exploradores. Ou porque me fez ver que eu queria ser um desses exploradores, embarcados em navios, que tinham como endereço os portos do mundo, e não sou. Daí minha pesquisa sobre os comissários demarcadores de limites? Segundo minha teoria, sim. E você, o que queria ser e não é? Ainda dá tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário